Certo dia, conversando com um amigo sobre tal filme que ele deveria ver, ele fala que ultimamente não é ele quem está indo em busca dos filmes, mas os filmes que vão até ele. Algo do tipo. E, de fato, é mais ou menos assim que as coisas acontecem em boa parte das vezes. Recentemente li o livro Candyman, de Clive Barker, lançado pela editora Darkside. Trata-se de uma reedição do conto "O Proibido", já lançado no Brasil na coleção Livros de Sangue. Aqui, no entanto, o importante é dar destaque justamente a este personagem de Barker que se tornou um ícone do horror, especialmente no cinema. Como o livro conta com um posfácio do crítico e pesquisador do cinema de horror Carlos Primati, e que fala bastante do filme e de suas continuações, a vontade de rever O MISTÉRIO DE CANDYMAN (1992) foi irresistível. Ainda bem que é um filme fácil de encontrar por aí.
Na minha lembrança, na época em que o vi em VHS, ele não tinha me deixado muito impressionado. Na verdade, o personagem-título em si, é um tanto fantasioso para se comprar. Mas hoje em dia, e depois de ter lido o conto, é que percebo o quanto esse seu aspecto é justamente um de seus trunfos. Afinal, no início da década de 1990, o cinema ainda se curvava a Clive Barker pela sua obra-prima HELLRAISER - RENASCIDO DO INFERNO.
Claro que não é só o personagem que conta. É o modo como o filme é contado e como o trabalho de Bernard Rose aqui envelheceu bem. Quem também se destaca em O MISTÉRIO DE CANDYMAN é a bela Virginia Madsen, que aqui lembra as loiras platinadas dos anos de ouro de Hollywood. Em uma das cenas finais, a fotografia fica um tanto fora de nitidez, passando a imagem de filme antigo em um close-up da atriz.
Na trama, Madsen é Helen Lyle, uma estudante universitária que está escrevendo uma tese sobre lendas urbanas. Acaba conhecendo a história de Candyman, um sujeito que, com um gancho no lugar da mão, aparece para matar quem fala seu nome no espelho cinco vezes. A ideia nem é nova e não consta no conto de Barker (essa parte do espelho), mas foi muito inteligente incluir no filme para a ampliação da mitologia do personagem.
A primeira parte da trama mostra Helen e sua amiga Bernadette (Kasi Lemmons) investigando em um gueto um tanto perigoso para brancos ricos os locais onde supostamente ocorreram os assassinatos cometidos por Candyman. O lugar que elas pesquisam é cheio de pichações e bastante abandonado, mas é lá que Helen encontrará uma mulher que será muito importante para o que virá a seguir.
A composição do monstro é muito boa, assim como sua personificação, pelo ator Tony Todd, um dos primeiros atores negros a entrar em uma galeria de monstros do cinema de horror. Algumas cenas são bem memoráveis, como a sequência do banheiro, os encontros iniciais com Candyman, e as cenas no hospital psiquiátrico. Uma delas é bem surpreendente, inclusive.
Recentemente surgiu uma notícia de que Jordan Peele está produzindo uma nova versão da história. Sendo de Peele, ainda que não seja dirigido por ele, é bem-vindo. É esperar para ver se o sucesso do monstro se perpetuará nesta encarnação futura.
+ TRÊS FILMES
ANNABELLE 3 - DE VOLTA PARA CASA (Annabelle Comes Home)
Embora seja inferior aos dois primeiros filmes em diversos aspectos, como domínio narrativo, por exemplo, este filme tem o seu charme, tanto pela boa recriação de época quanto pelo fato de se passar quase que inteiramente na residência dos Warrens, com um trio de meninas que protagonizam a trama. Destaque para a jovem Madison Iseman, que tem potencial para fazer sucesso em outros filmes futuros. Gosto em especial da cena do reflexo na televisão. Direção: Gary Dauberman. Ano: 2019.
A MALDIÇÃO DA CHORONA (The Curse of La Llorona)
Em comparação com A FREIRA, este A MALDIÇÃO DA CHORONA é uma pequena obra-prima. Há elegância nos planos, na ambientação da época (anos 70), no modo como ele utiliza recursos manjados de maneira interessante. Mas não há nada de novo e a trama é tão fraca que parece que não teve um final efetivamente pensado. É mais a coisa "vamos fazer um filme sobre a lenda da Chorona" e pronto. A atriz principal, Linda Cardellini, é bem carismática. Curiosamente, ela fez a Velma no filme do Scooby-doo, que aparece na televisão em uma breve cena. De todo modo, é bom o James Wan parar com esses derivativos. Ele já se queimou bastante. Direção: Michael Chaves. Ano: 2019.
SUSPÍRIA - A DANÇA DO MEDO (Suspiria)
Não deixa de dar uma ponta de decepção com esse novo SUSPIRIA. Ainda assim, há algumas ousadias boas, Dakota Johnson está ótima e pra quem gosta de dança moderna o filme oferece muitas cenas. Agora faltou o principal: atmosfera de filme de terror. O diretor Luca Guadagnino tem uma sensibilidade muito boa para dramas românticos, mas aqui o máximo que conseguiu de horror foi um gore bonito e uma direção de arte que remete ao horror italiano dos anos 70. Não entendi a necessidade de contextualizar historicamente a trama, que acaba não tendo muita utilidade final. A personagem de que eu mais gostei foi Sara, vivida por Mia Goth. Talvez por ser a que mais se aproxima do espectador. A atriz está em A CURA, que eu não vi, e em um papel pequeno de NINFOMANÍACA - VOLUME 2. Ano: 2018.
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