sexta-feira, julho 01, 2011

ALEXANDRIA (Ágora)



Alejandro Amenábar estava sumido desde MAR ADENTRO (2004), o filme que tirou o diretor do cinema de horror para os dramas classe A. ALEXANDRIA (2009) é a volta de Amenábar em grande estilo, fazendo desta vez um drama de época baseado na vida de Hipátia, filósofa dos séculos IV e V d.C., que até hoje é reverenciada. Não conhecia a sua história e fiquei fascinado. O filme trata de intolerância religiosa, no tempo em que conviviam em Alexandria os "pagãos", aqueles que cultuavam deuses egípcios, mas que também mantinham um forte elo com a sabedoria e o conhecimento dos gregos; um grupo de judeus que professavam sua fé de maneira discreta; e os adeptos da nova religião que se propagava em progressão geométrica, o Cristianismo, agora a religião oficial do Império Romano.

Pelo pouco que li sobre Hipátia na internet, ao que parece o filme não foi exatamente fiel aos fatos históricos, mas isso não tem a menor importância. Acredito que a essência foi mantida. Rachel Weisz é Hipátia e dá aula de ciências para um grupo de alunos devotos, a maioria, se não todos, homens. Daí já se percebe o destaque que uma mulher inteligente (e no filme, bonita, ainda por cima) ganha diante de um grupo de homens que a amam e respeitam. Ela é cobiçada por dois rapazes: um dos alunos, Orestes, que se tornaria prefeito da cidade, e o seu escravo, que vê com simpatia o Cristianismo.

Algumas sequências são de doer o coração, como a invasão dos cristãos ao templo onde se encontrava a biblioteca. Tanta coisa se perdeu por causa de tamanha ignorância e rivalidade. Os cristãos, de torturados, perseguidos e mártires, passaram a algozes. Mas os judeus é que não têm muita sorte mesmo, já que desde a época de José do Egito, que eles sempre foram um povo sem pátria. E nem dá para dizer que isso é castigo por causa da crucificação de Jesus. Essa sorte deles veio antes.

A produção do filme é de dar gosto. Apesar de falado em inglês, ele foi todo produzido com dinheiro espanhol. Não sei se chegou a se pagar, mas o importante é o excelente resultado artístico. ALEXANDRIA impressiona tanto pela narrativa ágil e empolgante, como pela construção de uma personagem tão rica e admirável quanto Hipólita, que não se dobrou à hipocrisia geral daqueles que se "converteram" ao Cristianismo apenas para salvar a própria pele. Tudo bem que salvar a própria pele é um motivo até justo, mas ter seus princípios é uma atitude tão nobre. E não é qualquer um que tem essa coragem, não.

Post dedicado à minha amiga Erika Bataglia, mestra em filosofia, especializada em Platão e uma autêntica filha de Minerva.

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