sexta-feira, janeiro 17, 2003

MINI-FESTIVAL DARIO ARGENTO

PRELÚDIO PARA MATAR (Profondo Rosso/Deep Red)/ SUSPIRIA / MANSÃO DO INFERNO (Inferno)

Acabei de ver os três filmes do Argento que o Fábio mandou pra mim. Antes de comentá-los, quero agradecer muito ao Fábio e, por tabela, ao Primati e ao Thomaz por terem fornecido as cópias para o Fábio. Se não fosse por vocês, eu não teria conhecido essa preciosidade. Bom, vamos aos filmes.

O primeiro filme da fita, PRELÚDIO PARA MATAR (1975), é um giallo com direito a assassino de luvas pretas e tal. A primeira coisa que me chamou a atenção nesse filme foi a música do grupo Goblin. A música é tão legal que ver os assassinatos acaba sendo bem prazeroso. Associamos o prazer da música da banda com as mortes cruéis mostradas com muitos tons de vermelho. Já que eu mencionei o vermelho, outra marca do cinema de Dario Argento é a fotografia estilizada, a direção de arte caprichada, a câmera que sempre pega o melhor ângulo de maneira original. Enfim, o cara é um mestre mesmo. A história desse filme é até simples: sujeito é testemunha de um assassinato e o assassino começa a persegui-lo também. Junto com ele, uma repórter com um fusquinha caindo aos pedaços e que contribui para o elemento mais leve e engraçado do filme. Outro detalhe que eu achei bem característico do cinema de horror italiano em geral percebi numa cena em que o protagonista entra num velho prédio e começa a quebrar as paredes de lá à procura de um mistério escondido. Esse ato de esconder coisas (ou corpos) atrás de paredes também é visto em A CATEDRAL, de Michelle Soavi e em THE BEYOND, do Lucio Fulci. Não sei se alguém já fez esse tipo de comparação, mas talvez isso seja uma característica européia. Muitas coisas existem dentro ou debaixo de igrejas ou prédios antigos, sem falar nos esgotos. O filme também lembra o estilo de suspense de Hitchcock, com a diferença que Hitchcock já costumava entregar o assassino logo no início do filme. Pra terminar, o filme tem uma cena gore genial e inesquecível, com um carro arrastando um homem e em seguida outro passando por cima da cabeça. Coisa de louco. O filme está com áudio em italiano e legendas em inglês.

Mas o melhor estaria pra vir. SUSPIRIA (1977) está com ótima qualidade de imagem e som, graças ao DVD especial do Primati. Além do mais, tem close caption e áudio em inglês. As imagens do filme enchem os olhos e é o tipo do filme que quando termina a gente tem vontade de assistir de novo. Impressionante. SUSPIRIA é o primeiro filme da trilogia inacabada das três mães, as três bruxas. A bruxa desse filme é Mater Suspiriorum, ou a mãe dos suspiros. A história se passa em Freiburg, Alemanha, onde uma garota chega para aulas de balé. Desde a chegada dela no aeroporto até o final abrupto e sem explicações, Argento capricha na bela fotografia (muito azul e vermelho), nas cenas gore e na música, também do Goblin. Sensacional a cena em que a moça está dormindo e ouve o ruído assustador de alguém dormindo no escuro detrás da cortina. De arrepiar. O clima de bruxaria e de mortes misteriosas é fascinante e o filme não explicar muito da história acaba o tornando ainda mais charmoso. Até me fez lembrar de A BRUXA DE BLAIR, só que mais caprichado e longe do estilo pseudo-documental. Acho que dos três filmes da fita, esse é o meu preferido.

O filme seguinte, A MANSÃO DO INFERNO (1980), é o segundo filme da trilogia das três bruxas. Nesse filme, a bruxa responsável pelo tormento dos personagens é a Mater Tenebrarum, a mãe das trevas. Esse filme foi o que me deu mais trabalho de ver, já que, além de a história ser bem intrincada e misteriosa, a fita estava sem legendas e com áudio em inglês bem baixo e muito difícil de ouvir. Acabei tendo que pesquisar na internet e, achei ótimos textos do Thomaz e brilhantes ensaios sobre vários filmes de Argento no site www.kinoeye.org . Foi então que eu pude entender o que o livro que a personagem inicial do filme dizia. Através do site eu soube que o livro misterioso falava, entre outras coisas, onde ficavam as três bruxas - a mãe dos suspiros na Alemanha (mostrada em SUSPIRIA), a mãe das trevas em Nova York e a mãe das lágrimas, em Roma. As duas últimas são mostradas nesse filme. Parece que nesses dois filmes, Argento pouco liga pra explicações, o que conta mesmo é o clima de sonho/pesadelo, as mortes e o mistério. E bote mistério nisso.

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