quinta-feira, outubro 13, 2011
RENEGADOS ATÉ A ÚLTIMA RAJADA (Thieves like Us)
Não quis ir direto para o próximo filme de Nicholas Ray sem antes conferir a versão de Robert Altman para o romance "Thieves like Us", de Edward Anderson. Embora o enredo seja o mesmo, Ray e Altman oferecem trabalhos totalmente distintos. Até por viverem em tempos também bem distintos. RENEGADOS ATÉ A ÚLTIMA RAJADA (1974) tem a vantagem de ter sido realizado num tempo de mais permissividade para o cinema americano, o que contribuiu para algumas cenas mais sangrentas e para cenas de sexo entre os protagonistas (Keith Carradine e Shelley Duvall). Nada escadaloso, mas pelo menos não é algo censurado, proibido.
O anti-herói de Altman também é bem menos ingênuo do que o de Ray em seu AMARGA ESPERANÇA, que parece sempre estar deslocado, o que não deixa de ser uma característica do próprio Ray. Outra diferença gritante: enquanto Altman centra a maioria das cenas em plena luz do dia, são pouquíssimas as cenas diurnas no filme de Ray, o chamado "poeta do noite". Há também uma troca de um certo ar melodramático e de film noir por um naturalismo e uma simpatia pelas figuras marginais, que já era um tônica do cinema setentista desde BONNIE E CLYDE – UMA RAJADA DE BALAS, de Arthur Penn.
RENEGADOS ATÉ A ÚLTIMA RAJADA começa a ficar realmente bom a partir da segunda metade, quando as encrencas dos personagens vão se tornando mais graves, ao mesmo tempo em que vamos nos apegando aos personagens de Carradine e Duvall. Altman optou por fazer um retrato marcado da época, os anos 1930, com as pessoas viciadas em Coca-Cola ("faz bem para a saúde", diz a moça do carrinho), a ouvir Shakespeare no rádio, referências ao cavalo Seabiscuit e ao Neal Deal, lá pelo final do filme, o que mostra o clima de dificuldade financeira gerada pela Grande Depressão. O filme também tem uma duração bem maior e um andamento mais lento que o de Ray, o que explica as suas mais de duas horas de duração, que exigem do espectador um olhar quase europeu. No mais, sempre bom ver um filme de um grande diretor quando ele está no seu auge.
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