FESTIVAL CHARLES BRONSON
De uns tempos pra cá, uma coisa que eu aprendi, pelo menos no que se refere a cinema , foi não ter preconceito com nenhum filme. Acho que o fato ter sido leitor assíduo da saudosa coluna do Reichenbach e de ter conhecido vários amigos cinéfilos muito bacanas em listas de discussão me ajudou a perder esse preconceito. Lembro que antes ficava cismado com vários filmes de ação, por exemplo. Hoje sou capaz de encarar qualquer tipo de filme. Até os filmes de ação mais vagabundos e picaretas. Se bem que não consegui ainda parar pra ver um filme sequer com o Chuck Norris ou o Steven Segal.
Mas Charles Bronson é diferente. Alguns dos filmes que ele participou, eu começava a ver e continuava assistindo até o final. Durante um tempão, DESEJO DE MATAR III era o meu guilty pleasure. Digo "era" porque de uns tempos pra cá, começaram a falar tão bem desse filme, que hoje chego a pensar que ele talvez seja realmente bom. Hehehe.
Bronson fez ótimos filmes, mas em alguns dos melhores, ele não é o protagonista, como os clássicos SETE HOMENS E UM DESTINO (1960), de John Sturges, e ERA UMA VEZ NO OESTE (1968), de Sergio Leone. Um papel bonito dos mais tardios é o do homem velho que, desamparado com a morte da esposa, tira a própria vida. Isso foi no filme UNIDOS PELO SANGUE (1991), de Sean Penn. O papel caiu com uma luva pra Bronson, que tinha perdido a esposa Jill Ireland, também atriz, para o câncer de mama.
Bronson morreu há alguns dias. No dia 30 de agosto, pra ser mais exato. De pneumonia. Mas ele já estava bem debilitado. Estava com o Mal de Alzeheimer. Nem se lembrava mais que tinha sido ator. Rubens Ewald Filho fez uma bonita homenagem a ele no site E-Pipoca. Vale ler.
A Rede Globo homenageou o homem, colocando quatro filmes estrelados por ele no Intercine. Os filmes dão uma boa mostra do que ele fez. Tem filme bom e filme ruim. Comento rapidamente cada um deles.
DESEJO DE MATAR (Death Wish)
Talvez DESEJO DE MATAR (1974) seja o filme mais famoso de Bronson. Eu nunca tinha assistido e gostei bastante. È claro que a história é bem simplista e muita gente acusa o filme de ser fascista e tal, mas é um filme que tem suas qualidades. A vantagem desse filme em relação às suas continuações é que o personagem Paul Kersey, o matador de bandidos, está começando ainda a sua carreira de caça-bandidos. Logo, no começo, ele sente tremedeiras, fica nervoso. Isso torna o personagem de Bronson bem mais humano, diferente do que ele iria se tornar nas outras quatro continuações: um matador frio. O diretor Michael Winner ainda dirigiu duas seqüências do filme. Uma curiosidade: Jeff Goldblum é um dos bandidos que matam a mulher de Bronson no começo do filme.
FUGA AUDACIOSA (Breakout)
Esse filme de 1975 traz Robert Duvall (bem novo e ainda com cabelos) como um homem que é preso injustamente. Sua esposa (Jill Ireland) contrata um homem (Bronson) para tirá-lo da prisão, no México. O filme é muito divertido, especialmente quando mostra as tentativas frustradas de Bronson de tirar o homem da prisão. Mas cá pra nós, que prisão fuleira é aquela que bastar entrar de helicóptero que você leva quem quiser?? hehehe O filme ainda traz no elenco o diretor John Huston, como um dos malvados da história.
DESEJO DE MATAR IV - OPERAÇÃO CRACKDOWN (Death Wish 4: The Crackdown)
DESEJO DE MATAR IV (1987) é o pior filme de Bronson que eu já vi. Horroroso. E dizem que DESEJO DE MATAR V é ainda pior. Uma vergonha. Nesse filme, o matador de bandidos Paul Kersey, vira um verdadeiro terrorista (do bem ?), jogando bombas para explodir vários bandidos de uma só vez. A direção não é mais de Michael Winner, mas de J. Lee Thompson, parceiro de Bronson em vários outros filmes. De qualquer maneira, vale pela cena das duas gangues se degladiando.
À QUEIMA-ROUPA (Family of Cops)
FAMILY OF COPS foi a última série de filmes que Bronson fez. Esse é o primeiro da trilogia, iniciada em 1995. Ainda houve duas continuações, em 1997 e 1999, mas parece que nessa última Bronson estava muito mal de saúde. O filme lembra um pouco séries policiais de tv que enfatizam também os relacionamentos em família. Eu achei o filme surpreendentemente bom. Bronson é o inspetor de polícia que tem dois filhos policiais, uma filha advogada e uma que é maluquinha rebelde. A filha rebelde acorda na cama de um milionário. Ele está morto com um tiro na cabeça. Bronson e a família tenta inocentar a filha e descobrir os verdadeiros assassinos. Em algumas seqüências, o filme chega a ser emocionante. Muito boa a carga dramática, o sentimento de união da família. Gostei do aspecto sereno de Bronson, que curiosamente no filme também era um viúvo. Bom filme de Ted Kotcheff, diretor do bom RAMBO: PROGRAMADO PARA MATAR (1982). Feito para tv.