domingo, janeiro 08, 2023
MAS NÃO LIVRAI-NOS DO MAL (Mais Ne Nous Délivrez Pas du Mal)
Infelizmente comecei o ano com preocupações e inconvenientes envolvendo minha saúde. Dores na lombar e na cervical e um formigamento nos membros me deixaram mais focado em buscar minha saúde e atentar para esses sinais de modo que, quem sabe, seja possível reverter a situação e voltar a me sentir bem. Como não é uma tarefa fácil e demanda cuidados até com a forma como durmo, como me sento ou como ando, não é algo que deve ser resolvido de um dia para o outro. As idas à fisioterapia, por exemplo, têm me tirado o tempo que eu teria gastado escrevendo para o blog. Então, já deixei explicado nesse parágrafo a minha ausência neste início de ano.
E como há vários filmes vistos e não comentados, já sei que alguns não ganharão textos maiores, tanto pelas dores, quanto pela falta de inspiração de minha parte mesmo. Então, falemos um pouco sobre o filme que está mais fresco em minha memória, MAS NÃO LIVRAI-NOS DO MAL (1971), primeiro e mais famoso longa-metragem de Joël Séria, um dos títulos escolhidos para integrar o livro Obras-Primas do Terror: Horror Internacional - Dez Filmes Essenciais da Coleção. A propósito, estou adorando esse projeto que a Versátil tem lançado desde 2022 e que deve perdurar por mais um bom tempo de incluir livros temáticos com textos críticos em edições caprichadas junto com os packs mensais.
Sobre o filme, enquanto o via, achava a trama muito parecida com a de ALMAS GÊMEAS, de Peter Jackson. Só depois soube, lendo o texto de Cristian Verardi para o livro (e depois nas entrevistas contidas nos extras do DVD), que ambos os filmes foram inspirados na mesma fonte, com a diferença que esta estreia de Séria foi apenas livremente inspirado. Ou seja, Séria ficou muito impressionando quando leu no jornal o caso das duas meninas da Nova Zelândia e construiu uma história mais parecida na relação das duas meninas do que em seus atos.
Não há tanto um interesse em mostrar as personagens de forma mais cirúrgica, do ponto de vista psicológico. O filme de Séria possui o espírito da rebeldia que dominou as décadas de 1960-70 e os atos das meninas de preferirem fazer o mal do que o bem é mais uma forma de se rebelar contra o sistema. No caso, o sistema da igreja católica, principalmente, mas também a hipocrisia da sociedade em que viviam.
Confesso que demorei a me sentir incomodado com o filme, o que considero um problema. Só na cena da menina matando um passarinho que eu fiquei um bocado incomodado e a partir de então a narrativa vai se encaminhando por caminhos mais sombrios. Mas, por mais que estejamos diante de um produto de sua época, a sociedade de então não estava exatamente preparada para certas coisas, e por isso o filme foi banido por alguns meses na França, por causa de intervenções da igreja, principalmente. Depois, o diretor até aproveitou a fama dessa proibição para capitalizar em cima de lançamentos em diversos países.
Gosto da cena final, no teatro da escola, e gosto bastante da cena em que as meninas cometem seu mais grave delito. E diferente do filme de Peter Jackson, o amor entre as duas meninas parece ser mais de mestre e aprendiz, de dominadora e dominada, pois há a menina que parece ser mais malvada e aquela que segue os seus caminhos, ainda que tenha ficado triste, por exemplo, com a morte do passarinho. Além do mais, como é comum nos filmes de gênero desse período, há algo no tom e até na própria fotografia que remetem a uma atmosfera de sonho, de pouca relação com o mundo concreto e uma maior aproximação com o mundo das ideias. Não à toa, a despedida das meninas se dá numa performance, recitando um poema de Charles Baudelaire.
Filme visto no box Obras-Primas do Terror - Horror Francês.
+ DOIS FILMES
FEITIÇO DIABÓLICO (Spellbinder)
Eis um caso de filme que começa muito bem e vai se perdendo na segunda metade, embora eu goste do gesto ousado da conclusão. A princípio, é fácil ficar interessado no filme e se sentir enfeitiçado pela beleza de Kelly Preston (A PRIMEIRA TRANSA DE JONATHAN). Na década de 1980, a atriz era uma das mais belas (na verdade, continuaria bela por vários anos). Então, como FEITIÇO DIABÓLICO (1988) é sobre a história de um homem que encontra uma mulher linda e fascinante, que sabe alguns rituais de magia e parece estar lhe fazendo bem, então é natural que esse início de filme siga por um caminho relativamente fácil para a direção. A parte do grupo de bruxas e bruxos ameaçando os heróis (ou o herói) já é um pouco mais frágil, embora eu destaque uma cena muito interessante, que é a das janelas com vários rostos. Conta-se que a diretora Janet Greek não gostou nada da montagem e disse que aquilo que está na tela não é o seu filme. Então, provavelmente nunca conheceremos a sua versão e se o trabalho de suspense e terror teria funcionado melhor. Visto no box Obras-Primas do Terror - Anos 80.
NATAL SANGRENTO (Silent Night, Deadly Night)
Eis um filme que começa muito bem e bastante aterrorizante, com aquela cena na estrada do Papai Noel assassino (e ladrão e bêbado e estuprador) matando os pais do garotinho. Adoro a cena anterior, com a família visitando o avô no asilo. Impressionante. Mas acho uma pena que NATAL SANGRENTO (1984), de Charles E. Sellier Jr., se torne mais do mesmo e bastante desprovido de ideias quando chega o momento de o rapaz vestir a roupa de Papai Noel e sair matando as pessoas. É como se o roteirista não tivesse uma noção do que fazer a partir daquele momento a não ser reciclar as fórmulas dos slashers, que àquela altura já estavam ganhando até paródias. Ainda assim, ao ver o making of de mais de 40 minutos presente no box Slashers III, até que passei a ver o filme com um pouco mais de carinho, levando em consideração todo o trajeto que ele percorreu, e também imaginando como seria para alguém tão jovem ter contato com essa obra, principalmente lá nos anos 1980.
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