domingo, agosto 14, 2016
ÁGUAS RASAS (The Shallows)
Já faz pouco mais de 40 anos que Steven Spielberg trouxe um novo conceito de blockbuster, com o seu TUBARÃO. De lá pra cá, vários filmes em que o mais feroz animal do mar ataca suas vítimas foram realizados, embora poucos sejam dignos de lembrança, sendo que a grande maioria é composta por filmes B de gosto duvidoso. De produções marcantes que passaram no cinema nos últimos vinte anos, podemos contar nos dedos. Temos MAR ABERTO, de Chris Kentis, e DO FUNDO DO MAR, de Renny Harlin, por exemplo.
ÁGUAS RASAS (2016), de Jaume Collet-Serra, tira a maldição do filme ruim de tubarão, e sem fazer muito esforço. Há uma simplicidade na trama que é louvável, especialmente quando o que mais importa é feito com esmero: o clima de tensão envolvendo a surfista solitária vivida por Blake Lively e o tubarão impiedoso e sangrento.
É bom lembrar que Collet-Serra tem mantido uma média de bons filmes desde o início de sua carreira no cinema, com A CASA DE CERA (2005), e sempre pendendo para o terror e para o suspense, o que é uma iniciativa muito bem-vinda, levando em consideração a geração contemporânea pouco inspirada de realizadores de filmes de horror, em comparação com a geração dos anos 1970-80.
Uma das coisas que salta aos olhos logo no início de ÁGUAS RASAS é a paisagem linda da praia secreta onde a heroína vai parar. Dá para curtir a beleza das ondas gigantes quando a protagonista passa por várias delas até chegar às grandes. O embate da garota de biquíni contra o tubarão não deve frustrar as expectativas, especialmente pelo filme ser tão simples e tão eficiente em sua condução narrativa e na criação de uma atmosfera de tensão de deixar o sangue intoxicado.
E não deixa de ser admirável que o sucesso do filme esteja nas mãos praticamente de seu diretor talentoso, de uma atriz que convence bastante na pele de uma garota em perigo, mas também de uma moça ousada e cheia de coragem, e de efeitos especiais bem caprichados, mal dando para perceber que o tubarão foi gerado por computador. Há quem vá reclamar de uma dose maior de realismo no modo como a heroína lida com o seu algoz no final, mas o mesmo poderia ser dito com a personagem de Mary Elizabeth Winstead, em RUA CLOVERFIELD, 10, outro thriller de primeira estrelado por poucos atores e uma protagonista feminina forte.
Porém, enquanto o filme de Matt Reeves tem uma estrutura mais complexa, Collet-Serra opta pela simplicidade espartana, pela objetividade. Claro que há um contexto dramático que nos apresenta um pouco à intimidade da personagem de Lively, mas isso acaba funcionando mais como agente adicional do drama, uma maneira de fazer com que nos importemos com a personagem. Se bem que ele consegue fazer isso também com personagens que só aparecem em poucos minutos e que são vítimas potenciais do tubarão. Uma prova de que o diretor catalão domina a gramática do cinema muito bem. E talvez ÁGUAS RASAS seja o seu melhor trabalho.
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