sexta-feira, janeiro 20, 2012

MACAO



Já faz algum tempo que tenho interesse pela obra de Josef von Sternberg, conhecido por seus filmes barrocos, por seu cuidado com os detalhes, por suas imagens suntuosas e por sua parceria com Marlene Dietrich, o seu grande amor. Ainda pretendo um dia voltar a ele, mas por enquanto fico só com MACAO (1952), uma de suas obras tardias, só porque por acaso Nicholas Ray esteve envolvido.

No livro "Afinal, quem faz os filmes", de Peter Bogdanovich, o cineasta parece extremamente rude para com o entrevistador, passando uma má vontade enorme. Só para dar um exemplo, sobre MACAO, Bogdanovich perguntou: "O que foi mudado em MACAO? Consta que Nick Ray redirigiu diversas cenas". Ele respondeu: "Não sei, não vi o filme." E basicamente todas as respostas são assim. Curtíssimas, frustrantes para um entrevistador. Mas ele devia ter lá suas razões. Falemos um pouco do filme.

O que mais me deixou intrigado com MACAO foi o fato de que o filme se concentra mais na história de amor dos personagens de Robert Mitchum e Jane Russell do que na trama policial. No prólogo, um policial americano de Hong Kong é assassinado pelos policiais corruptos de Macau. Que, aliás, é um lugar que por si só já é um achado de tão diferente. Macau, cujas línguas oficiais são o chinês e o português, tem uma arquitetura única, poucas vezes aproveitada no cinema. Só lembro de ter visto o lugar em um filme uma única vez: em EXILADOS, de Johnny To.

Depois do prólogo, o filme volta os olhos para três viajantes chegando a Macau de barco: os personagens de Robert Mitchum, Jane Russell e William Bendix. Cada um deles guarda segredos sobre suas vidas, passando um ar misterioso que permanece até os momentos finais do filme. E esse mistério se mistura com o incômodo do policial local, que quer, a todo custo, se livrar de Nick Cochran, o personagem de Mitchum. Este, por sua vez, quer mais é mostrar o seu charme para Julie Benson, a atraente personagem de Jane Russell. Ela passa uma imagem de mulher forte e independente, embora no fundo queira mesmo encontrar um homem que a respeite e a ame, como se pode notar na bela sequência do passeio de barco à noite.

E é graças ao aspecto romântico que se sobressai sobre a trama policial que eu mais gostei do filme. Mas claro que não só por isso. O conjunto em si é bem agradável: o clima noir, as noites perigosas, o mistério envolvendo os personagens, a geografia de Macau, a grande surpresa no final. Tudo isso contribui para o sucesso artístico de MACAO, uma bela parceria involuntária de dois grandes cineastas.

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