4 BILHÕES DE INFINITOS
O filme que abriu o singular Festival de Gramado desde 2020 louco foi este simpático conto sobre duas crianças que conversam sobre suas aspirações para o futuro enquanto a casa está com a energia cortada. Há algo de bonito no "sequestro do cinema" pelo menino, que valoriza a imagem projetada. Como os meninos são amadores, há aquele problema de às vezes não se entender tão perfeitamente os diálogos, mas o encanto das crianças compensa. Assim como a escolha do poético título. Direção: Marco Antônio Pereira.
RECEITA DE CARANGUEJO
Um conto de amadurecimento de uma jovem que mora com a mãe e a ida das duas a uma praia do litoral paulista para relaxar e comer caranguejo. Pequenos detalhes contam bastante, como as diferenças generacionais, o carinho na relação, o aprendizado na hora de aprender a preparar um caranguejo (no que há de perverso em botar os bichos na panela quente), e a naturalidade nas curtas e breves conversas entre mãe e filha. Direção: Issis Valenzuela.
INABITÁVEL
Muito interessante o trabalho desta dupla de cineastas pernambucanos. Depois do ótimo CARANGUEJO REI (2019), eles se superam e continuam no território do cinema fantástico em uma história envolvendo o desaparecimento de uma garota trans e um estranho objeto encontrado no quarto dela. O filme se destaca tanto na forma quanto na narrativa, prazerosa de acompanhar, e sempre intrigante. Falar mais a respeito pode estragar a apreciação de quem ainda não viu. Ainda estou pensando sobre o final, mas sua beleza que me pregou de surpresa. Direção: Matheus Farias e Enock Carvalho.
SUBSOLO
A animação de Otto Guerra já é conhecida dos brasileiros. O que diferencia neste curta é a trama, que, ao que parece, pertence mais à codiretora, Erica Maradona. É (talvez) uma espécie de crítica à cultura do emagrecimento nas academias e às frustrações que geralmente acontecem. A ideia é muito boa e o jeito como os personagens, especialmente dentro das academias, se comportam, é bem divertido. Direção: Erica Maradona e Otto Guerra.
ATORDOADO, EU PERMANEÇO ATENTO
Um soco no estômago este curta de estrutura simples sobre a história de um homem e de sua família que sofreram com a ditadura e que carregam até hoje as sequelas. Todo narrado pelo jornalista Dermi Azevedo com uma saúde bem frágil, agravada pelo Parkinson, o filme traz imagens dos tempos dos anos de chumbo, mas também são feitas observações diretas ao presente obscuro em que nos encontramos. Direção: Henrique Amud e Lucas H. Rossi dos Santos.
BLACKOUT
Tenho um pouco de dificuldade em absorver os filmes de ficção científica com forte influência do ciberpunk produzidos no Brasil. No caso deste aqui, é interessante o posicionamento político rebelde e o visual futurista, mas não consegui adentrar sua trama, até porque boa parte do filme se passa basicamente na sala de interrogatório, que é quando a narrativa se torna menos interessante. Direção: Rossandra Leone.
WANDER VI
Um curta bem simples, mas bem cheio de carinho sobre a vida e os sonhos de um talentoso cantor nascido em Ceilândia e que almeja fama e reconhecimento nacional. Fiquei imaginando o sucesso dele no futuro e no quanto este curta se tornaria um documento importante sobre a pré-história de um grande artista. Ou pode ser apenas mais uma história de alguém que não conseguiu obter o sonho almejado. De uma forma ou de outra, o filme é gostoso de ver. Direção: Augusto Borges e Nathalya Brum.
EXTRATOS
Imagens de Helena Ignez filmadas pelo marido Rogerio Sganzerla e remontados pela filha Sinai. Não apenas imagens. A voz dela também. Falando coisas muito pertinentes até para o momento em que vivemos, sobre a perseguição aos artistas. E aí Sinai seleciona as imagens muito delicadamente e põe uma trilha sonora também belíssima. Parece um trabalho despojado, mas quando terminou deu vontade de ver de novo. Direção: Sinai Sganzerla.
DOMINIQUE
O filme nem tem tanta novidade assim (teria, talvez, se se apoiasse na história singular da família de Dominique, que têm outras duas irmãs também transexuais). Aqui há o retrato da personagem, de suas escolhas de vida até onde o destino permitiu (já que, como falou para a mãe, não tem culpa de ter nascido gay). De todo modo, como é um filme bem realizado e que usa muito bem o áudio da personagem ao longo de seus passeios pelo Pará, é mais do que bem-vindo, ainda mais em tempos de transfobia e ataques intensos aos grupos LGBTQ por parte da extrema direita. Direção: Tatiana Issa e Guto Barra.
JOÃOSINHO DA GOMÉA - O REI DO CANDOMBLÉ
Documentário experimental que usa áudio original de seu personagem, um homem respeitado por pessoas da religião de matriz africana, mas também bastante polêmico nos anos 1950. Há um ator/performer que interpreta uma versão do personagem, utilização de adereços, uma cena em uma feira de frutas etc. Talvez seja um filme que funcione mais para quem tem um pouco mais de intimidade com o personagem e com a umbanda, já que não tem nada de didático. Direção: Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra.
REMOINHO
Este curta é tão breve que talvez seja preciso rever para captar aquilo que não foi visto da primeira vez. Gosto da natureza melancólica do filme, que conta a história de uma mulher que deixa (muito provavelmente) o marido na cidade e volta para a cidade do interior onde mora sua mãe. As cenas da protagonista em contato com a natureza e em busca de paz são boas. Pena que são rápidas, não sendo possível entrar no espírito em tão rápido espaço de tempo. Direção: Tiago A. Neves.
