sexta-feira, novembro 19, 2004
TRÊS CURTAS NACIONAIS
Recentemente vi três curtas de estilos bem distintos. O curta do Aguilar consegui ver graças ao Renato, que me enviou numa fita; o novo trabalho de Halder Gomes veio parar nas minhas mãos porque coincidentemente um dos rapazes que trabalharam na equipe do filme é meu aluno e puxei conversa com ele quando o vi com uma camiseta de SUNLAND HEAT; o curta de Camilo Cavalcante, tive a oportunidade de ver antes da sessão de A CAMAREIRA DO TITANIC, no Centro Cultural Banco do Nordeste. Minhas impressões um tanto confusas dos curtas:
LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR
Depois de David Lynch, o diretor de quem eu mais vi curtas-metragens é o amigo Eduardo Aguilar, talvez mais conhecido por ter sido assistente de direção de Carlos Reichenbach em ANJOS DO ARRABALDE (1987), ALMA CORSÁRIA (1993) e GAROTAS DO ABC (2003) e por ter também trabalhado com o saudoso Walter Hugo Khouri em FOREVER (1991). Seus curtas são todos realizados em video. Aguilar é um defensor ardoroso do formato que, mesmo em tempos em que o vídeo digital é cada vez mais utilizado em filmes de grande repercussão, ainda é tratado como bem inferior ao celulóide. Se formos ver o vídeo na tela do cinema, em termos de qualidade de imagem, realmente perde para o celulóide, mas se vistos na televisão a diferença é pouca.
Os dois primeiros curtas de Aguilar - PUTA SOLIDÃO (2001) e DIAS CINZENTOS (2002) - têm um agradável clima de melancolia. Parecem ter sido inspirados nos filmes do Khouri da década de 60. OS ÚLTIMOS DIAS DE PAPAI NOEL (2003) já apontava uma diferença de estilo, com uma certa crueza e uma trilha sonora punk (Garotos Podres). Esse novo curta, dedicado a Lucio Fulci, Pupi Avati e Khouri, é uma nova experiência, dessa vez dentro do gênero horror, possivelmente influência do contato de Aguilar com a turma da lista de discussão Canibal Holocausto.
LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR (2004) tem direção pausada, sem a pressa característica da maioria dos curtas, como se o diretor não se importasse com o pouco tempo disponível para expressar suas idéias, até parecendo o início de um longa. Nesse sentido, e por causa também do final, o curta lembra o impressionante BEHEMOT, de Carlos G. Gananian. Tenho algumas dúvidas sobre o significado do curta: o que seria a figura fantasmagórica? Aquilo que parece ser um ponto de interrogação em sua testa seria o símbolo da dúvida, que mata a fé? E o que são aquelas referências aos textos apócrifos? Bom, tenho que perguntar tudo isso ao próprio diretor do filme, e quando tiver respostas ponho aqui, nem que seja apenas nos comentários. Um curta intrigante. Quem mora em Porto Alegre vai poder conferí-lo numa sessão de curtas raros promovida pelo "seu canibal" Thomaz Albornoz.
O ARTISTA CONTRA O CABA DO MAL
Halder Gomes é diretor de SUNLAND HEAT - NO CALOR DA TERRA DO SOL, filme de pancadaria com elenco americano e que se passa em plena Fortaleza. Na época que vi o longa, no Cine Ceará, não estava com muito bom humor pra aturar uma bagunça daquelas, mas houve quem se divertiu com o filme, até comparando com KILL BILL, já que a trama tem alguns pontos em comum com o filme do Tarantino. Falando em bagunça, O ARTISTA CONTRA O CABA DO MAL (2004), curta-metragem rodado em digital e feito inteiramente com equipe local, é mais feliz do que o longa. Não que o curta também não seja um pouco desordenado, mas aqui a bagunça se confunde com o clima anárquico da sala de cinema, onde se passa o filme, que até me lembrou uma cena de ROMA, de Fellini. "O Artista Contra o Caba do Mal" é o título do filme dentro do filme. A história se passa nos anos 70 numa cidadezinha do interior, onde o que mais se passava era filme de kung fu. Percebe-se que o diretor é um entusiasta do gênero, como confirmou o Nonato, o rapaz que me emprestou a fita e participou da equipe de filmagens. Engraçado que o termo "artista" do título se refere ao mocinho, ao herói da história. Lembrei de imediato de quando eu era criança e prestava atenção nos comentários dos colegas do meu bairro que só queriam saber mesmo quem era o "artista" e quem era o "mau". Estavam pouco se lixando com outros detalhes do filme e não havia o menor senso crítico por parte do deles. Bastava torcer pelo herói e contra o "caba do mal" e pronto. É com esse espírito que o filme de Halder Gomes recorda com certa nostalgia essa época. Notícia boa pra quem se interessou pelos filmes do Halder: SUNLAND HEAT vai ser lançado em dvd no Brasil e O ARTISTA CONTRA O CABA DO MAL deve se transformar num longa.
A HISTÓRIA DA ETERNIDADE
Esse filme de Camilo Cavalcante, a exemplo do FESTIM DIABÓLICO, de Hitchcock, é aparentemente um filme de plano único. Só aparentemente. Os cortes são bem disfarçados e eu curti pra caramba os travellings desse filme. Não há uma história, mas imagens surreais passando pela lente da câmera. Bem interessante. Produção de 2003.
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