quinta-feira, março 14, 2013

DZI CROQUETTES























Ver DZI CROQUETTES (2009) é como viajar no tempo. Mesmo não conhecendo o grupo de teatro que influenciou tantos outros artistas brasileiros e fez sucesso até fora do Brasil, tendo Liza Minelli como madrinha, acompanhar o documentário de Tatiana Issa e Rafael Alvarez traz reflexões sobre um tempo que parece distante diante das mudanças operadas na contemporaneidade, mas que parecem próximas quando nos trazem lembranças fortes, ainda mais à medida que a tão bem contada história da trupe vai se tornando mais próxima de nossa época e de nossas lembranças, algumas delas escondidas no porão da memória.

Um pouco de preconceito pode surgir inicialmente na cabeça de um espectador heterossexual, ao ver aquele grupo gay rebolando seminu no palco de maneira estranha, mas não tão estranha assim se pensarmos no quanto fez sucesso um artista como Ney Matogrosso, presente entre os vários que ajudaram a contar a história do grupo. E a história no final ganha uma narradora que a princípio parece intrusiva, mas que não é, já que é a própria diretora, e que é filha de um dos homens que fizeram parte da equipe dos Dzi.

Depois da metade do filme, já estava gostando daqueles homens estranhos que ousaram desafiar o comportamento sexual da época. Até porque os depoimentos de gente como Cláudia Raia, Betty Faria, Maria Zilda Bethlem, Jorge Fernando, Elke Maravilha, Ney Matogrosso, Miele, Pedro Cardoso, Liza Minelli, Marília Pêra e dos próprios sobreviventes do grupo, são inflados de emoção genuína. Sente-se a sensibilidade e o amor por aqueles que fizeram os Dzi Croquettes.

E a história é tão bem contada a partir desses depoimentos, com um ritmo tão dinâmico e uma edição tão bem recortada que fica difícil não reparar nesse aspecto do filme. Afinal, fazer um documentário de um grupo de teatro pouco conhecido nacionalmente, já que teatro é uma arte que não trafega por todos os lugares do país, não deixa de ser algo arriscado. Mas não é mesmo um filme para se ganhar dinheiro, é um trabalho feito com amor e feito para ser bem sucedido artisticamente.

Como os Dzi Croquettes, que formavam uma verdadeira comunidade, ao morarem juntos, enfrentando juntos tanto a aprovação quanto o preconceito da sociedade. Brincando com a falta de recursos e com a necessidade de um glamour que faz parte do jeito gay de ser, o grupo chamou a atenção de muitos, inclusive de muitas mulheres que se tornaram fãs.

O filme vai ficando mais emocionante quando começa a falar sobre o “câncer gay”, que é como a AIDS era tratada no início, quando se acreditava que a doença era exclusividade dos homossexuais. É quando vemos o quanto ela foi impiedosa para com vários membros do grupo. Os depoimentos emocionados nos comovem, principalmente depois que já estamos mais próximos do grupo, depois que fomos apresentados a essas pessoas especiais. E que bom que o filme está aí para apresentá-los a quem não os conhece e a emocionar mais ainda aqueles que com eles de alguma forma foram mais próximos.

Texto originalmente publicado na Revista Zingu!, edição 51, de novembro de 2011.

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