VOCÊ TEM OLHOS TRISTES
Dos curtas exibidos em Gramado, este é um dos mais atraentes do ponto de vista narrativo. Além do mais, conta com a presença de dois gigantes do cinema brasileiro em participações especiais: Gilda Nomacce (incrível esta mulher!) e Jean-Claude Bernadet. Mas a história é sobre um rapaz que trabalha com aplicativo de entrega e sobre percalços em sua vida social, em especial quando vai visitar a família da namorada. Direção: Diogo Leite.
TRINCHEIRA
Trazer a imaginação da infância para a magia do cinema é algo que muitos cineastas americanos que tinham dinheiro puderam fazer. Ver isto se materializar em um curta feito com baixo orçamento e muita inventividade é admirável. E no começo eu até que não estava com muita boa vontade para o filme. Depois ele foi me ganhando com as imagens até chegar a seu final surpreendente. E o garoto sendo o único ator de verdade do filme é ótimo. Direção: Paulo Silver.
O BARCO E O RIO
Talvez o segundo melhor curta-metragem do festival, perdendo só para INABITÁVEL. Filmado no Amazonas, há um frescor e um diferencial no ambiente muito bem-vindo. É bem cuidado desde a primeira cena, tanto na iluminação de dentro do barco (meio fordiana) quanto nas interpretações mais naturalistas. A cena que mostra a mãe e a filha pela última vez é um desses momentos mágicos do cinema. Depois disso o filme não consegue chegar tão perto da beleza que conseguiu nesse momento em especial, mas termina de forma poética. Direção: Bernardo Ale Abinader.
WANDER VI
Um curta bem simples, mas bem cheio de carinho sobre a vida e os sonhos de um talentoso cantor nascido em Ceilândia e que almeja fama e reconhecimento nacional. Fiquei imaginando o sucesso dele no futuro e no quanto este curta se tornaria um documento importante sobre a pré-história de um grande artista. Ou pode ser apenas mais uma história de alguém que não conseguiu obter o sonho almejado. De uma forma ou de outra, o filme é gostoso de ver. Direção: Augusto Borges e Nathalya Brum.
EXTRATOS
Imagens de Helena Ignez filmadas pelo marido Rogerio Sganzerla e remontados pela filha Sinai. Não apenas imagens. A voz dela também. Falando coisas muito pertinentes até para o momento em que vivemos, sobre a perseguição aos artistas. E aí Sinai seleciona as imagens muito delicadamente e põe uma trilha sonora também belíssima. Parece um trabalho despojado, mas quando terminou deu vontade de ver de novo. Direção: Sinai Sganzerla.
DOMINIQUE
O filme nem tem tanta novidade assim (teria, talvez, se se apoiasse na história singular da família de Dominique, que têm outras duas irmãs também transexuais). Aqui há o retrato da personagem, de suas escolhas de vida até onde o destino permitiu (já que, como falou para a mãe, não tem culpa de ter nascido gay). De todo modo, como é um filme bem realizado e que usa muito bem o áudio da personagem ao longo de seus passeios pelo Pará, é mais do que bem-vindo, ainda mais em tempos de transfobia e ataques intensos aos grupos LGBTQ por parte da extrema direita. Direção: Tatiana Issa e Guto Barra.
JOÃOSINHO DA GOMÉA - O REI DO CANDOMBLÉ
Documentário experimental que usa áudio original de seu personagem, um homem respeitado por pessoas da religião de matriz africana, mas também bastante polêmico nos anos 1950. Há um ator/performer que interpreta uma versão do personagem, utilização de adereços, uma cena em uma feira de frutas etc. Talvez seja um filme que funcione mais para quem tem um pouco mais de intimidade com o personagem e com a umbanda, já que não tem nada de didático. Direção: Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra.
REMOINHO
Este curta é tão breve que talvez seja preciso rever para captar aquilo que não foi visto da primeira vez. Gosto da natureza melancólica do filme, que conta a história de uma mulher que deixa (muito provavelmente) o marido na cidade e volta para a cidade do interior onde mora sua mãe. As cenas da protagonista em contato com a natureza e em busca de paz são boas. Pena que são rápidas, não sendo possível entrar no espírito em tão rápido espaço de tempo. Direção: Tiago A. Neves.
VOCÊ TEM OLHOS TRISTES
Dos curtas exibidos em Gramado, este é um dos mais atraentes do ponto de vista narrativo. Além do mais, conta com a presença de dois gigantes do cinema brasileiro em participações especiais: Gilda Nomacce (incrível esta mulher!) e Jean-Claude Bernadet. Mas a história é sobre um rapaz que trabalha com aplicativo de entrega e sobre percalços em sua vida social, em especial quando vai visitar a família da namorada. Direção: Diogo Leite.
TRINCHEIRA
Trazer a imaginação da infância para a magia do cinema é algo que muitos cineastas americanos que tinham dinheiro puderam fazer. Ver isto se materializar em um curta feito com baixo orçamento e muita inventividade é admirável. E no começo eu até que não estava com muita boa vontade para o filme. Depois ele foi me ganhando com as imagens até chegar a seu final surpreendente. E o garoto sendo o único ator de verdade do filme é ótimo. Direção: Paulo Silver.
O BARCO E O RIO
Talvez o segundo melhor curta-metragem do festival, perdendo só para INABITÁVEL. Filmado no Amazonas, há um frescor e um diferencial no ambiente muito bem-vindo. É bem cuidado desde a primeira cena, tanto na iluminação de dentro do barco (meio fordiana) quanto nas interpretações mais naturalistas. A cena que mostra a mãe e a filha pela última vez é um desses momentos mágicos do cinema. Depois disso o filme não consegue chegar tão perto da beleza que conseguiu nesse momento em especial, mas termina de forma poética. Direção: Bernardo Ale Abinader.
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