terça-feira, junho 21, 2016

COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ (Me Before You)



Um dos problemas de COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ (2016) é aceitar os protagonistas como eles são apresentados. Emilia Clarke é uma Louisa Clark excessivamente boba com suas roupas bregas e Sam Claflin é um Will Traynor exageradamente arrogante na figura do milionário tetraplégico amargurado. E há sim vários momentos-clichê que incomodam um bocado. Mas temos que dar um desconto inicialmente pelo fato de que se trata da adaptação de um best-seller bem popular e esses personagens nasceram do livro de Jojo Moyes.

Além do mais, vendo o filme com olhos mais carinhosos é possível sim criar uma afeição pelos personagens e perceber o quanto ele vai evoluindo para melhor ao longo de sua narrativa. Que, aliás, é bem amarradinha. Mal dá para sentir o tempo passar. A edição fluida passa a impressão de estarmos vendo um filme de uma hora apenas, não de quase duas. Curiosamente, o editor, é John Wilson, que anos atrás fazia a montagem de vários trabalhos de Peter Greenaway, no auge da popularidade do autor.

Claro que ver Emilia Clarke deixando de ser a poderosa Daenerys de GAME OF THRONES faz ela parecer um pouco deslocada – ela também já foi uma sexy Sarah Connor no pouco amado O EXTERMINADOR DO FUTURO – GÊNESIS –, mas é interessante que a atriz abra o leque de personagens, por mais que não acerte em alguns. Por outro lado, outro ator da série violenta mais badalada do momento está muito bem no filme: Charles Dance, no papel do pai de Will.

Com a evolução dos personagens, algumas más impressões se dissipam. A bobinha Clark vai ganhando maturidade ao aprender um pouco de arte e se afeiçoar a Will. E Will vai deixando de ser o chato de galocha e passa a dizer coisas bonitas, como "Você é a única razão de eu querer acordar de manhã" ou "Vamos ficar aqui no carro por um tempo. Eu só quero me sentir como o cara que saiu com a garota de vermelho". São coisas simples, mas que tocam os corações de muitos.

Há algo no filme que a maioria dos espectadores já sabe ao entrar na sessão: o fato de que Will planeja sua própria morte. Assim, trata-se de um filme sobre despedida também, sobre os momentos finais da vida e a descoberta de momentos felizes desse rapaz que acredita que a vida não deve ser vivida se não for plenamente, de corpo inteiro, um corpo que ele não tem mais. É um tema polêmico, na verdade. Há muita gente que tem raiva de filmes como AMOR, de Michael Haneke, ou MAR ADENTRO, de Alejandro Amenábar, justamente por pregar essa escolha do direito à morte.

Mas é curioso como a diretora Thea Sharrock transforma esse tema espinhoso em um filme relativamente leve feito para plateias jovens. Assim, o que interessa mais não é a decisão de Will, mas os momentos de vida junto a Louisa e o quanto ambos são transformados a partir do momento em que se conhecem, mesmo sendo tão diferentes. Isso acaba valendo para qualquer encontro a dois que tenha uma natureza mais especial. Por isso esse apelo que o filme tem junto a casais que, mesmo sabendo que um dia deixem de se ver, o que sobrar da relação será bonito, válido, rico e pra sempre.

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