sexta-feira, janeiro 13, 2012

180º



Às vezes penso que fui equivocado ao dizer que 2011 foi um ano ruim para o cinema nacional. O que pode ter acontecido é que os melhores filmes foram lançados em pouquíssimas cópias, ficando restritos, pelo menos inicialmente, a Rio e São Paulo. Mesmo quando vejo que, ao sair da sessão de 180º (2011), a maior parte do público ficou rindo com o final, como se estivesse se sentindo enganado, sinto que é tudo questão de se adaptar a novos estilos de narrativa, a novas experimentações. E é isso que eu tenho percebido nesses novos filmes brasileiros, de cineastas novos: uma vontade de inovar e de não se preocupar muito com o sucesso comercial. Mesmo quando tem no elenco um ator conhecido como Eduardo Moscovis.

A opção por um roteiro intrincado, com idas e vindas no tempo, faz do longa-metragem de estreia de Eduardo Vaisman uma espécie de quebra-cabeças que vai se revelando aos poucos, à medida que as peças do passado e do futuro vão se juntando. Na trama, Moscovis é Russell, um ex-jornalista que teve um relacionamento sério com Anna (Malu Galli). Agora ele vive sozinho num lugar afastado da cidade, onde se cultiva laranjas. Ele recebe a visita de Anna, que também era jornalista e agora é editora e namora Bernardo (Felipe Abib), que também fazia parte do mesmo grupo de jornalistas, mas que se transformou num escritor bem-sucedido após escrever um livro inspirado num bloco de anotações que encontrara.

No campo das interpretações, quem mais se destaca no filme é Malu Galli, que compõe uma Anna sofrida quando se separa de Russell. A atriz parece ter passado por algum tipo de regime, já que quando se mostra feliz nos flashbacks com Russell, Anna é bela, feliz, de bem com a vida. A mudança e a insatisfação com o novo parceiro ficam visíveis logo no começo. Mas o ideal é ver 180º sem saber nada a respeito, deixar-se levar pela trama. A montagem acertada contribui para impor um ritmo ágil e tenso. 180º pode até não ser um grande filme, mas traz, sem dúvida, um fôlego novo e bem-vindo para o nosso cinema.

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