quarta-feira, abril 24, 2019

21 CURTAS BRASILEIROS


CARAMUJO-FLOR

Para se ver cinema-poesia é preciso estar em um estado de espírito bem apropriado. Acho que estava um pouco quando vi OLHO NU (2014), do Pizzini, longa-metragem que contou com Ney Matogrosso. Na época do longa, muito se falava deste curta, também com o Ney, mas com uma proposta totalmente distinta. Confesso que nem sei dizer sobre o que é o filme, mas gosto da força das imagens, tanto as primeiras, focadas na cidade grande, quanto as da natureza e dos corpos humanos e animais. Direção: Joel Pizzini. Ano: 1998.

CHÁ VERDE E ARROZ

Belo filme sobre exibidores japoneses de cinema itinerante no interior paulista. Quase todo falado em japonês, o filme se passa nos anos 50 e conta a história de um ex-benshi (narrador de filmes mudos) que agora tem a missão de exibir filmes japoneses para comunidades. O personagem do menino lembra um pouco o de CINEMA PARADISO, mas as condições aqui são mais precárias. Direção: Olga Futemma. Ano: 1989.

BREVÍSSIMA HISTÓRIA DAS GENTES DE SANTOS

Época ainda em que os curtas brasileiros faziam sucesso lá fora, mesmo quando a retomada ainda estava iniciando. Havia também esse tipo de filme bem-humorado um pouco herdeiro da TV PIRATA, que brinca de maneira inteligente com o documentário para contar uma longa história da cidade de Santos desde a colonização até a redemocratização. Ney Latorraca aparece como diversos personagens. Direção: André Klotzel. Ano: 1996.

EL MACHO

Admirável animação que aborda a libido masculina frente a uma mulher com uma voluptuosidade digna de Druuna, mas ainda mais acentuada pelos exageros cartunescos. Ainda assim, o filme, ao mesmo tempo que tira onda do desejo masculino, também namora a moça no elevador, passando por baixo de seu vestido e acentuando os faróis acesos. Não conhecia e fiquei admirado. Só não gosto tanto da segunda metade, centrada na possessividade. Direção: Ennio Torresan. Ano: 1993.

BRASIL PITORESCO: VIAGENS DE CORNÉLIO PIRES

Um filme que requer olhares curiosos sobre o Brasil dos anos 1920 e sobre o que há de registrado desse país em filme. Este é um filme de uma viagem do diretor à Bahia, passando primeiro por Salvador e depois adentrando outras cidades, com aspecto mais "exótico". Brigas de galos, pessoas subindo no coqueiro, a pesca etc. Curiosamente o final não tem cara de final. Ou então se perdeu no meio do caminho. Direção: Cornélio Pires. Ano: 1925.

DEUS É PAI 

Curta bastante anárquico sobre uma DR entre Deus e Jesus em um consultório de psicanálise. O diretor faz questão de deixar sua técnica de animação tão anárquica quanto as palavras do rebelde Jesus, que tem ressentimento do pai, que por sua vez lamenta certos atos do filho. Queria ter achado mais graça. Talvez depois de 20 anos a heresia tenha deixado de ser tão forte. Direção: Allan Sieber. Ano: 1999.

O ATAQUE DAS ARARAS 

O filme tem um clima anárquico e aparentemente descompromissado que parece não ter muito interesse em contar em detalhes sobre a viagem de Jairo Ferreira, acompanhando um grupo de teatro. Mesmo com a narração divertida de Carlos Reichenbach, a impressão que fica é que o grupo ali formado é do pessoal da Boca, já que são eles os citados. Gostaria de saber mais detalhes dos bastidores deste curta. Direção: Jairo Ferreira. Ano: 1975.

CANTOS DE TRABALHO

Além da ideia ser muito boa (selecionar cantos de trabalho de diferentes tipos de labuta e mostrar homens e mulheres trabalhando), as imagens de Humberto Mauro são sempre certeiras e poéticas, com uma montagem brilhante. Com o distanciamento temporal, é fácil achar tudo muito estranho: aquelas canções, as imagens etc, mas isso é normal. As canções já eram velhas em 1955. Leon Hirszman fez algo parecido posteriormente. Ano: 1955.

