quarta-feira, março 03, 2004

FESTIVAL WILLIAM WYLER



Acabando com o meu estoque de assuntos para essa semana (acho difícil conseguir ver filmes até sábado, por causa do excesso de trabalhos e preocupações), comento a seguir quatro filmes de William Wyler, o "estilista sem estilo", que assinou obras extraordinárias como O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (1939) e O COLECIONADOR (1965). Por causa de uma discussão num post anterior, fiquei com vontade de ver o que eu tinha de Wyler nas minhas fitas. Todos os filmes foram gravados de exibições na Rede Globo, exceto PÉRFIDA, que foi visto em fita original da Editora Altaya.

JEZEBEL

Sabe que a Bette Davis até que era bem bonita nos anos 30? Depois é que de tanto interpretar megeras (fez até filmes de horror psicológico) foi se enfeiando, até chegar ao cúmulo do ridículo em O QUE TERIA ACONTECIDO A BABY JANE? (1960), de Robert Aldrich. JEZEBEL (1938) é uma espécie de preview de E O VENTO LEVOU, feito um ano depois. Ambos os filmes se passam no sul dos EUA, durante a Guerra Civil e mostram anti-heroínas de forte temperamento e com vontade de derrubar tabus na sociedade. É claro que JEZEBEL é um filme menor, em comparação com o filme de Fleming, mas é um belo trabalho. A cena mais famosa é a tal cena do baile, em que Bette Davis vai vestida de vermelho, quando na época todas as mulheres de respeito da sociedade deveriam vestir branco. O objeto de desejo de Davis aqui é Henry Fonda, que fica engraçado com as roupas da época. Em vez de o filme focalizar na guerra em si, há o problema da febre amarela, epidemia que assolou os EUA no final do século XIX.

PÉRFIDA (The Little Foxes)

Aqui, Bette Davis já está com as feições de uma completa jararaca, ainda que cheia de elegância. PÉRFIDA (1941) é um filme que se passa no ano de 1900. Quem viu SEABISCUIT sabe que assim que o século XX começou os EUA receberam um boom de lucros e negócios bem sucedidos. É nesse período que antecede à Grande Depressão que se passa a história. PÉRFIDA, por ser adaptado de uma peça de teatro, no começo é meio aborrecido, mas depois quando a trama vai ficando intrincada e a gente começa a simpatizar com os personagens - especialmente o do marido doente de Davis -, o filme vai ficando mais e mais interessante. Inclusive, o final eu achei perfeito. Tinha que terminar daquele jeito mesmo, com a expressão de medo e solidão de Davis, tendo que conviver com seus fantasmas e aprender que dinheiro sujo não traz felicidade.

A PRINCESA E O PLEBEU (Roman Holiday)

Esse é o filme que me fez ficar apaixonado pela Audrey Hepburn. Que coisa linda que era aquela mulher. Não tem pra ninguém em papel de princesa. Talvez só a Grace Kelly pudesse se equiparar (ela até foi princesa de verdade), mas ela tinha mais sex appeal que a Audrey, que tinha um tipo mais inocente e angelical. Não por acaso, Spielberg chamou-a para fazer um papel angelical na sua despedida das telas em ALÉM DA ETERNIDADE (1989), antes de ser vencida pelo câncer. A PRINCESA E O PLEBEU (1953) é um filme quase impossível de desagradar a quem quer que seja. Até mesmo àquelas pessoas que não tem interesse em filmes antigos e em preto e branco. É assistir sem medo e curtir os bons momentos da história da princesa inglesa que se sente presa às obrigações e dá uma escapulida pra conhecer a cidade de Roma. Ela vai parar na casa do repórter Gregory Peck , que nem desconfiava que ela era a princesa. De derramar lágrimas a seqüência final. O filme foi rodado nos estúdios da Cinecittá. Agora eu fiquei com vontade de ver BONEQUINHA DE LUXO (1961). Vou alugar o DVD assim que puder.

SUBLIME TENTAÇÃO (Friendly Persuasion)

Esse Wyler de 1956 é uma espécie de "western familiar", isto é, apesar de a história se passar nos EUA do Norte durante a Guerra Civil e lá pelo final ter uma seqüência de tiros, o filme é um drama sobre uma família de quakers e sua rotina de ir pra igreja e se relacionar com a comunidade. Eu achei um filme bem bonito, com personagens fáceis de se gostar. No elenco está Gary Cooper como o patriarca da família que é meio que mandado pela mulher, Dorothy Maguire, que consegue ser irritante e adorável ao mesmo tempo. Uma curiosidade para os fãs de PSICOSE (1960) é encontrar Anthony Perkins no papel do filho de Cooper. Bem diferente, e ainda sem aquela cara de freak, que ele nunca mais conseguiu largar depois de encarnar o Norman Bates. SUBLIME TENTAÇÃO é um desses filmes que elevam o espírito, fazendo a gente rir de satisfação.

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