sábado, março 02, 2013

PARIS NOS PERTENCE (Paris Nous Appartient)























Meu primeiro contato com o cinema de Jacques Rivette foi logo com um filme extraordinário: A BELA INTRIGANTE (1991), que vi numa sessão única numa mini-mostra organizada por Pedro Martins Freira no saudoso Studio Beira-Mar. Era uma sala pequena dedicada a filmes de arte (ou alternativos) que infelizmente fechou suas portas depois de alguns anos. Mas essa sessão, que deve ter acontecido em 1992 ou 1993, não lembro, foi especial pra mim. Claro que ficar vendo a Emanuelle Béart nua durante as cerca de quatro horas de duração ajuda bastante. Curiosamente, este é um dos filmes mais queridos da cinematografia de Rivette. Quer dizer, comecei muito bem.

Os seguintes foram poucos, mas também filmes admiráveis: A RELIGIOSA (1966) e A HISTÓRIA DE MARIE E JULIEN (2003). E só. Fico me perguntando por que não me detive mais nos seus trabalhos se esses filmes foram especiais pra mim? Aí resolvi ver aos poucos a partir dos primeiros filmes, começando com sua estreia na direção de longas-metragens, um pouco atrasado em relação aos seus colegas da nouvelle vague (François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer e Claude Chabrol). Além do mais, PARIS NOS PERTENCE (1961) só pôde ser concluído com a ajuda dos amigos. Godard, inclusive, aparece num papel pequeno e simpático. O filme levou quatro anos para ser concluído, depois de muita persistência do diretor.

Lendo sobre PARIS NOS PERTENCE, vejo gente comparando com David Lynch. Do mesmo jeito que também comparam O ANO PASSADO EM MARIENBAD, de Alan Resnais. Apenas por que ambos os filmes possuem um mistério e uma trama um pouco complicada e que dá algumas voltas sem necessariamente chegar a um lugar. Ou pelo menos a um lugar que se esperaria em qualquer filme normal de mistério. No caso do mistério de PARIS NOS PERTENCE, ele é bem interessante no começo, mas começa a incomodar depois de uma hora de filme.

E aqui não vemos um trabalho bem acentuado de música para enfatizar o mistério. Rivette aposta, na maior parte das vezes, no silêncio e nas falas. E nos inúmeros personagens de sua história, que ganham mais força devido a duração um pouco longa do filme, já que o cineasta tem tempo suficiente para nos apresentar a eles.

Na trama, Anne Goupil (Betty Schneider) é uma jovem estudante de literatura que conhece um grupo de pessoas, a maior parte delas envolvida numa peça de Shakespeare. O mistério que envolve o grupo se dá principalmente com a notícia do suicídio de um dos rapazes e de uma conspiração e de teorias conspiratórias que alguns membros do grupo dizem existir, de modo que outras pessoas também teriam o mesmo fim do rapaz que tirou a própria vida. Anne aos poucos vai entrando nessa rede de mistério, conhecendo outras pessoas envolvidas, e nós, espectadores, ficamos tão perdidos quanto ela.

O problema, no meu caso, é que eu fui perdendo o interesse pela trama, não entrando na "viagem" do diretor, o que é essencial para um filme que não tem a intenção de apresentar uma história convencional. O resultado é que é a minha primeira decepção com Rivette. Mas quero continuar vendo outros filmes dele. Ao que parece, ele tem mesmo uma mania de fazer filmes longos. Então, é preciso estar disposto. Na maioria das vezes o esforço é muito bem recompensado.

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