segunda-feira, maio 25, 2009
THE SKIN GAME
Tenho impressão que os produtores ingleses que financiavam os filmes de Alfred Hitchcock nas décadas de 20 e 30 provavelmente devem ter ficado com uma ponta de arrependimento quando viram no que se tornou o homem quando migrou para os Estados Unidos. Arrependimento por terem dado tantos trabalhos de encomenda que não interessavam ao cineasta, em vez de explorarem o seu potencial no que ele melhor sabia e gostava de fazer. Eram trabalhos que ele aceitava apenas por imposições contratuais e talvez por não ter ainda autoridade para dizer não. Assim, as obras de suspense, que eram as que mais importavam para Hitchcock acabaram sendo, durante a fase inglesa, exceções, entre comédias e dramas adaptados de peças teatrais de sucesso. No caso de THE SKIN GAME (1931), o nome do autor da peça é mais destacado nos créditos do que o nome do próprio Hitchcock. Ainda assim, comparando com outro filme baseado em peça teatral de sucesso feito um ano antes (JUNO AND THE PAYCOCK, 1930), THE SKIN GAME é uma evolução, no sentido de que o cineasta se mostra mais interessado em ousar nos movimentos e ângulos de câmera, muito mais elegantes. Destaque para a cena do leilão, onde a câmera fica pendendo de um lado para o outro, para simular o ponto de vista do leiloeiro. Ainda assim, prefiro uma cena externa, quando a câmera vai se afastando aos poucos de uma casa e temos uma visão da rua. O fato de a cópia ser da versão remasterizada do DVD francês ajuda um pouco a apreciar o belo visual do filme.
Todo esse capricho visual foi feito num momento em que ainda havia dificuldades com mixagem e edição de som. Assim, Hitchcock filmava tudo com quatro câmeras e uma só banda sonora para conseguir os melhores resultados. O uso do som direto no filme é bom, embora em alguns momentos, possa se sentir a voz dos personagens diminuindo à medida que eles vão se afastando da câmera. Pena que não era um fime exatamente do seu interesse, como era o trabalho imediatamente anterior, ASSASSINATO (1930), um de seus filmes mais importantes da fase inglesa. A trama de THE SKIN GAME envolve uma disputa entre famílias. O líder de uma delas é um novo burguês que quer investir em fábricas, expulsando os atuais habitantes do lugar e tirando a beleza rural da região. Essa decisão não é vista com bons olhos pelos vizinhos, um grupo de aristocratas que resolvem comprar a briga. Isso vai repercutir principalmente na vida da filha do novo burguês, que tem um segredo do passado que é posto em evidência, por causa do jogo sujo (o "skin game" do título) entre as duas famílias.
As melhores sequências do filme são os momentos de angústia da tal jovem. Ela tem uma expressividade impressionante e Hitchcock soube aproveitar bem isso. Nota-se que a câmera enamora-se da atriz. Mas no geral, o que acaba predominando mesmo é o tom teatral, numa trama que apesar de ter um final muito bom não consegue manter a atenção do espectador durante muito tempo. Eu, pelo menos, assisti meia hora, parei por ter me dispersado, e acabei começando a ver tudo de novo para entender melhor a trama, um pouco confusa, mas que vai se esclarecendo aos poucos.
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