domingo, novembro 02, 2025

TUBARÃO (Jaws)



Que maravilha poder ver TUBARÃO (1975) na sala IMAX nesta cópia restaurada em celebração aos 50 anos da produção. Vi o filme pela primeira vez em 2004. Tardiamente, é verdade. E ainda foi por causa de um empurrãozinho de uns amigos, que achavam um absurdo que um autoproclamado cinéfilo como eu não tivesse visto ainda um dos filmes mais importantes da história do cinema. Para o cinema americano, foi definidor do início do fim de uma fase muito rica, a tal Nova Hollywood. A tampa do caixão foi fechada definitivamente com outros dois filmes, GUERRA NAS ESTRELAS, de George Lucas, em 1977, por motivos parecidos com o filme de Steven Spielberg, e PORTAL DO PARAÍSO, de Michael Cimino, em 1980, por ser uma megaprodução que afundou feio nas bilheterias. Mas claro que essa é uma história simplista, redutora e o espírito da Nova Hollywood resistiria ainda por alguns anos nos anos 1980.

Na época que fez TUBARÃO, Steven Spielberg ainda não tinha 30 anos e já havia feito um thriller maravilhoso para a televisão, ENCURRALADO (1971), que passaria em alguns cinemas, inclusive no Brasil. Sua estreia no cinema propriamente dito, no entanto, foi com LOUCA ESCAPADA (1974), uma comédia de crime que eu lembro de não ter gostado muito. Mas o que Spielberg queria fazer mesmo era seu filme sobre discos voadores, que ele só conseguiria fazer após o sucesso de TUBARÃO, a ficção científica CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (1977).

O roteiro de TUBARÃO foi parar em sua mão, depois de ter passado por outros diretores e de os produtores cogitarem gente mais veterana, como Alfred Hitchcock, Stanley Kramer, John Sturges e um tal Dick Richards, um jovem de 30 e poucos anos, que não sabia diferenciar um tubarão de uma baleia, e por esse motivo foi logo descartado num almoço entre os executivos da Universal. O jovem Spielberg aceitou fazer, mas se viu com uma batata quente nas mãos, já que havia o principal problema: a criação do tubarão. Houve quem quisesse usar tubarão de verdade, mas esses animais não são domesticados e a solução foi fazer um tubarão mecânico, que hoje em dia é facilmente identificado como mecânico, mas há um respeito muito grande pelo resultado final, até pelo quanto o filme constrói até mostrar o tubarão mecânico integralmente, já perto do final.

Eu confesso que gosto mais da primeira parte do filme do que da segunda, quando os três homens vão ao mar caçar a fera e se transforma numa aventura, mas há um quê de Howard Hawks na relação de quase amizade que se estabelece entre aquelas pessoas tão diferentes, inclusive com uma cena deles cantando, que não tive como não simpatizar. Ainda assim, gosto bem mais do início: o prólogo, com a garota indo nadar nua à noite e é atacada pelo tubarão, é magistral. Já dá o tom, inclusive do uso magistral da trilha sonora antológica de John Williams, que se tornaria o grande parceiro de Spielberg nas décadas seguintes, especialmente quando deixou registrado para sempre em status de clássicos temas de filmes como OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA (1981), E.T. – O ESTRATERRESTRE (1982) e JURASSIC PARK – O PARQUE DOS DINOSSAUROS (1993).

Na primeira parte do filme, um xerife, vivido por Roy Scheider, fica sabendo da morte da garota do prólogo e logo quer fechar a praia para banho, naquela pequena cidade litorânea que sobrevive de turismo. O prefeito, claro, não tem interesse e impede essa ação. Logo em seguida, acompanhamos uma das cenas de suspense mais bem filmadas do cinema, com dezenas (ou centenas?) de pessoas na praia, incluindo crianças e idosos, e o xerife com os nervos à flor da pele, e a câmera de Spielberg, unindo movimentos nervos com montagem nervosa, impressiona, que culmina com o ataque do tubarão a uma criança, o que causa terror e revolta para todos da cidade.

Logo em seguida, no meio daquela confusão, surge a solução de convidar um oceanógrafo (Richard Dreyfuss) e acontece a oferta de um velho pescador (Robert Shaw), que diz que consegue matar o tubarão assassino por 10 mil dólares. A presença de cena de Shaw é ótima e sua personalidade, assustadora para muitos, faz a diferença, embora ele só se torne um dos protagonistas na segunda parte do filme, ou seja, no momento da ida dos três homens ao mar. Mas antes disso há outras cenas bem tensas que acontecem na praia, já que um tubarão bem menor do que o grande tubarão branco que matou a garota e a criança é capturado por pescadores, o que leva a praia a ser novamente aberta para banho.