CARRO DE BOIS 

Filmaço este último trabalho de Humberto Mauro e o único colorido de sua carreira. Com narração linda de Hugo Carvana, o filme tem um tom de poesia dolorida. O próprio som do carro de bois já é um lamento em si, e ver aqueles animais passando pelos mais diversos obstáculos para fazerem aquele trabalho não é tão fácil. Em meio à dor, a poesia, a beleza tanto do trabalho quanto da inteligência do homem em saber lidar com aquilo que lhe é possível ter e fazer. Em algum momento, o filme tenta ser um tanto didático, mas só em algum momento. Em sua maior parte é poesia pura. Tanto em imagens quanto na palavra narrada. Ano: 1974.

HANDEBOL 

Pra quem viu e gostou de MATE-ME POR FAVOR vai gostar bastante de voltar ao universo escolar e juvenil de meninas tão atraentes quanto enigmáticas, tão violentas quanto doces. A primeira cena remete a Crepúsculo e achei que fosse entrar como uma versão melhorada do blockbuster, mas o filme nega isso e vai por um outro caminho, nunca deixando de ser intrigante. As imagens são lindas. Baita realizadora a Anitta. Direção: Anitta Rocha da Silveira. Ano: 2010. 

DOV'È MENEGHETTI? 

Passei muito tempo para finalmente ver este curta, que já era famoso antes mesmo de Beto Brant se tornar o cineasta prestigiado que se tornou. Hoje é um dos meus preferidos realizadores em atividade. Aqui ele faz um filme quase todo falado em italiano sobre um ladrão difícil de ser capturado pela polícia e que tem muita intimidade com os telhados. As cenas dos telhados com as imagens ao fundo são admiráveis do ponto de vista formal. Mas o filme não me empolgou, não. Fodas mesmo são os longas do Brant. Ano: 1988.

DI 

Impressionante como fiquei incomodado com o grau de irreverência com que Glauber Rocha se utiliza do velório do pintor Di Cavalcanti pra fazer seu filme. Tudo bem que não deixa de ser uma homenagem e espantar a tristeza pode ser uma ótima pedida, mas ainda assim a sobreposição de músicas com a narração em voice-over do próprio Glauber, com aquele jeito todo próprio de falar, como se estivesse vendendo mais uma vez o projeto do Cinema Novo, tudo é um bocado estranho. Como estranheza é algo bem-vindo no cinema, e Di é desses filmes cultuados, é obra imperdível sim. Eu é que tenho cisma com o diretor. Ano: 1977.

CARTÃO VERMELHO 

Havia esquecido que já tinha visto este filme. Não achei tão marcante, ainda mais que me incomoda no começo a menina ficar chutando bola nas bolas dos meninos. Mas isso tem uma razão de ser no conto, embora eu também ache questionável a conclusão, por mais que tenha sido pensado por uma mulher. Dá impressão que hoje a atitude de revanche dos meninos seria vista como quase um estupro, e extremamente traumatizante para a protagonista. Mas isso pode ser sinal de que o curta ainda segue forte. Direção: Laís Bodanzky. Ano: 1994.

CHAPELEIROS 

A princípio pode parecer um filme tedioso sobre operários trabalhando em uma fábrica de chapéus em Campinas-SP. E não há nenhum diálogo, apenas imagens do trabalho desses homens e dessas mulheres. Mas é preciso que a câmera insista nas imagens, inclusive na cena da saída da fábrica, para que finalmente possamos perceber o quanto é desumana a rotina de trabalho dessas pessoas. E isso faz com que o filme cresça muito na memória. Direção: Adrian Cooper. Ano: 1983.

O BANDO DOS TANGARÁS 

Eis um filme que vale mais pelo valor histórico, por ser a única imagem em movimento com Noel Rosa, e também por ter usado técnicas mais antigas de sincronização que as de O CANTOR DE JAZZ. A lata com o negativo foi descoberta em 1992 e o clipe foi restaurado. A música é "Vamo fallá do Norte" e Rosa fez parte do grupo por cerca de dois anos. Direção: Paulo Benedetti. Ano: 1930. 

