Na sexta-feira, ao sair do trabalho ainda meio em dúvida se via O EXPRESSO POLAR ou SOB O DOMÍNIO DO MAL, optei por ver o primeiro, de preferência numa cópia legendada. Assim, com base na informação do roteiro cultural do jornal, fui lá para o Shopping Aldeota, mesmo sabendo que as salas de lá estão com um probleminha no som. O ruim foi que, ao chegar lá, soube que a cópia exibida era dublada. Quase desisti, mas como ia ficar complicado me locomover até o Iguatemi, resolvi ver lá mesmo. Não sou fã de Tom Hanks mesmo, não faço questão de ouvir sua voz e, além do mais, a dublagem está bem boa.
O EXPRESSO POLAR (2004), de Robert Zemeckis, é o tipo de filme em que se deve considerar mais a forma que o conteúdo. Digo isso, não no intuito de menosprezar o filme (há grandes filmes que são pura forma). É que quem acha esse negócio de Papai Noel uma palhaçada pra fazer os pais gastarem dinheiro com presentes nas lojas e ser, ainda por cima, uma tradição totalmente desvinculada da realidade brasileira - país tropical, Hemisfério Sul, em dezembro é verão, a neve passa longe daqui - pode simplesmente curtir o filme pelas imagens, pela boa direção de Zemeckis, pelo ritmo de montanha-russa de alguns momentos.
O EXPRESSO POLAR funciona melhor pela beleza da animação. Reclama-se que os movimentos ainda parecem meio artificiais, mas isso não me incomodou nem um pouco. È verdade que o trabalho que a equipe de Peter Jackson fez com o Gollum na trilogia O SENHOR DOS ANÉIS ficou muito mais realista, mas Jackson tinha uma obrigação muito maior, já que estava fazendo um trabalho com atores de carne e osso e o Gollum não podia ficar parecendo desenho animado no filme. Não é o caso desse filme de Zemeckis, que por mais que tentem me convencer que não é, pra mim, vai continuar sendo um desenho animado. Através dessa técnica - a performance capture -, Tom Hanks "interpreta" quatro ou cinco personagens no filme, mas o único que ainda lembra suas feições é o homem do trem.
Talvez a cena mais impressionante do filme seja a cena do bilhete voando da mão do menino, que remete à cena da folha em FORREST GUMP (1994). Tão viajante quanto aquela cena de CONTATO (1997), em que viajamos do planeta Terra até a Via Láctea. Pena que na hora que o menino chega no Polo Norte, na casa do Papai Noel, o filme cai no ritmo e cai também na lenga-lenga da mensagem de Natal. Sem falar que o visual começa a ficar mais parecido com comercial da Coca-Cola. Mas isso são contras que, botando na balança, perdem para as qualidades do filme.
Mais do que um protegido do Spielberg, Zemeckis é um grande diretor. Ele foi o homem que dirigiu a trilogia DE VOLTA PARA O FUTURO (1985, 1989, 1990) e, fora isso, é possível enumerar vários ótimos momentos de sua filmografia, como: 1) as meninas tentando chegar no apartamento dos Beatles em FEBRE DE JUVENTUDE (1978); 2) a gostosa Jessica Rabbit em UMA CILADA PARA ROGER RABBIT (1988); 3) o humor negro perturbador de A MORTE LHE CAI BEM (1992); 4) o mistério e a espiritualidade de CONTATO (1997); 5) Michelle Pffeifer chegando no banheiro e sentindo uma presença "estranha" em REVELAÇÃO (2000); 6) o acidente de avião em NÁUFRAGO (2000). Digam o que disserem, o homem é fera, e apesar de não ser tão bom quanto o Spielberg, acabou comentendo menos erros que ele.
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