segunda-feira, julho 17, 2023
MISSÃO: IMPOSSÍVEL – ACERTO DE CONTAS: PARTE UM (Mission: Impossible – Death Reckoning: Part One)
“That’s what I sleep with every night — the future of this fucking industry!”
(Tom Cruise)
Em dezembro de 2020, ainda na primeira onda da pandemia, a imprensa divulgou o grito de raiva de Tom Cruise acima. Ele ficou injuriado com membros da equipe de filmagem que violaram protocolos de segurança contra a covid-19, e sua bronca ganhou o mundo. Eram tempos difíceis e o astro e produtor estava muito preocupado com o futuro da indústria de cinema, que de fato não foi mais a mesma após o vírus. O próprio Cruise foi bastante elogiado no ano passado, chegando a ser chamado por muitos de salvador do cinema, graças ao sucesso de TOP GUN – MAVERICK. Agora, após verem amargar o fracasso retumbante de grandes produções no mês de junho (como THE FLASH, da Warner, e INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO, ELEMENTOS e A PEQUENA SEREIA, esses três da Disney), os grandes executivos estão de fato preocupados e essa preocupação respinga nas pequenas produções, inclusive aqui no Brasil.
Espera-se que neste mês de julho, com três grandes filmes dispostos a chamar a atenção da audiência, as coisas comecem a melhorar para a indústria de Hollywood e para os cinemas de todo o mundo. Os três filmes, MISSÃO: IMPOSSÍVEL – ACERTO DE CONTAS: PARTE UM (2023), de Christopher McQuarrie, OPPENHEIMER, de Christopher Nolan, e BARBIE, de Greta Gerwig, têm cheiro de salvação, mas o problema é que há um custo elevadíssimo na produção e no marketing, o que dificulta a recuperação dos gastos. A produção de Tom Cruise ainda teve o problema de ter parado as filmagens durante a segunda onda da covid.
Mas o mais impressionante é que, ao vermos o filme, esses problemas não transparecem. Ao contrário, o novo MISSÃO: IMPOSSÍVEL é um sucesso em todos os sentidos. Da produção às atuações, das cenas de ação eletrizantes aos diálogos bem escritos, da trilha sonora à direção de arte. Tenho dúvidas se é um filme de autor, mas na verdade isso pouco importa enquanto estamos testemunhando uma obra tão imersiva e tão vibrante, com a mão firme do produtor Tom Cruise, que agora usa de sua experiência com grandes autores nos anos 1990-2000 para ser o dono de seus próprios projetos, com sua equipe de artistas e técnicos favoritos. E ainda faz uma obra que reflete as preocupações do mundo contemporâneo: a ameaça da inteligência artificial, a invasão de privacidade nas redes sociais e a manipulação da verdade. Tudo isso num filme de espionagem e ação. Ou seja, é bem possível que ACERTO DE CONTAS: PARTE UM seja uma obra tão bem-sucedida quanto o primeiro MISSÃO: IMPOSSÍVEL (1996), dirigido por Brian De Palma.
Tom Cruise, com seu sorriso singular e senso de confiança que lhe é característico, além de ser o último grande astro remanescente, se tornou uma espécie de novo Buster Keaton, ou de novo Jackie Chan, no que se refere a fazer coisas incríveis no lugar dos dublês. Não bastou ter quebrado o tornozelo nas filmagens de MISSÃO: IMPOSSÍVEL – EFEITO FALLOUT (2018). Agora ele pula de motocicleta com um paraquedas do alto de uma montanha e filma tudo isso de modo a parecer o mais verdadeiro possível.
Saí da sessão pensando: “Que tempos são estes, em que, mesmo com uma crise gigante rolando em Hollywood, temos no mesmo ano JOHN WICK 4 – BABA YAGA e Missão: Impossível 7.1”? Em vários momentos do filme, tive um forte sentimento de gratidão por Tom Cruise estar se esforçando em trazer as pessoas de volta às salas de cinema, e com filmes de alto nível.
ACERTO DE CONTAS: PARTE UM é tão bom que chega a ser difícil imaginar que a parte 2 conseguirá atingir o mesmo grau de excelência. Christopher McQuarrie tem uma direção tão elegante, inclusive nas cenas de conversa entre os personagens, que é de dar gosto. Eis o motivo de Tom Cruise estar preferindo trabalhar com ele o tempo todo, desde JACK REACHER – O ÚLTIMO TIRO (2012). Além do mais, temos uma série de cenas de ação tão empolgantes e tão cheias de verdade que nem parece que estamos vivendo em tempos de invasão do CGI. Basta comparar com o mais recente INDIANA JONES e o filme do arqueólogo perde feio.
