quarta-feira, dezembro 31, 2025

TOP 20 2025 E O BALANÇO DO ANO





1. O AGENTE SECRETO, de Kleber Mendonça Filho
2. MISERICÓRDIA, de Alain Guiraudie
3. A ARTE DO CAOS, de Thomas Arslan
4. OESTE OUTRA VEZ, de Erico Rassi




5. DREAMS, de Dag Johan Haugerud
6. FAÇA ELA VOLTAR, de Danny e Michael Philippou
7. SONHOS DE TREM, de Clint Bentley
8. SORRY, BABY, de Eva Victor




9. FLOW, de Gints Zilbalodis
10. A HORA DO MAL, de Zach Cregger
11. TWINLESS – UM GÊMEOS A MENOS, de James Sweeney
12. ANORA, de Sean Baker




13. NOSFERATU, de Robert Eggers
14. THE MASTERMIND, de Kelly Reichardt
15. O QUE A NATUREZA TE CONTA, de Hong Sang-soo
16. UMA BATALHA APÓS A OUTRA, de Paul Thomas Anderson




17. A LONGA MARCHA – CAMINHE OU MORRA, de Francis Lawrence
18. A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA, de Vera Egito
19. BEATING HEARTS, de Gilles Lelouch
20. PECADORES, de Ryan Coogler

Menções Honrosas (em ordem alfabética)

CONCLAVE, de Edward Berger
DROP – AMEAÇA ANÔNIMA, de Christopher Landon
HOMEM COM H, de Esmir Filho
MANAS, de Marianna Brennand
MORRA, AMOR, de Lynne Ramsay
O BRILHO DO DIAMANTE SECRETO, de Hélène Catet e Bruno Forzani
O ÚLTIMO AZUL, de Gabriel Mascaro
PEDAÇO DE MIM, de Anne-Sophie Bailly
SOL DE INVERNO, de Hiroshi Okuyama
TRILHA SONORA PARA UM GOLPE DE ESTADO, de Johan Grimonprez

O ano de 2025 não foi fácil. Talvez para ninguém. Vivemos “uma batalha após a outra” num ano que já começou estranho, com uma atmosfera pesada no ar. (Não acho uma coincidência a palavra “batalha” aparecer em dois dos títulos presentes, enquanto a palavra "sonhos/dreams" em mais dois e há também a palavra “misericórdia” ajudando a compensar um pouco.) Logo no mês de janeiro recebemos a triste notícia da partida de David Lynch. E isso me atingiu como a partida de um amigo querido. Foi como se, sem Lynch neste plano, o que havia de engraçado e até de leve nos aspectos mais densos da nossa vida passasse a não mais existir. Mas sei que isso foi só uma breve impressão negativa que tive. Afinal, a vida continua e Lynch segue vivo na arte, essa sim, tem prazo de validade quase eterno. Ou pelo menos enquanto este mundo ou a humanidade durar.

No campo pessoal, as coisas mudaram bastante para mim na rotina do lar, do meu lar de então, com minha mãe sendo hospitalizada e passando vários dias no hospital, e voltando para casa mais frágil e mais carente da atenção dos filhos. Com meu ensaio para sair de casa para morar com a Giselle, esse evento com minha mãe acabou por fazer com que eu visse a saída como uma necessidade imediata de mudança. Afinal, minha mãe tem quatro filhos e minhas irmãs deveriam passar a colaborar mais ativamente num esquema de revezamento.

Que tem dado certo, assim como tem dado certo demais a minha primeira experiência morando com alguém. Demorou, né? Mas tinha que ser com ela, sendo a Giselle alguém tão especial para mim, que considero o mais próximo de uma alma gêmea que possa haver em minha existência. Assim, fico feliz de ter conseguido transformar o “terrível ano de 2025” no “adorável ano de 2025”. Feliz de ter conseguido vencer os monstros interiores, principalmente uma “paralisia” parecida com a dos personagens de Dublinenses, do Joyce. Foi uma vitória e tanto. E por isso vejo esta virada de ano como a mais feliz de minha vida. Para isso agradeço a Giselle, mas também meu analista, o Dr. Fabrício.

