Todo mundo sabe que O LENHADOR (2004), longa-metragem de estréia de Nicole Kassell, é um filme sobre a pedofilia. Mas o que pouca gente cita é a tristeza que é se sentir apenas mais uma peça na engrenagem, o vazio de ser um mero operário. Isso já é até comum ver em filmes americanos e até brasileiros - GAROTAS DO ABC, um dos mais recentes filmes do Carlão, por exemplo, fala sobre a valorização do tempo livre em detrimento das horas que passamos fazendo algo que não tem importância para nós a não ser pela necessidade do dinheiro. Eu, por exemplo, que tenho trabalhado dia e noite, valorizo mais e mais o tempo livre, o tempo que nos sobra para fazer o que estamos com vontade. E olha que os meus trabalhos até que me dão alguma autonomia e liberdade. Liberdade, por exemplo, de estar escrevendo para um blog agora.
Em O LENHADOR, quando o psicólogo pergunta para o personagem de Kevin Bacon como está indo o trabalho e a adaptação, ele apenas diz que está o.k. Não há entusiasmo. Apenas uma certa indiferença. Ainda que ele já tenha estado alguns anos na cadeia por abuso infantil, isto é, numa situação muito pior, ele parece não ter motivos para comemorar. Nem mesmo tem amigos para sair para tomar uma cerveja e esquecer um pouco a vida difícil que leva. Aquilo que ele mais gosta de fazer é proibido, é errado, é pecado, é crime. Ainda por cima, ele sofre preconceito até da própria família, que não deixa que ele se aproxime da sobrinha.
E o que fazer para controlar esse desejo sexual por garotinhas? Lembrei de um livro do Osho em que ele dizia que no futuro, não haverá mais problemas desse tipo, já que as pessoas com esse tipo de doença, poderão simplesmente fazer uma cirurgia no cérebro e pararão de sentir esse tipo de desejo. Osho acreditava que pedófilos e estupradores não tem poder para controlar os seus atos, não são responsáveis por eles, não são criminosos normais, mas pessoas com problemas mentais que precisam de tratamento médico.
Quando vi O LENHADOR, lembrei de uma cena de M - O VAMPIRO DE DÜSSELDORF, de Fritz Lang, em que Peter Lorre, o assassino de crianças, pede clemência à multidão que o quer morto. Naquele instante, senti uma grande compaixão por ele. Senti o mesmo na cena mais forte de O LENHADOR, que é a cena em que Kevin Bacon está sentado num banco de um parque com uma garotinha e ele pede pra que ela sente no seu colo. Aquela é a cena chave do filme. Até por explorar muito bem o simbolismo da história de Chapeuzinho Vermelho, com a garotinha vestida de vermelho, com gorro e tudo. Naquele momento, parecia que a platéia do cinema parava até de respirar. Desde já um dos grandes momentos do cinema nesse ano.
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