Os personagens parecem mesmo estar se equilibrando em cima de um trem desgovernado, as batidas nos carros nas ruas são de verdade, o inimigo parece de fato ameaçador, uma vez que compramos a ideia. E temos personagens carismáticos de sobra, tanto os já conhecidos (eu adoro Benji, Luther e principalmente Ilsa), quanto os novos. O grande acréscimo neste novo filme é o da britânica Hayley Atwell (CAPITÃO AMÉRICA – O PRIMEIRO VINGADOR), no papel de Grace, uma ladra que entra, sem querer, na briga de cachorro grande dos espiões ultrassecretos e de uma ameaça de dominação global, aqui representada por uma inteligência artificial capaz de antecipar os atos de qualquer pessoa, como um grande algoritmo. Como Grace não tem incríveis habilidades de luta (ou de informática), ela é o personagem mais próximo que temos do espectador, e isso é muito importante para que gere uma conexão com a audiência.
Algumas cenas antológicas: o jogo de gato e rato no aeroporto, as cenas de perseguição num FIAT pequeno nas ruas de Roma com Ethan e Grace algemados no carro, o encontro na festa (que conta com a primeira aparição de Vanessa Kirby e rende uma piscadela metalinguística deliciosa), a incrível cena de ação e suspense num beco estreitíssimo, o jogo dentro do trem aproveitando a tradição das máscaras da franquia, a luta pela sobrevivência no trem desgovernado.
No mais, fiquei muito interessado no passado de Ethan, que é mostrado em pequenos flashes, e que traz um ar bem dramático à série, o suficiente para percebermos que ocorreu algo de muito traumático para o agente. Eu diria que MI 7.1 é um dos thrillers de ação mais próximos da perfeição que eu já tive o prazer de ver.
Vejam no cinema! E se possível numa sala IMAX, e na primeira semana, pois a partir de quinta-feira as salas serão ocupadas por OPPENHEIMER. O prazer e a adrenalina são garantidos.
Agradecimentos à Giselle pela incrível companhia, entusiasmo contagiante e carinho sem igual.
+ DOIS FILMES
INDIANA DE JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO (Indiana Jones and the Dial of Destiny)
A indústria de cinema americana está precisando urgentemente se reinventar. Reciclar velhas fórmulas e velhos heróis ou franquias já não está mais sendo garantia de sucesso. E nem falo só de sucesso comercial, mas de se ter de fato uma obra que não fique tão à sombra dos originais, que carregue algo de singular a ponto de ser lembrada. O elemento mais singular de INDIANA DE JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO (2023) é a presença de Phoebe Waller-Bridge, que meio que interpreta a si mesma, mas tem um brilho, uma energia e um carisma que ajudam a trama a andar, a fazer com que o herói aposentado saia de sua solidão e tristeza e aceite uma nova aventura. James Mangold, o novo diretor, não tem personalidade suficiente para tornar o novo filme tão atraente e empolgante quanto os anteriores (na verdade, pouco me recordo do quarto filme). Além do mais, há um excesso de CGI que faz parecer que tudo no filme seja irreal, tanto os corpos dos atores e atrizes, quanto veículos, como aviões, carros e trens. Harrison Ford está quase apático, mas sua presença talvez já bastasse, se o filme fosse bem conduzido ou melhor pensado. Além do mais, há a música insistente de John Williams que cansa num filme de mais de duas horas e meia.
SOBRENATURAL – A PORTA VERMELHA (Insidious - The Red Door)
Uma dica para quem ainda não viu SOBRENATURAL – A PORTA VERMELHA (2023): revejam os dois primeiros filmes da franquia. Como não revi, e como são filmes de 2010 e 2013, ou seja, já faz um tempinho, senti falta de uma memória fresca. Quem viu o segundo filme já sabe que esse universo de SOBRENATURAL tem uma narrativa contada com uso de hipertextos, uma das coisas que mais me fascinou no segundo, inclusive. Este quinto filme apresenta duas tramas contadas quase que de forma independente, mas que se cruzam, principalmente no final. Temos a história do personagem de Patrick Wilson, que agora vive só e com a família despedaçada, e do filho mais velho, o que ficou "em coma" lá no primeiro filme. Aqui ele já é um rapaz (Ty Simpkins) entrando na faculdade e com conflitos e rancores com o pai. É um filme que ganha alguma força com a boa lembrança dos anteriores e de seus personagens, mas que não traz nada de novo ou de verdadeiramente arrepiante nas cenas de medo. Há os jump scares meio manjados, mas que às vezes são eficientes, e o tom de narrativa clássica adotado por James Wan em seus primeiros filmes de maior sucesso – SOBRENATURAL e INVOCAÇÃO DO MAL podem ser confundidos por ambos contarem com a presença de Patrick Wilson, aqui estreando como diretor.
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