quinta-feira, dezembro 19, 2002
TÚMULO SINISTRO (The Tomb of Ligeia)
O último filme do ciclo Roger Corman-Poe-Vincent Price que o Fab Rib gravou pra mim. Bom, eu precisaria rever o filme com mais calma. Sei que eu estava muito disperso, o filme não conseguiu prender a minha atenção. Fazendo um balanço dos cinco filmes da fita, em ordem de preferência, um top 5:
1. O CASTELO ASSOMBRADO (The Haunted Palace)
2. MURALHAS DO PAVOR (Tales of Terror)
3. TUMULO SINISTRO (The Tomb of Ligeia)
4. ORGIA DA MORTE (The Mask of the Red Death)
5. O CORVO (The Raven)
TUMULO SINISTRO é baseado no conto "Ligeia" de Edgar Allan Poe. Esse é um dos contos de Poe que eu mais gosto. E pelo que eu pude notar, o mais autobiográfico dos contos dele. Abaixo, transcrevo um trecho da minha monografia de final de curso que tenta traçar um paralelo entre a vida e a obra do escritor maldito. Com relação ao filme, eu gostei do começo, mostrando o enterro de Ligeia, a música tema enquanto aparecem os créditos também é belíssima e o tom sério do filme é bom, mas funcionaria melhor se Vincent Price não fosse tão canastrão. Por isso não dá pra levar tão a sério. (Ah, por falar em Vincent Price, hoje no canal Mundo tem #Biografia - Vincent Price# às 21 hs. Quero gravar.) Outra coisa que me encheu o saco foi aquele gato que aparecia a todo momento tentando assustar. O bom é que do meio pro final o filme melhora, ganha ritmo. Um dos bons filmes do homem, mas o meu preferido dele continua sendo FRANKENSTEIN UNBOUND, filme que eu tive o prazer de assistir no cinema e até hoje é o melhor filme de Frankenstein que eu já vi.
Abaixo, trecho da monografia comentando as semelhanças entre o conto e o que acontecera com sua esposa Virginia, acometida por uma grave doença:
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Em "Ligeia", o narrador tenta se lembrar de quando conheceu sua amada esposa; acha que a causa desse esquecimento vem de uma memória fraca de tanto sofrimento. Na passagem abaixo podemos identificar a pessoa de Poe, já exausto por causa dos sofrimentos que o destino lhe reservara, se entregando à pessoa do personagem:
I cannot for my soul, remember how, when, or even precisely where, I first became acquainted with the Lady Ligeia. Long years have since elapsed, and my memory is feeble through much sufferring.
Poe perdera sua esposa, Virginia, em janeiro de 1847. "Ligeia" trata da perda de uma esposa amada, tendo o narrador demonstrado, logo no início do conto, o quanto sente sua falta, numa narrativa de tom extremamente melancólico, como podemos ver a seguir :
Buried in studies of a nature more than all else adapted to deaden impressions of the outward world, it is by that sweet word alone - by Ligeia - that I bring before mine eyes in fancy the image of her who is no more.
Apesar de todo o talento de Poe para o grotesco e o horroroso, não há em toda a sua obra uma única passagem que tenha explorado a luxúria ou mesmo as indulgências sensuais. Seus retratos de mulheres são aureolados; brilham de maneira sobrenatural e são pintados à maneira de um adorador. Em "Ligeia", a descrição da personagem-título confirma essa idolatria. Ligéia parece mais uma criatura divina do que uma pessoa de carne e osso. No entanto, o padrão de beleza perfeita para Poe tinha como detalhe físico uma pele pálida. Vejamos abaixo um techo da descrição de Ligéia:
I examined the contour of the lofty and pale forehead - it was faultless - how cold indeed that word when applied to a majesty so divine! - the skin rivalling the purest ivory, the commanding extent and then the raven-black, the glossy, the luxuriant and naturally-curling tresses...
A mais espantosa semelhança com a vida de Poe em "Ligeia" está nas coincidências entre um trecho encontrado em uma de suas cartas e o momento do clímax do conto. Sabe-se que, perto do final do conto, o narrador presencia sua segunda esposa, Lady Rowena, já estendida, morta em sua cama de ébano, recuperar o rubor em seu rosto e, também, voltar a respirar levemente. Ele presencia esse reviver e morrer alternados durante várias horas da noite. Comparemos essa parte do conto com o trecho de uma carta que Poe escreveu a George W. Eveleth, em janeiro de 1848:
Seis anos atrás, uma esposa, a quem amei como nenhum homem jamais amou, rompeu um vaso sangüíneo durante o canto. Sua vida foi dada como perdida. Me despedi dela para sempre e passei por todas as agonias de sua morte. Ela se recuperou parcialmente e de novo tive esperança. Ao final de um ano o vaso partiu-se novamente - passei exatamente pelo mesmo drama. Novamente cerca de uma ano depois. Então de novo - de novo - de novo e ainda mais uma vez a intervalos variados. Todas as vezes eu sentia todas as agonias de sua morte - e a cada acesso do distúrbio a amava com maior ternura e me aferrava à sua vida com mais desesperada pertinácia. (...) Tinha realmente quase abandonado qualquer esperança de uma cura permanente quando encontrei uma na morte de minha esposa. Isto posso e de fato suporto como cabe a um homem - era a interminável e terrível oscilação entre esperança e desespero que eu não conseguia mais suportar sem a perda total da razão. Na morte do que era minha vida, então, recebi um novo golpe - ó Deus! como é triste uma existência.
Ao ler carta tão trágica, e ao perceber a espantosa coincidência que ela traz em relação ao conto, parece impossível não ligar a vida à obra de Edgar Allan Poe. Começando como um "copiador" do estilo de alguns escritores ingleses e alemães, Poe se tornou um autêntico romântico, tendo sua vida trágica estampada nas páginas de seus contos, ensaios, cartas e poemas.
(Texto escrito durante o segundo semestre de 1998)
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