Como sabemos (e essa é a hora que começo a falar um pouco dos filmes), muitos monstros habitam dentro de nós. E esses tempos de ansiedade generalizada têm feito com que alguns realizadores busquem lidar com essas questões em seus trabalhos, como foram os casos de SORRY, BABY, ao tratar de depressão e suicídio de maneira delicada, enquanto SONHOS DE TREM lida com o que resta da vida de um homem após uma grande perda. TWINLESS – UM GÊMEO A MENOS também lida com uma perda e, paralelamente, com uma tentativa de aproximação, assim como DREAMS é um exemplar de como a perda e a posterior tristeza podem também funcionar como combustível para o crescimento de uma pessoa que passou por uma desilusão amorosa. Com exceção desse último, que é norueguês, os outros três vêm do cinema independente americano, que tem se mostrado espiritualmente rico, ao reverberar as angústias da sociedade contemporânea.

A figura do perdedor também se manifesta em pelo menos mais dois filmes desse top 20: o sul-coreano O QUE A NATUREZA TE CONTA e o americano THE MASTERMIND, de dois realizadores deste novo século. Um deles apresenta um homem que acredita ser um poeta, quando na verdade está abaixo da mediocridade; e o outro imagina ser uma grande mente criminosa capaz de efetuar um inteligente roubo num museu. O cinema brasileiro também toca na ferida de algo que aflige especialmente os homens: a solidão após ter sido deixado pela mulher amada, com OESTE OUTRA VEZ. Mas não apenas isso: convida a refletir sobre a incompetência e a brutalidade masculinas em embate com uma sensibilidade que existe, mas que nem sempre está de fácil acesso. Junto com o brasileiro, temos três filmes que lidam com certa fragilidade masculina, por mais que a poética dos realizadores seja completamente distinta.

O fracasso também surge em outras duas produções bastante aclamadas em premiações: o conto de fadas às avessas ANORA e o filme de ação com misto de comédia de erros UMA BATALHA APÓS A OUTRA. É interessante ver esse tipo de filme se destacando num momento em que os filmes de super-heróis estão em baixa, ou filmes com homens musculosos em missão. (Aliás, não vou falar deles, mas até os filmes de super-heróis deste ano também entraram nesta vibe.)

Entre os vinte filmes, até as histórias de amor ganharam um sabor agridoce, como é o caso de BEATING HEARTS, um mix de filme de gângster com história de amor. Já A ARTE DO CAOS, policial alemão com um ar de polar (francês) e grande cinema, tanto em seu aspecto plástico, quanto na condução da trama e da ênfase na solidão do herói, um ladrão profissional. Falando em crime e lembrando de Lynch e do surrealismo tão comumente relacionado a Lynch, este tipo de filme com ares de sonho segue presente em outros trabalhos de peso, como foi o caso do incrível MISERICÓRDIA, uma comédia de mistério à Buñuel, mas com a característica queer comumente presente nos trabalhos de seu realizador.

Quanto ao cinema brasileiro, que tem uma tradição mais realista, o fantasma da ditadura ainda segue assombrando, mas também servindo de combustível para a criatividade de grandes realizadores. E, nesse sentido, tivemos a honra de ver no cinema filmes de grande pujança como O AGENTE SECRETO e A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA, ambos sobre os anos de chumbo. Um deles está conquistando grande reconhecimento mundial; o outro precisa ser mais conhecido e é elaborado em planos-sequência incríveis. Inclusive, estreou perto de outra obra que pôs holofotes sobre o uso do plano-sequência, a minissérie ADOLESCÊNCIA, uma das poucas produções para a televisão que vi neste ano (por isso não haverá um top 5 séries e minisséries neste ano).

Quanto ao cinema de gênero, em especial o cinema de horror, que sempre terá um carinho especial neste blog, felizmente tivemos filmes de grande magnitude, que abordam tanto o roubo de valores espirituais e artísticos (PECADORES), quanto o luto e a culpa (FAÇA ELA VOLTAR), os medos sociais (A HORA DO MAL), o desejo e a obsessão (NOSFERATU) e a normalização da violência como mecanismo do estado (A GRANDE MARCHA - CAMINHE OU MORRA). Todos eles usam o horror físico ou sobrenatural como ferramentas para a construção de narrativas envolventes e arrepiantes.

O horror também aparece numa das melhores animações do novo século, FLOW, sobre um gatinho preto e seus amigos também animais tentando sobreviver a um mundo pós-apocalíptico. É o horror de ver os inocentes tendo que lidar com nossa irresponsabilidade.

Top 5 – Musas do Ano

Para não dizer que só falei de terror e de filmes depressivos, lembremos da beleza da mulher no cinema. E por mais que já tenham me dito para fazer um top 5 de “musos” também, não vai ser desta vez, não. Lembrando, claro, que minha grande musa de verdade é a Giselle, meu grande amor, mas não custa manter a brincadeira tradicional, até para destacar outros filmes não citados antes e que merecem a lembrança.



