domingo, maio 11, 2008

SPEED RACER



Minha intenção ontem à noite ao sair de casa era ver o argentino XXY no Espaço Unibanco e ficar longe da multidão e do barulho dos shopping centers. Mas não foi isso o que o destino quis. Fiquei simplesmente meia hora parado num engarrafamento próximo ao North Shopping. Não havia nenhuma batida. Era tudo culpa mesmo do consumismo do Dia das Mães, que faz a alegria das lojistas. Como já tinha perdido o horário da sessão mesmo, resolvi fazer uma saída pela direita - como diria o Leão da Montanha - e ir até o Iguatemi pegar uma sessão de SPEED RACER, que planejava ver de qualquer maneira no domingo - não gosto muito de ir ao cinema sábado à noite, especialmente sozinho. Depois de mais de uma hora dentro do carro e de encontrar, com dificuldade, uma vaga no estacionamento, lá vou eu para a bilheteria. Felizmente, todos aqueles carros eram de gente que estava ali pra comprar presentes para as mães - que merecem, claro - e não para ir ao cinema. Cheguei na hora exata de uma das sessões legendadas do filme, só dando tempo pra comprar um lanche rápido para aplacar a fome, que era maior que a vontade de ver o filme. Mal sabia eu que iria sair do cinema com náuseas, devido às intermináveis e frenéticas cenas de corrida que juntando com o barulho e as mais de duas horas de filme tornariam a sessão não muito divertida pra mim. Mas analisemos o filme, tentando esquecer um pouco esse meu problema de labirintite, que deve ter interferido na apreciação da obra.

SPEED RACER (2008) é o aguardado retorno às telas dos irmãos Wachowski, depois do sucesso misturado com desapontamento da trilogia MATRIX (1999-2003). Dessa vez, para homenagear uma das primeiras animações japonesas a fazer grande sucesso em todo o mundo, inclusive no Brasil. Eu, como nunca fui fã do desenho e não lembro de ter assistido sequer um episódio completo, apenas partes, fui ao cinema sem ter nenhum conhecimento sobre a trama e sobre os personagens. Por isso acredito que mesmo para aqueles que nunca viram o desenho, fica a impressão de que os irmãos Wachowski fizeram um excelente trabalho de transposição de uma animação para um filme em live-action. Quer dizer, eles fizeram praticamente o filme inteiro utilizando CGI, logo, trata-se de um filme híbrido, o que não é exatamente uma novidade, mas que aqui é levado às últimas conseqüências.

O que mais impressiona em SPEED RACER é o colorido, que remete aos bons tempos do techinicolor, nos anos 50 e 60, onde as cores eram mais vivas. O visual retro-futurista também joga o filme para os anos 60, ao mesmo tempo que se passa aparentemente numa espécie de futuro. Vale lembrar que 1967, ano da produção do anime original, foi o ano mais psicodélico do século no campo das artes e para manter o filme fiel ao espírito da época, há também uma explosão de cores, como numa viagem de ácido. Um dos filmes coloridos dos anos 60 que eu mais lembrei enquanto via SPEED RACER foi PERIGO: DIABOLIK, de Mario Bava, especialmente pela presença do personagem Corredor X (Matthew Fox, que quase sempre aparece de máscara e tem aquele jeitão cool). A trilha sonora de Michael Giacchino também tenta emular as trilhas dos filmes da década de 60.

A trama gira em torno do corredor Speed Racer (Emile Hirsh, do ótimo NA NATUREZA SELVAGEM). Speed vive à sombra do irmão, morto num acidente de carros numa das corridas que participou. O uso dos flashbacks para mostrar a infância de Speed, que não conseguia prestar atenção às aulas e só pensava em carros, e o seu relacionamento com o irmão mais velho Rex Racer e a repercussão de sua morte é utilizado de maneira original, com as ações e os personagens passando pela tela como numa animação antiga. Speed tem uma família bem interessante: um pai que ama o automobilismo (John Goodman), uma mãe compreensiva (Susan Sarandon) e um irmão caçula e um chimpanzé, que sempre estão aprontando das suas. Meio que já fazendo parte da família, há também a namorada, vivida por Christina Ricci, que com seus belos olhos grandes, é uma atriz perfeita para uma adaptação live-action de um anime. Ao vencer uma importante corrida, Speed é convidado por um empresário de uma grande empresa de carros de corrida a assinar um contrato. Ao ver os bastidores da empresa do tal sujeito, que se comporta como uma espécie de demônio tentador, Speed fica na dúvida se deve ou não se juntar ao time dos grandes ou continuar na empresa humilde e independente do pai.

Um dos problemas do filme está nos longos diálogos envolvendo negociações e espionagem, mas ao mesmo tempo isso é uma maneira de descansar os olhos das cenas frenéticas de corrida hiper-colorida. Aliás, a certa altura do filme, as cenas de corrida, que no começo eram diferentes e originais, vão se tornando repetitivas e cansativas, especialmente a última corrida. Até porque o campeonato mais perigoso, o Rally Casa Cristo, é o clímax do filme. Desse modo, a última corrida se torna chata e tediosa. Ainda por cima levando em consideração que, a essa altura, o filme já havia passado das duas horas de duração, seguindo a tradição dos filmes da série MATRIX. E por mais que o filme seja bem interessante em seus aspectos técnicos, tenha seus momentos simpáticos e dê suas alfinetadas nas grandes corporações, SPEED RACER mais cansa do que empolga e, pra mim, isso traz pontos negativos para uma obra cuja intenção principal deveria ser divertir.

P.S.: Está no ar a edição de número 20 da Revista Zingu!, que esse mês destaca um realizador esquecido do livro "Cinema da Boca: Dicionário de Diretores", de Alfredo Sternheim. Seu nome: Julius Belvedere. Mas o que mais me deixou comovido nessa edição foi a Carta ao Leitor escrita pelo editor Matheus Trunk. Leiam e veja o porquê. Na seção Ruído, Laís Clemente escreve sobre o revolucionário álbum BLONDE ON BLONDE, do mestre Bob Dylan. Na sessão Musas Eternas, a homenageada da vez é a Maria Cláudia, uma das beldades que estiveram presentes na obra-prima EROS, O DEUS DO AMOR, de Walter Hugo Khouri. Marcelo Carrard contribui com dois ensaios, um sobre enfermeiras no cinema, outro sobre cinema e culinária, além de continuar seu passeio pela obra de Russ Meyer.

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