terça-feira, outubro 28, 2008
ÚLTIMA PARADA 174
ÔNIBUS 174, o documentário que José Padilha e Felipe Lacerda realizaram em 2002, já deixou muito espectador admirado com sua linguagem jornalística, dando um tom de desespero à estrutura do filme. Já ÚLTIMA PARADA 174 (2008), como previsto, até por ter sido dirigido por Bruno Barreto, não foge muito do academicismo e do filme de interpretações. Como um filme em que a narrativa é o principal interesse, em seu sentido formal, não se pode dizer que o filme decepciona. Há um bom cuidado no trabalho com os atores, que realmente estão muito bem, e um interesse mais forte no aspecto familiar e social. Barreto, depois de ter visto o documentário de Padilha, ficou fascinado pela história e desejoso de saber mais sobre quem era Sandro, o jovem que parou o país por algumas horas depois de ter seqüestrado um ônibus e de ter provocado reações ensandecidas na população, que certamente queria sangue, depois que ele atira em uma de suas reféns, numa troca de tiros com a polícia.
O recurso adotado por Bruno Barreto e pelo roteirista Bráulio Mantovani é inteligente: ligar as histórias dos dois Alês: o Sandro, que recebeu o apelido de Alê e por isso mesmo é confundido com o filho de uma mãe que perdeu o filho para os traficantes e depois se converteu em evangélica, e o Alessandro, ou Alê Monstro, o verdadeiro filho dessa mulher, que se torna um bandido de rua, depois da vida que teve. O que ele aprendeu com o seu suposto pai foi que "a gente não pede, a gente toma" e por isso tem uma visão moral distorcida e nociva para a sociedade.
Lembro que quando eu assisti o documentário de Padilha, o que mais me deixou tocado foi a cena do enterro de Sandro, que teve apenas a sua suposta mãe como presente. No fim das contas, as mães são quem mais sofrem com esses filhos rebeldes e que se tornam deliqüentes. Foi mais ou menos o que aconteceu quando eu vi CARANDIRU, de Hector Babenco, tendo me solidarizado com o sofrimento das mães dos detentos. Sandro, apesar de começar o filme como uma criança normal e inocente, tem sua vida modificada quando sua mãe é esfaqueada e morta num assalto e ele passa a viver com a tia, para depois deixar a sua casa e ir em busca da morte no Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa cuja carta de apresentação para ele, no que se refere aos contatos sociais, é um grupo de garotos cheiradores de cola que moravam na rua, perto de um chafariz na Candelária, local que se tornaria nacionalmente (ou talvez mundialmente) famoso devido à terrível chacina que faria história.
No fim das contas, temos mais um filme que faz refletir sobre a triste realidade daqueles que não têm o privilégio de terem uma educação e um meio social que os favoreça, embora, no fim das contas, como mostrado em CIDADE DE DEUS, de Fernando Meirelles, há sempre um momento em que o sujeito tem a chance de seguir um outro caminho. No caso de ÚLTIMA PARADA 174, isso se mostra representado principalmente através da personagem de Walquiria, a líder de uma ONG que tem como objetivo tirar as crianças das ruas e oferecê-las uma educação minimamente adequada. Infelizmente, nem sempre as escolhas que as pessoas fazem são as melhores. E gosto de pensar que ÚLTIMA PARADA 174 é também um filme sobre escolhas.
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