terça-feira, janeiro 12, 2021
O INSETO DO AMOR
Estou passando por uns problemas de ansiedade nesses dias e isso tem atrapalhado e muito minha concentração. Espero que seja algo passageiro, que eu consiga me organizar melhor esses dias, pois a sensação que dá é bem ruim. Como eu gosto muito de atualizar este blog, fico triste quando passam-se vários dias e não escrevo nada para o espaço. E até que tenho visto bastante coisa nessas férias. E o filme que escolhi para falar a respeito hoje nem foi o melhor visto recentemente, mas o que mais me deu vontade de escrever sobre.
O INSETO DO AMOR (1980), de Fauzi Mansur, foi uma ótima surpresa vista na semana passada. Não imaginei que fosse tão divertido e também tão tesudo no quesito erotismo. Ou seja, é um filme que pode ser categorizado como uma pornochanchada sem problema nenhum. E é também um exemplar típico do filme erótico do início dos anos 1980, quando começou a haver um movimento para um maior grafismo nas cenas de nudez e sexo. Na verdade, foi uma evolução natural do que já vinha acontecendo nas duas décadas anteriores.
Para alguns diretores isso significou um tipo de decadência, outros já conseguiram surfar na onda sem problema nenhum. Walter Hugo Khouri é um exemplo. Já Fauzi talvez tenha caído, já que suas melhores obras talvez estejam nos anos 1970, casos de A NOITE DO DESEJO (1973) e de SEDUÇÃO (1974) - este segundo eu não vi, mas é bastante celebrado entre vários amigos cinéfilos.
Mansur foi um cineasta que não se importou em adentrar de cabeça no território do sexo, a ponto de ir para o sexo explícito (usando pseudônimos) quando o subgênero tomou conta da Boca do Lixo. Ele também chegou a experimentar o gênero terror com intenções de exportação, nos anos 1980 e 90, com filmes como KARMA - ENIGMA DO MEDO (1984), ATRAÇÃO SATÂNICA (1989) e RITUAL MACABRO (1990).
Quanto a O INSETO DO AMOR, sua história começa com um cientista (Carlos Kurt, bastante conhecido dos filmes e do programa dos Trapalhões) descobrindo na Amazônia uma espécie rara de mosquito que, quando pica a pessoa, faz com que ela sinta a necessidade urgente de transar com alguém o mais rápido possível. Detalhe 1: a pessoa não pode se aliviar sozinha. Detalhe 2: se ela não resolver o problema em um intervalo de duas horas, ela morrerá do coração.
Na época ainda não havia remédios como Viagra e similares. Portanto, quando a notícia de que o cientista estava trazendo esses insetos para a ilha se espalhou, muitos quiseram aproveitar a chance. Havia um homem com problemas de ereção que trouxe a companheira, mas havia também aqueles que não necessariamente precisavam de um remédio, mas que queriam dar um gás na libido e na performance.
Quanto às atrizes de O INSETO DO AMOR, é uma alegria só. Principalmente Helena Ramos e Angelina Muniz, ainda que haja sim outras beldades em cenas memoráveis. Mas destaquemos essas duas, que considero as principais.
Helena Ramos está adorável e com um timing cômico maravilhoso. A expressão de seu rosto quando, depois de ficar nua para o marido (John Herbert), o sujeito resolve negar fogo e ir embora, é impagável. Ela olha para a câmera, quebrando a quarta parede, como um personagem de um desenho da Warner. Sua personagem fica querendo muito o marido (John Herbert), mas o cara era tão desligado que nem parecia se importar com a notícia envolvendo o mosquito.
Já Angelina Muniz está muito à vontade com o papel - talvez tenha sido um ensaio para que ela se sentisse tão capaz de deixar os homens de queixo caído em dois filmes brilhantes que ela faria com Jean Garrett, KARINA, OBJETO DO PRAZER (1982) e TCHAU, AMOR (1982), isso, enquanto fazia sucesso nas telenovelas da Rede Globo. Ela interpreta uma repórter que disputa um furo de notícia com o personagem de Arlindo Barreto. Inclusive, há uma cena que parece saída de fantasia sexual, em que ela faz com que o sujeito fique sem as roupas no meio da praia.
As piadas envolvendo sexo sem consentimento hoje fariam muito barulho, mas o registro aqui é de comédia típica dos anos 1970/80, de certa forma bastante ingênuas, já que lidam com gags e se passam em um universo fantasioso, parecido com o de animações, apresentações circenses de bairro ou piadas vulgares. Por isso, problematizar um filme como esses pode ser bobagem.
Filmes como esse, e outros trabalhos de Fauzi Mansur, são como se os impulsos do id não fossem regulados pelo ego e do superego. Ou seja, não deixa de ser um baita estudo sobre as taras e os desejos mais íntimos e proibidos das pessoas, ainda que neste filme em si sejam apresentados de maneira muito mais leve do que, por exemplo, o polêmico PROMISCUIDADE - OS PIVETES DE KÁTIA (1984), que vai muito longe, especialmente para os padrões de hoje. Na época da realização desse filme não havia essa consciência de que certas ações podem ser prejudiciais para crianças se realizadas muito cedo em suas vidas.
É uma pena que existam poucas críticas sobre O INSETO DO AMOR na internet. Procurei por críticas e por entrevistas de Mansur a respeito, mas a fortuna crítica sobre o filme é muito pequena. Pode ser que tenha a ver com o fato de não ser uma obra de importância tão grande do ponto de vista político, de ser uma diversão bem escapista, ainda que possa ser estudado como um documento da época, do comportamento de uma sociedade cheia de energia sexual para dar e vender.
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