Às vésperas da estreia de BLADE RUNNER 2049 é natural que muita gente esteja revendo (ou mesmo vendo pela primeira vez) BLADE RUNNER, O CAÇADOR DE ANDROIDES (1982), de Ridley Scott. Acho que foi a terceira vez que vi o filme, mas as outras vezes foram de diferentes maneiras e em diferentes versões. A primeira vez foi na televisão, talvez na estreia na Rede Globo, com a famosa narração em voice-over que dá ao filme um tom próximo ao dos filmes noirs dos anos 1940; a segunda, "a versão do diretor" (1992), em VHS também. Logo, já fazia um bom tempo que eu precisava rever o filme e escolhi a "versão final do diretor" (2007), um dos cincos cortes disponíveis, e comandado efetivamente por Scott.
Não vou negar que esse número grande de cortes me incomoda. É como se o filme, apesar de já ter se tornado um clássico, nunca conseguisse chegar a uma versão perfeita e totalmente satisfatória. Por outro lado, para quem é fã e costuma rever com frequência, deve ser interessante ficar comparando as várias versões e ver o que foi retirado e o que foi acrescentado. O que eu senti falta, pela minha memória afetiva, neste final cut foi a cena de Rick Deckard (Harrison Ford) indo embora em um avião com Rachael (Sean Young).
Mesmo assim, não deixa de ser bonito o corte mais abrupto e moderno desta versão de 2007, sem a necessidade de procurar um epílogo para a história e deixando na cabeça do espectador mais possibilidades. Outra coisa que é muito boa, dessa vez em comparação com a primeira versão, é que, sem a narração de Deckard, o filme respira melhor, e fica até mais melancólico o drama dos personagens, principalmente o do protagonista, obrigado a executar a ação de matar os replicantes, robôs tão perfeitos que parecem seres humanos e criados para trabalhar na colonização e exploração em outros planetas. A mais lamentável das mortes é a da Zhora (Joanna Cassidy), a que trabalha em uma casa noturna com uma serpente.
São poucos os replicantes que sobraram e uma delas acaba por se tornar o interesse amoroso de Deckard, Rachael. Trata-se da personagem mais fascinante do filme e, por mais que haja uma tentativa de torná-la um tanto fria como uma máquina, não é asssim que a vemos. E há também a cena de intimidade entre ela e Deckhard, que passa até uma estranha sensação de transgressão. Imagina só transar com um robô. É como se eles estivessem fazendo algo muito proibido e por isso mesmo a cena é tão cheia de calor, ainda mais com aquela trilha sonora maravilhosa do Vangelis.
Não dá para falar de BLADE RUNNER e não destacar também a beleza que é a composição visual do filme: a fotografia com cores tão lindas; a direção de arte que constrói um mundo futurista mas também decadente e desagradável; os designs dos espaços arquitetônicos e dos carros; tudo é muito bem cuidado.
Ridley Scott já havia feito um milagre em trabalhar dentro de uma nave apertada em ALIEN - O 8º PASSAGEIRO (1979) e BLADE RUNNER só era o seu terceiro longa-metragem, o que confirmava o talento emergente. Infelizmente ele deu umas derrapadas pela carreira, mas há mais pontos altos do que baixos, não? Até porque ele se mostrou muito sensível quando trabalhou em dramas, em produções financeiramente menos ambiciosas. A decisão de passar a direção da continuação, BLADE RUNNER 2049, para Denis Villeneuve pode ter sido acertada. Mas isso confirmaremos muito em breve. Até lá, a memória da revisão do filme original segue sendo muito positiva.
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