Monica Barbaro foi uma revelação deste ano, inclusive indicada a melhor atriz coadjuvante no Oscar 2025. Ela aparece em UM COMPLETO DESCONHECIDO interpretando a cantora Joan Baez. E encanta sempre que surge na tela.



A sempre linda Elle Fanning também está em UM COMPLETO DESCONHECIDO, como a namorada de Bob Dylan, mas ela também aparece em mais dois filmes de destaque, PREDADOR – TERRAS SELVAGENS e VALOR SENTIMENTAL. Fanning já é conhecida nossa deste muito jovenzinha e segue fazendo uma carreira notável.



Dakota Johnson teve um ano muito bom, com duas comédias ótimas: AMORES MATERIALISTAS e AMORES À PARTE. Ambas merecem ser vistas, principalmente a segunda, com uma pegada mais indie e adoravelmente estranha.



Luc Besson é um diretor famoso por revelar jovens e belas atrizes e neste ano ele mostrou pra gente Matilda Price, que encarnou uma espécie de femme fatale às avessas na gostosa aventura romântica JUNE & JOHN.



Inga Ibsdotter Lilleaas, essa moça de nome complicado de escrever, apareceu num dos filmes mais badalados do ano, VALOR SENTIMENTAL, e espero que ela alcance ainda mais sucesso. Sua beleza remete às heroínas de um quadrinista que sabe desenhar mulheres muito bonitas, Frank Cho. Sem falar na presença de cena da atriz, que também é incrível.

Clássicos Vistos ou Revistos na Telona

AS DUAS INGLESAS E O AMOR, de François Truffaut
CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch
DE CERTA MANEIRA, de Sara Gómez
IRACEMA – UMA TRANSA AMAZÔNICA, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna
JEANNE DIELMAN, de Chantal Akerman
NOTÍCIAS DE CASA, de Chantal Akerman
ONDA NOVA, de José Antonio Garcia e Ícaro Martins
PARIS, TEXAS, de Wim Wenders
PRINCESA MONONOKE, de Hayao Miyazaki
SEVEN – OS SETE CRIMES CAPITAIS, de David Fincher
TUBARÃO, de Steven Spielberg

Melhores Não-Lançamentos Vistos pela Primeira Vez na Telinha

A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, de Roberto Santos
A SEMANA DO ASSASSINO, de Eloy de la Iglesia
CÉU E INFERNO, de Akira Kurosawa
COFFY – EM BUSCA DA VINGANÇA, de Jack Hill
CORAÇÕES LOUCOS, de Bertrand Blier
FILME DE AMOR, de Julio Bressane
FRANKENSTEIN TEM QUE SER DESTRUÍDO, de Terence Fisher
GAROTO, de Julio Bressane
MORTOS QUE CAMINHAM, de Samuel Fuller
NÃO SE DEVE PROFANAR O SONO DOS MORTOS, de Jorge Grau
NO UMBRAL DA CHINA, de Samuel Fuller
O COMBOIO DO MEDO, de William Friedkin
O SEGREDO DAS JOIAS, de John Huston
OS DESAJUSTADOS, de John Huston
OS IMPLACÁVEIS, de Sam Peckinpah
PREMONIÇÃO, de Lucio Fulci
RENEGANDO MEU SANGUE, de Samuel Fuller
SOMBRAS DO MAL, de Jules Dassin
TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE, de Alan J. Pakula
VONTADE INDÔMITA, de King Vidor

Revisões na Telinha

9 E ½ SEMANAS DE AMOR, de Adrian Lyne
A ESPIÃ, de Paul Verhoeven
A ESTRADA PERDIDA, de David Lynch
A FELICIDADE NÃO SE COMPRA, de Frank Capra
ANTICRISTO, de Lars von Trier
DE OLHOS BEM FECHADOS, de Stanley Kubrick
HARRY E SALLY – FEITOS UM PARA O OUTRO, de Rob Reiner
NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA, de Woody Allen
O DIABO VESTE PRADA, de David Frankel
O ÚLTIMO AMERICANO VIRGEM, de Boaz Davidson

Feliz ano novo!!

Que 2026, ano regido por Júpiter, da sorte e da expansão, seja um ano generoso e que traga ventos de muito amor, paz, prosperidade, saúde, força para superar os desafios e bastante tempo para fazer aquilo que amamos. Abraços a todos os leitores deste blog.

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