domingo, junho 08, 2003

OS PÁSSAROS (The Birds)



Eu de novo. Dessa vez pra falar de outro Hitchcock: OS PÁSSAROS, um dos filmes mais impressionantes do mestre do suspense. Ver o filme dá a impressão de que ele é um milagre. Um milagre realizado por um deus do cinema. Em 1963, ano de produção do filme, não havia computação gráfica, efeitos CGI e coisas do tipo. Era tudo muito trabalhoso. Eles utilizaram pássaros de verdade, treinados por experts, alguns pássaros mecânicos, pássaros de papel, técnicas para incorporar pássaros em cena, múltiplos cortes de celulóide pra ajudar na ilusão. Um trabalhão realizado por gente de coragem.

Lembro que quando eu ia pra uma igreja evangélica na infância e adolescência, o pastor de vez em quando comentava que cada vez mais se via menos aves no céu. Que elas estavam se preparando para o dia da grande tribulação, quando o planeta iria viver os dias do Apocalipse. Aquilo, junto com a história do arrebatamento da igreja, me deixava aterrorizado. Nem sei se tem na Bíblia essa história dos pássaros surgirem pra atacar o homem, mas no filme de Hitchcock o tom apocalíptico não encontra concorrente à altura.

Numa determinada cena no bar da cidade, um bebum grita, diante de rumores de ataques dos pássaros: "É o fim do mundo!". Talvez o filme que mais se aproxima desse tom apocalíptico (que eu tenha visto) tenha sido ZOMBIE: O DESPERTAR DOS MORTOS (1978), de George Romero.

Uma coisa fascinante no filme é o silêncio, só interrompido pelo diálogo dos personagens e pelo som dos pássaros e dos objetos que eles quebram. Bernard Hermann é apenas o consultor de efeitos sonoros. A falta de uma trilha dá uma sensação de estranheza no ar, deixando o filme com clima de pesadelo.

As minhas cenas preferidas são: a do ataque dos pássaros às crianças; a visão de cima mostrando o estrago feito pelos pássaros na cena do posto de gasolina; os ataques finais à casa, que devem ter sido inspiração pra filmes como A NOITE DOS MORTOS-VIVOS(1968), de George Romero, SOB O DOMÍNIO DO MEDO (1971), de Sam Peckinpah e ASSALTO À 13ª D.P. (1978), de John Carpenter, entre outros.

Outra coisa impressionante é que o filme se sustenta durante 40 minutos sem ataques "de verdade" dos pássaros. Hitchcock estava construindo um drama familiar, onde uma estranha (Tippi Hedren) surgia numa cidade a fim de um romance com um sujeito (Rod Taylor) que vivia com uma mãe possessiva (Jessica Tandy). A família com problemas é bem a cara de Hitchcock.

Os extras

Nos extras, a atração principal é um documentário de 79 minutos sobre os bastidores do filme. Há muitos detalhes técnicos, já que o filme tem muitos efeitos especiais. Mas há também uma declaração emocionante de Tippi Hedren (ainda uma bela senhora) que conta de quando era uma modelo em decadência e foi parar num filme de Hitchcock. Só vendo a história, hein. O teste que Hitch fez com ela, é outro dos extras do DVD. Ela fez o teste com o ator que fez o detetive Arborgast em PSICOSE. Por falar em PSICOSE, a técnica de múltiplos cortes usada na cena da banheira, aparece novamente em OS PÁSSAROS, numa cena do fim do filme.

Rod Taylor está velhão e bem diferente do galã que era no filme.

Comenta-se o final alternativo, que também achei muito bom. O script com esse final também é outro extra.

O trailler do filme é bem grandinho (quase 5 minutos) mostrando Hitchcock falando com o público sobre o relacionamento do homem com os pássaros, o aparecimento de armas de fogo e outras coisas que o meu inglês não soube entender, até o aparecimento de Tippi Hedren, gritando aterrorizada. Fico imaginando um trailler desses hoje em dia no cinema. Como seria a reação do público? De inquietação ou de interesse?