Lendo algumas matérias e críticas sobre EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA (2004) nos jornais, vi que GRITOS NA NOITE (2000) foi praticamente ignorado nos textos, entre os filmes anteriores dirigidos por Marc Forster. Com certeza, por ter sido pouco visto, já que não passou nos cinemas. Os jornais só falam de A ÚLTIMA CEIA (2001). Comparando com esses dois filmes anteriores de Forster, EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA aparentemente é muito diferente dos outros dois. O clima de magia em torno do universo fantasioso de J. M. Barrie não parecia ser um tema ideal para um cineasta que tem no currículo filmes mais realistas.
Por outro lado, há algo de comum entre esses três filmes, que é o impacto da morte na vida das pessoas e a necessidade de seguir em frente, apesar das dificuldades e da dor da perda. Em GRITOS NA NOITE, Radha Mitchell é uma mãe que perde o seu filho antes mesmo de ele nascer. Em A ÚLTIMA CEIA, Halle Berry é a esposa de um condenado à morte que passa a se relacionar afetiva e sexualmente com o funcionário da penitenciária responsável pela execução de seu marido. O final amargo de A ÚLTIMA CEIA já diz tudo: a vida continua. Bem parecido com o final (mais lacrimoso) de EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA.
E a morte não deixará de ser tema dos próximos filmes de Forster. Um deles, chamado STRANGER THAN FICTION, com um elenco estelar (Emma Thompson, Will Ferrel, Maggie Gyllenhaal, Dustin Hoffman e Queen Latifah), é sobre um auditor do imposto de renda que ouve a voz de um narrador lhe dizendo que ele vai morrer. O outro filme, que até já teve algumas exibições-teste nos EUA, chama-se STAY, com Naomi Watts e Ewan McGregor, e é sobre um professor que tenta impedir um de seus alunos de cometer suicídio.
Levando em consideração esses temas recorrentes, provavelmente estamos diante de um novo autor. Mas, diferente dos filmes anteriores, onde Forster parecia se conter para não transformar o filme num melodrama, no oscarizável EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, ele não tem pudor em nos fazer chorar. E é bom chorar. Purga a dor, ajuda a botar pra fora a angústia. Nesse sentido, o novo filme, apesar de fazer chorar mais fácil, é mais palatável e agradável.
O filme cobre o período mais importante da carreira de J. M. Barrie, o criador de Peter Pan. O escritor é interpretado por Johnny Depp, como sempre excelente. Ele é casado com Radha Mitchel (trabalhando com Forster pela segunda vez), mas a relação dos dois parece não ter nada de sexo. Pelo que eu li nas matérias dos jornais de São Paulo, Barrie era assexuado, o que pode levar muita gente a compará-lo com Michael Jackson. Inclusive, o rei do pop se inspirou no escritor e em sua obra mais conhecida para criar a sua própria Neverland.
Hoje a coisa é vista como algo meio doentio, principalmente por conta dessas acusações de que Michael Jackson abusa sexualmente de garotos. As mesmas acusações, também sofreu Barrie, mas não durante o seu relacionamento com a família Llewelyn Davies, como é mostrado no filme. Na Folha de São Paulo da última sexta-feira, saiu uma matéria sobre o filme e o diretor afirma que "os rumores sobre a suposta pedofilia de Barrie só surgiram bem depois de sua morte, por causa de umas fotografias que o escritor tirou dos meninos nus".
Voltando ao filme e continuando a falar do elenco, EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, mesmo que não fosse um bom filme, pra mim já seria obrigatório, pela presença de dois dos meus atores favoritos: Depp e Kate Winslet. Ela está linda como a viúva Sylvia Llewelyn Davies, a mãe dos meninos que inspiraram a criação de Peter Pan e os garotos perdidos. Também no elenco, os experientes Dustin Hoffman - que só aceitou fazer o filme por causa da oportunidade de trabalhar com Depp -, no papel do produtor da peça, e a sumida Julie Christie, como a mãe da personagem de Kate.
O filme é também sobre o processo de criação. É interessante ver como foi criado o universo de fantasia de Peter Pan e de seu arquiinimigo, o Capitão Gancho, por mais que aquilo mostrado no filme seja mais ficção do que realidade. E é difícil segurar as lágrimas quando Barrie chega na casa de Sylvia para encenar a peça na casa da viúva. Bonito ver um filme assim, cheio dessa pureza e inocência infantis.
EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA concorre a sete Oscar: melhor filme, ator, roteiro, direção de arte, figurino, montagem e música.
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