quarta-feira, setembro 14, 2016

HERANÇA DE SANGUE (Blood Father)























Quem aprecia o trabalho de Mel Gibson, seja o ator ícone dos anos 80 e 90, sejam o grande diretor que se revelou, sempre torce por um retorno triunfal, depois que o astro teve sua vida virada do avesso por causa de alguns vacilos em sua vida pessoal que o tornaram persona non grata por muitos. Mas isso não atrapalha a vontade de o vermos novamente de volta à grande forma. O alívio é saber que o novo filme dirigido por ele, o drama de guerra ATÉ O ÚLTIMO HOMEM, foi aplaudido de pé por 10 minutos no Festival de Veneza. Infelizmente teremos que esperar até janeiro, que é quando o filme estreia no Brasil.

Enquanto isso, podemos ter um ultimamente raro gostinho do Mel Gibson ator, em uma produção francesa travestida de hollywoodiana chamada HERANÇA DE SANGUE (2016), com direção de Jean-François Richet, mais conhecido no Brasil por ASSALTO À 13ª DELEGACIA (2005). Se bem que não costumam ligar o filme à pessoa, o que é compreensível. Infelizmente, o filme de Richet não chega a ser exatamente bom, embora tenha os seus méritos, principalmente para quem é fã de Gibson.

Como ator-autor que é, os filmes que ele atua, ainda que idealizados e dirigidos por outras pessoas, acabam sendo também dele, por trazerem personagens que dialogam entre si, seja por serem de alguma maneira suicidas, meio maníacos ou por carregarem um sentimento de culpa que remete bastante ao Catolicismo. Basta lembrar de filmes tão distintos quanto MAD MAX, MÁQUINA MORTÍFERA, HAMLET, O PATRIOTA, FOMOS HERÓIS, O FIM DA ESCURIDÃO e UM NOVO DESPERTAR.

Em HERANÇA DE SANGUE, aliás, Richet traz momentos que remetem diretamente a personagens modelos do cinema de ação oitentista, como Max e o detetive Martin Riggs. Essas citações chegam a ser explícitas e funcionam como uma piscadela de olho do diretor (e do ator) para os fãs de Gibson.

Novamente temos um personagem que se martiriza, dessa vez por não ter dado uma educação ou uma atenção adequadas à filha, que se encontra desaparecida e envolvida com pessoas pouco confiáveis. Logo no começo, vemos o quanto a vida da menina (Erin Moriarty) anda louca. E então somos apresentados ao personagem de Gibson, um ex-presidiário que mora em uma comunidade de pessoas de meia-idade que vivem em trêileres no meio do deserto. Ele trabalha como tatuador e exibe as rugas da idade, mostradas em vários closes-ups ao longo do filme.

A história, aos poucos, vamos vendo que é um detalhe, levando em consideração o interesse em explorar mais a persona do ator. Mas teria sido muito melhor se o diretor e os roteiristas tivessem se esforçado um pouco mais para fazer um trabalho de contar uma história menos desleixado, não é? Lá pela metade do filme, mesmo tendo uma duração de menos de uma hora e meia, começamos a ficar um pouco aborrecidos, sinal de que é um problema tanto de roteiro quanto de direção e edição.

Até mesmo os aspectos trágicos e de sacrifício, que costumam ser explorado muito bem em alguns filmes dirigidos pelo próprio Gibson, como os excelentes CORAÇÃO VALENTE e A PAIXÃO DE CRISTO, acabam sendo subvalorizados pela mão pesada de Richet na condução da trama. Mesmo que ele tivesse caprichado na direção da cena decisiva do herói contra seus inimigos, o filme já havia desandado. O que resta é a nossa boa vontade de tratar o filme como especial, embora fique aquele gostinho amargo de que acabaram desperdiçando um grande astro em um filme medíocre.

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