quinta-feira, outubro 13, 2005

FEDERICO FELLINI EM DOIS FILMES

 

Ser cinéfilo também significa esforçar-se para ver os filmes de cineastas importantes, mesmo quando eles não são muito do nosso agrado. Já ficou famosa a cisma que eu tenho com Federico Fellini. Mas pouca gente lembra que eu adorei A DOCE VIDA (1960), considero uma obra-prima, um filme de uma força tremenda. Agora, sempre que posso, vou dando novas chances às obras do homem. Quero ver quando chegar a vez de eu rever 8 E 1/2 (1963), filme que eu não entendi bulhufas na época em que o assisti. Esses dois filmes que eu comento abaixo pertencem à primeira fase de Fellini. São filmes mais melodramáticos, mas que já traziam momentos puramente fellinianos. Os dois títulos também contam com a música poderosa de Nino Rota, colaborador habitual do diretor e dono de temas antológicos, como os de O PODEROSO CHEFÃO, por exemplo. 

ABISMO DE UM SONHO (Lo Sceicco Bianco) 

A heroína de ABISMO DE UM SONHO (1952) lembra muito a prostituta de bom coração de AS NOITES DE CABÍRIA (1957). A personagem Cabíria (Giulietta Masina), inclusive, aparece numa cena pela primeira vez nesse filme, tentando consolar uma mulher arrependida por ter agido de maneira insensata. Na trama, Brunella Bovo é uma mulher que está em lua de mel e que dá uma escapulida do marido (Leopoldo Trieste) assim que os dois chegam em Roma. Seu objetivo é realizar o sonho de conhecer pessoalmente o seu ídolo das fotonovelas, o Sheik Branco (Alberto Sordi). No geral, achei o filme bem chato, não gostei dos personagens. Parecem todos muito idiotas. Desde o marido que precisa fingir para seus familiares que sua mulher está doente e não desaparecida, até o sheik branco que se acha o gostosão e a ingênua mulher que se mete numa enrascada. De bonito, tem o encontro do casal no final, sem vergonha de ser exageradamente dramático e sem medo de ser patético. 

OS BOAS VIDAS (I Vitelloni) 

Provavelmente, o primeiro grande filme de Fellini. OS BOAS VIDAS (1953) é sobre quatro amigos com dificuldades para encarar as responsabilidades da vida. Tem o mulherengo (Franco Fabrizi) que engravida a irmã do amigo (Franco Interlenghi, narrador do filme); o aspirante a dramaturgo (Leopoldo Trieste) que suspeita que seu ídolo é gay e está tentando lhe assediar; e tem Alberto Sordi como o mais solitário e fracassado do grupo. O filme tem um gostoso sabor agridoce, misturando os momentos de melancolia com outros de alegria de viver. Um dos momentos mais memoráveis do filme é aquele em que o personagem mulherengo é cara-de-pau o suficiente para dar em cima de outra mulher dentro do cinema, mesmo estando do lado da esposa. O início do filme também é digno de nota, com a cena da chuva durante a festa, que antecipa alguns dos momentos mais mágicos dos meus Fellinis preferidos, que são A DOCE VIDA e ROMA (1972). Filmes vistos nas cópias em DVD da Versátil.

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