sexta-feira, agosto 15, 2003

O IMPÉRIO DO DESEJO



Ontem, ao voltar pra casa depois do trabalho, dei uma passadinha numa locadora meio fuleira aqui do Centro da cidade, só pra ver como é que estava o acervo lá. Quando eu já estava indo embora, dou de cara com uma fita que me despertou logo a atenção. O IMPÉRIO DO DESEJO, filme raro de se encontrar em locadoras, aqui pertinho, no Centro, onde geralmente não tem muito filme legal. Não sei como que há mais de dez anos que visito a dita cuja, nunca vi esse filme nas prateleiras. Acho que porque ele estava antes na seção de filmes pornôs. E o legal é que a fita está em excelente estado de conservação. O meu vídeo, geralmente "fresco" pra fitas velhas (não rodou AMOR VORAZ, do Khouri), rodou a fita sem nenhum problema.

Do texto escrito na contra-capa da fita da Look Video, reproduzo o último parágrafo:
"Humor, ação e muito sexo explícito numa formulação perfeita, que vai prender sua atenção desde o início."

Sexo tem sim. Mas explícito, eu não vi, não.

O IMPÉRIO DO DESEJO é uma pornochanchada dirigida por um dos grandes cineastas desse país: Carlos Reichenbach. Reich e Khouri são os cineastas brasileiros que mais me despertam interesse em conhecer a obra completa. Império é bem diferente dos outros filmes dele que vi da fase madura(ANJOS DO ARRABALDE, ALMA CORSÁRIO, DOIS CÓRREGOS), mas ainda assim vê-se o seu lado autoral em cada cena. A política e o sexo parecem ser uma constante nos seus filmes, em menor ou maior escala. Pelo menos até onde eu pude ver.

Para não falar muita besteira, andei lendo uns textos que procurei no Google. Não são muitos. Os melhores são textos do próprio Carlão e alguns outros da Contracampo, escritos pelo Daniel Caetano, que parece ser um entusiasta da cinematografia nacional. Li e reli sobre o cinema da boca do lixo, sobre o início das pornochanchadas, sobre o cinema cafajeste e malicioso, sobre o deboche em cima dos costumes da sociedade da época da ditadura militar.

O IMPÉRIO DO DESEJO (1980) é um filme anárquico de verdade. Tem fusão de gêneros como nos filmes de Godard, tem personagens que entram e saem sem aparentemente ter muita utilidade na trama, muita gente tirando a roupa, orgias, swing. Por falar em swing, melhor do que ver filmes contemporâneos que tratam do tema da "libertinagem" dos anos 70, como TEMPESTADE DE GELO, de Ang Lee, é ver autênticos filmes da época. As pornochanchadas são espelhos daquele período de sexo livre, drogas, rock and roll e vontade de fazer socialismo.

O filme é muito agradável de se ver. As cenas do canibal de branco são de um humor negro dos mais estranhos. Principalmente se vistos dentro de uma comédia erótica. Os personagens são muito legais: o casal de hippies, a dona da casa e o seu namorado boçal, o velho que se descobre bissexual, os dois bandidos desastrados, que parecem saídos de desenhos animados (um deles tem a voz do dublador do Fred Flintstone), as mulheres gostosas e sempre ávidas por sexo.

Os diálogos são bem espirituosos. Gosto da cena em que uma intelectual vai querer ensinar o hippie como se comportar numa transa. Engraçado e excitante. Gosto da cena do Nick (o hippie) com ciúme da namorada que estava transando com o velho na sala. Já tô com saudade do filme. Agora é esperar a sorte de um dia ver os outros títulos da filmografia do Reich.

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