TUBARÃO fez tanto sucesso que, além das continuações do próprio estúdio, com aquela vontade natural de ganhar dinheiro (TUBARÃO 2; TUBARÃO 3 e TUBARÃO 4: A VINGANÇA). Além disso, como não poderia deixar de ser, os italianos também capitalizaram, com filmes como O ÚLTIMO TUBARÃO, de Enzo G. Castellari, que dizem ser uma cópia descarada do filme do Spielberg; TUBARÃO VERMELHO, de Lamberto Bava; A NOITE DOS TUBARÕES, de Tonino Ricci, entre outros. Isso para citar apenas os anos 1970 e 80. Mas talvez o melhor de todos desses italianos seja o que aparece em ZOMBI - A VOLTA DOS MORTOS, do Lucio Fulci, junto com um zumbi. Depois desse período, iniciou-se uma nova leva de produções com o peixe feroz, dentre eles destaco o ótimo ÁGUAS RASAS, de Jaume Collet-Serra.

+ TRÊS FILMES

HOLLYWOOD 90028

Se os Estados Unidos da década de 1970 visto nos filmes de primeiro escalão já denunciavam um sentimento de tristeza e ressaca daquela sociedade, é de se imaginar que os filmes feitos com dinheiro escasso, pensados para drive-ins e cinemas empoeirados também fossem impregnados dessa melancolia. O protagonista de HOLLYWOOD 90028 (1978), um fotógrafo de filmes pornôs ou marginais, é um homem que carrega uma maldição consigo: sempre que se sente atraído por uma mulher, ele a mata estrangulada. E isso é visto logo no início do filme, e numa sequência até suave para os padrões do cinema de gênero da época, em especial as produções mais baratas. Mas talvez a “culpa” desse corpo estranho no cinema esteja no fato de a direção ser de uma mulher, Christina Hornisher, em seu único longa-metragem. O filme traz uma espécie de lirismo bastante inesperado, em especial quando entra em cena uma personagem feminina que passa a conviver diariamente com esse fotógrafo, e, como uma Sherazade, ela, sem querer, passa a viver um dia a mais, pois o que ela deseja do fotógrafo é conversar, passear, falar de certas inquietações que lhe incomodam. E assim as cenas com os dois parece a invasão de um filme dentro de outro, e é justamente por isso que temos algo interessante. Tanto que o final parece até forçado, como se o destino dos personagens não fosse o pensado pela diretora. Belo resgate.

ARMADILHA PARA TURISTAS (Tourist Trap)

Sempre que vejo nos boxes de slashers que há um filme da década de 1970 arrisco a acreditar que é mais intenso e mais perturbador do que os da fase áurea do subgênero, os anos 1980, que, pareciam pegar mais leve no terror, na violência e no grau de perturbação e apostavam muito mais no humor. ARMADILHA PARA TURISTAS (1979), de de David Schmoeller, funciona que é uma beleza nesse quesito (o diretor de arte é o mesmo de O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA e o visual sujo predomina), nos deixando muitas vezes com o coração na mão. O que é aquela cena do plástico no rosto da moça, meu Deus!? Acredito que muita gente que viu este filme na época deve ter tido pesadelos. Primeiro trabalho profissional do diretor e um filme de produção barata, foi um acerto e tanto. Desde a primeira cena o filme nos ganha, com uma edição acertada e o que há de mais bonito: a trilha sonora de Pino Donaggio, colaborador de Brian De Palma. Ele vinha de filmes como PIRANHA e CARRIE, A ESTRANHA para essa produção menor, e não por isso fez um trabalho menos brilhante. Na trama, grupo de jovens que passeia de carro, graças a um pneu furado vai parar nas mãos de um psicopata que tem o diferencial de usar manequins e bonecos em seu museu. E há um toque sobrenatural, por assim dizer, que faz com que este filme se diferencie dos slashers mais comuns, com um pé maior na realidade. Mas isso não interfere de forma alguma no medo: ao contrário, intensifica bastante. Uma das melhores surpresas que eu vi neste ano. Presente no box Slashers XVI.

ASSASSINATOS NA FRATERNIDADE SECRETA (The House on Sorority Row)

1982 ainda foi um ano cheio de slashers sendo lançados nos cinemas dos Estados Unidos e do mundo. O que mais me chama a atenção nesses filmes é o caráter mais artesanal: a maioria deles sai de produtoras bem independentes e de orçamentos bem modestos. Infelizmente não havia no box (Slashers, o primeiro volume) nenhum extra que comentasse o processo de criação de ASSASSINATOS NA FRATERNIDADE SECRETA (1982), de Mark Rosman, algo que muitas vezes ajuda a aumentar o valor do trabalho. Aqui temos um exemplar mais ou menos tradicional, com um assassino misterioso e pessoas sendo mortas uma a uma. Há também a figura da final girl (Kate McNel), que tem seu ar de maior pureza, em comparação com suas colegas. Na trama, com uma brincadeira para se vingar da dona da casa que hospeda a fraternidade, a velha morre e as meninas procuram esconder o corpo o mais rápido possível, pois a festa está prestes a começar. Gosto de algumas cenas internas, com o diretor mostrando elegância, em especial quando filma corredores. Quanto aos efeitos gore, são fracos, mas eficientes para uma produção barata.

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