terça-feira, janeiro 03, 2012

UM DIA (One Day)



Tenho o hábito de reescrever a lista de filmes vistos no cinema em uma agenda desde 1998. Quase todos os anos, quando mudo de agenda, eu reescrevo essa lista. Muita gente acha o processo trabalhoso e inútil, que eu deveria ter um caderninho exclusivo para isso, mas, no fim das contas, cada título que eu reescrevo é um "filme" da minha vida que passa pela minha cabeça. Lembro as circunstâncias daquele dia, com quem assisti o filme, como estava me sentindo naquele momento. Assim, lembrar esses filmes funciona como um gatilho para a memória. Deveria ter tido a ideia de fazer essa lista muitos anos antes, inclusive.

E foi mais ou menos pensando um pouco na minha vida que eu curti a sessão de UM DIA (2011), segunda incursão em produção em língua inglesa da diretora dinamarquesa Lone Scherfig, que ganhou destaque internacional com o drama EDUCAÇÃO (2009). De UM DIA, eu só li basicamente opiniões ruins, inclusive o vi até em lista de piores do ano. Por isso, para minha surpresa, a apreciação do filme foi das mais prazerosas. Claro que teve esse lado meio "egoísta", de eu ficar pensando também em mim, que contribuiu para que eu gostasse da experiência de ver os anos passando. Um dia em particular, 15 de julho, é mostrado, no encontro de um casal de amigos que desde 1988 se reúne para falar de suas vidas. Ou simplesmente para usufruir da companhia agradável do outro. Há também uma forte relação de afeto entre os dois. E isso é o principal motor do filme. A relação deles vai além da simples amizade. Digo isso, sem querer diminuir a amizade, o mais nobre dos sentimentos. Mas é que quando um relacionamento é também de respeito e amizade, ele é mais bonito, mais sincero.

Anne Hathaway e Jim Sturges formam esse belo casal, vivendo a vida, cada um à sua maneira. Ele é um pouco do que eu gostaria de ser: extrovertido, bonitão, popular. O que não quer dizer que ele não tenha seus problemas sentimentais, profissionais etc. Ela é uma garota que começa o filme meio desengonçada e vai ficando mais bonita, mais elegante, mais refinada, intelectualmente. E não é que eles só se encontrem no dia 15 de julho. O filme é que recorta essa data, especificamente, que é também especial para eles, pois é a data em que eles se encontram pela primeira vez e é a data em que eles mais sentem falta um do outro. UM DIA pode ser bem doloroso no final, mas ao mesmo tempo o epílogo, com o resgate de uma cena do passado dos dois, em tom de revelação, eterniza um grande momento. E essa não é uma das funções ou, pelo menos, uma das grandes pretensões da arte?

P.S.: O Pipoca Moderna publicou as listas dos melhores filmes de 2011 de cada crítico e colaborador. Confiram AQUI!

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