quinta-feira, setembro 24, 2020

ME CHAMA QUE EU VOU



Ando com a cabeça um tanto confusa com a quantidade de coisas que tenho para dar conta nestes últimos dez dias de setembro, que ainda seguem pra mim com o mesmo tom do início do mês. Na dúvida entre o que fazer, quis dar uma uma respirada falando um pouco sobre um dos filmes vistos durante o 48º Festival de Gramado, que neste ano tão singular está com a programação sendo exibida no Canal Brasil. Se por um lado, é ótimo poder alcançar pessoas de todo o país que tenham o canal em seu pacote de assinatura, por outro, tivemos alguns problemas técnicos na exibição de alguns longas, especialmente no que se refere ao áudio, já que muitos desses filmes foram pensados para ser vistos no cinema. Foi principalmente o que aconteceu com o filme de Caetano Gotardo e Marco Dutra, TODOS OS MORTOS, talvez o mais prejudicado.

Mas felizmente o documentário sobre a vida e a obra de Sidney Magal, ME CHAMA QUE EU VOU (2020), de Joana Mariani, não sofreu tanto assim e pôde ser visto com muito prazer na telinha. Ainda assim, terei muito prazer em rever no cinema, já que a força da música na telona é imensamente superior. De todo modo, me arrepiei em muitos momentos com este filme que carrega muito da essência do próprio Magal, esse homem que tem a intensidade e a paixão como palavras-chaves em sua personalidade.

Quando criança, eu costumava me balançar na rede com imensa alegria, junto com minha irmã, enquanto escutávamos na vitrola o disco de estreia do cantor, que leva apenas o seu nome, de 1977. Meu pai tinha por hábito comprar discos de vários cantores de música popular. Tanto da velha guarda (Nelson Gonçalves, Núbia Lafayette) quanto dos mais recentes (por recente, refiro-me à década de 1970, como Benito Di Paula e o próprio Magal). Então, creio que ele, por tabela, exerceu certa influência em meus gostos musicais.

O primeiro álbum de Sidney Magal é o que tem sua canção mais querida, "Meu sangue ferve por você", mas também traz "Amante latino" e a polêmica "Se te agarro com outro te mato". Outro grande hit desta primeira fase, "Sandra Rosa Madalena, a Cigana", só apareceria no disco seguinte, Magal (1978). Esse eu não tinha em casa, mas a canção também é dessas que dominaram o inconsciente coletivo e já no começo tem aquele arranjo que traz uma cozinha animadora seguida de metais inspirados. Naquela época havia um cuidado com os arranjos impressionante.

No entanto, o sucesso de Magal foi minguando depois desse início e o documentário de Joana Mariani aborda tanto esse sucesso meteórico quanto o começo de um período longo de fracassos nas vendas e na popularidade do cantor, embora ele nunca tenha deixado de ser reconhecido. Mas como Sidney Magal, ou Magalhães, como gosta de ser diferenciado quando não encarna o artista, não é apenas o artista, mas também o homem apaixonado, muitas de suas histórias pessoais emocionam.

Há o caso do encontro com sua futura esposa e do quanto ele teve a certeza de que aquela moça tão mais jovem do que ele seria a mãe de seus filhos. Magal conta tudo isso com muita emoção. Chora ao lembrar de momentos especialmente felizes de sua vida, como quando teve uma de suas canções aceitas para a abertura da telenovela RAINHA DA SUCATA, já do começo dos anos 1990, quando ele estava no ostracismo, mas que conseguiu surfar na onda da lambada com "Me chama que eu vou". E há a relação afetiva muito forte com a família que também ajuda a tornar a figura do personagem ainda mais querida em nossos corações e a torcer pelo seu sucesso.

As imagens de arquivo de diversos programas de televisão, tanto de apresentações quanto de entrevistas, são outro acerto do documentário. Não gostei tanto assim das cenas com Magal cantando ao piano, mas acredito que são bonitas e válidas mesmo assim. Até ajudam a enriquecer o documentário, já que ele costuma dedicar as canções geralmente à sua esposa.

Não sei quando o filme será lançado comercialmente, se ganhará as telas de cinema. Mas caso ganhem, já vou querer rever no cinema, com certeza. Imagina ouvir suas canções em som dolby?! Hein!?

Nenhum comentário: