sábado, outubro 19, 2013
O CINEMA E OUTRAS MÍDIAS EM DOIS FILMES
Falar em interferência de outras mídias nos filmes é até irônico e um tanto ultrapassado, já que o cinema é uma soma de todas as outras artes que o precedeu, principalmente o teatro e a literatura, e até hoje se utiliza das mais diferentes formas de arte para se compor. Porém, ao ver o teatro aparecer de maneira tão explícita num filme ou ver uma obra cinematográfica que se apoia tanto na dança fez com que eu tentasse falar sobre estes dois filmes brasileiros em uma única postagem. Mas acho que nem estou sendo tão ultrapassado assim, já que grupos de teatro e de dança são geralmente encorajados a entrar em contato com esses filmes. Outra razão de estarem juntos numa só postagem é que eu não gostei de nenhum dos dois, embora veja neles algumas qualidades e imensas possibilidades de reflexão. Aí quis matar logo dois coelhos com uma só cajadada.
NO LUGAR ERRADO
Quase um teatro filmado, NO LUGAR ERRADO (2011), assinado por quatro pessoas, Pedro Diogenes, Guto Parente, Luiz Pretti e Ricardo Pretti,é um projeto até bem interessante. E barato, já que só vemos quatro atores em um palco totalmente escuro representando situações de atrito. São dois casais em uma festa na casa de um deles. A ideia de também deixar que os atores improvisem é interessante, mas o problema é que, nesse improviso, o filme vai cada vez mais despencando. Se era para ocorrer uma situação perturbadora em determinado momento, quando este momento acontece, os improvisos criados já haviam acabado por levar o filme por água abaixo. De todo modo, havia uma marcação: a peça Eutro, de Rodrigo Fischer. Só não sei até que ponto essa peça foi seguida ou se foi deixada de lado em algum momento. Um grupo cearense que tem sido pródigo em projetos interessantes atualmente está entre as produtoras do filme, a Alumbramento Filmes.
ESSE AMOR QUE NOS CONSOME
Se UM LUGAR ERRADO é visto como uma obra falha por muitos, ESSE AMOR QUE NOS CONSOME (2012), de Allan Ribeiro, por sua vez, tem recebido vários elogios. Afinal, trata-se de um filme que dialoga com amantes da geografia de cidades, de cultos afrobrasileiros, de danças contemporâneas e de relacionamentos homossexuais. Não deixa de ser também um bom exemplo de filme de resistência, em um momento em que todos esses temas são parte importante de discussões acirradas. No entanto, ESSE AMOR QUE NOS CONSOME não me deixou sequer incomodado. Quando você não se encanta com o que está vendo na tela, como as danças apresentadas, aí fica complicado de comprar a ideia do filme, de somar ao grupo dos que o amaram. Creio que o que eu mais gostei no filme foram os diálogos entre um dos personagens e moradores de rua. Eles soaram autênticos, embora a ficção e o documentário estejam bastante embaralhados no filme. Isso, aliás, é outro fator positivo do filme, de pegar cenas supostamente documentadas, do casal Gatto Larsen e Rubens Barbot em casa, discutindo vários assuntos com a maior tranquilidade, e tornar essas cenas próximas da de uma narrativa ficcional. As discussões acerca dos orixás, por exemplo, me fizeram lembrar minhas discussões sobre os signos do Zodíaco, como quando um dos personagens fala sobre o quanto fulano é mais parecido como filho de Iansã do que filho de Oxum, ou algo do tipo. Como não entendo de candomblé, acabo por olhar tudo com certo distanciamento. E foi assim que também vi ESSE AMOR QUE NOS CONSOME.
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