DIAS DE GREVE 

Confesso que gostei mais deste curta do que dos longas seguintes de Adirley, embora reconheça que ele foi se tornando mais sofisticando e se mostrando cada vez mais preocupado com as desigualdades sociais. Não sei se por ser mais compacto, mais aqui Adirley consegue passar o sentimento de impotência do trabalhador diante do patrão, mesmo quando ele se vê no direito de fazer uma greve. A cena do desfile da escola de samba é bem representativa da realidade brasileira; do quanto o pobre tem aquele momento de alegria junto com o rico, mas fica que não fica muito além disso. Direção: Adirley Queirós. Ano: 2009.

BOCA ABERTA 

Muito boa a discussão que o filme traz sobre o cinema brasileiro que insistia em sobreviver em tempos de crise. Na época, foi com o advento do sexo explícito na Boca do Lixo. E por isso há dentre os quatro cineastas presentes um que defende o sexo explícito, Ody Fraga. Quem se manifesta mais saudoso da época de seu sucesso como realizador de bangue-bangues é Alex Prado, que apresenta para um pequeno público um de seus filmes. Ozualdo Candeias e Tony Vieira também entram na ótima discussão, que hoje em dia muda um pouco, mas o cinema continua em crise. Direção: Rubens Xavier. Ano: 1985.

CAROLINA 

Breve e contundente filme sobre Carolina de Jesus, a primeira (creio eu) escritora negra com obra publicada no Brasil. Vivendo na favela e com dificuldades imensas de manter a si e a filha pequena, ela consegue ainda assim esse feito. Os trechos da obra Quarto de Despecho são fortes, assim como as imagens de arquivo e a dramatização de Zezé Motta. Terminar com Racionais Mc's só aumenta o impacto da obra, já que a busca de igualdade social do negro ainda permanece até os dias hoje. Direção: Jeferson De. Ano: 2003.

ATÉ A CHINA 

Delícia de animação sobre a primeira viagem à China do diretor. Dá para gargalhar diversas vezes com as experiências pelo que o cineasta passou, e tudo narrado com um tom de conversa entre amigos. Isso porque a narrativa foi adaptada de e-mails que ele mandava diariamente para os amigos contando de sua experiência no país. Divertido demais. E a técnica de animação é muito legal, sem a limpeza dos rascunhos, deixando as imagens ainda mais bonitas. É coisa de se assistir com um sorriso de orelha a orelha do início ao fim. Não à toa ficou em 13º na lista da Abraccine de melhores animações brasileiras. Direção: Marão. Ano: 2015. (Foto)

BAILÃO 

Belo documentário sobre a vida um tanto escondida dos homens gays de meia-idade. O título do filme se refere a uma boate em que há predominância gay. Mas o forte do filme são os depoimentos de alguns homens que sofreram no passado com o preconceito e com a dificuldade de lidar com o seu desejo no trabalho, na família ou em outros ambientes públicos. Há bastante melancolia, mas há também uma sensação de liberdade muito bonita. Direção: Marcelo Caetano. Ano: 2009.

BRASÍLIA - CONTRADIÇÕES DE UMA CIDADE NOVA 

Um filme que ficou perdido durante muito tempo por conta de seu tom crítico em pleno regime militar, quando foi realizado. O documentário de Joaquim Pedro de Andrade só pôde ser conhecido mais recentemente, quando uma cópia foi encontrada no MAM e restaurada para lançamento no DVD de Macunaíma. O filme mostra o contraste daquela cidade muito nova, limpa e asséptica feita para abrigar os políticos e a realidade dos trabalhadores nas cidades satélites, gente que chegou lá para trabalhar na construção, mas que ficou sem emprego com a finalização da cidade. Destaque para a entrevista em um ônibus em direção à cidade, com mais nordestinos em um busca do sonho de uma vida digna. Ano: 1967.

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