domingo, março 03, 2013

FORA DAS GRADES (Run for Cover)


Depois de muitas dificuldades para conseguir ver este filme, através da ajuda sensacional do amigão Herbert da Rocha, consegui convertê-lo num formato que minha televisão suportasse. Não entremos em detalhes sobre minhas tentativas; falemos do filme, o último dos longas-metragens hollywoodianos de Nicholas Ray que faltava eu ver. Com isso, agora só falta mesmo o experimental e independente WE CAN’T GO HOME AGAIN (1976-2011).

FORA DAS GRADES (1954) foi um filme produzido entre dois trabalhos muito conhecidos de Ray, JOHNNY GUITAR (1954) e JUVENTUDE TRANSVIADA (1955). Os três são belos trabalhos com utilização de cores, sendo que JOHNNY GUITAR é mais simbólico e barroco. FORA DAS GRADES tem a aparência de um western mais convencional, embora praticamente todas as características do cineasta estejam presentes. Sem falar que é um filme que é visto de uma sentada, com uma fluidez impressionante. Talvez o trabalho de Ray mais fácil de agradar a um espectador de primeira viagem.

O filme é estrelado por James Cagney, em sua única colaboração com o diretor. E uma coisa que se percebe é uma diferença de qualidade de interpretação entre ele e o jovem John Derek, que só não estraga o filme por causa da direção forte do diretor e da força da interpretação de Cagney. Isso já havia acontecido em outros trabalhos do cineasta, como em O CRIME NÃO COMPENSA (1949), em que o mesmo Derek atua ao lado de outro gigante do cinema (Humphrey Bogart).

Em FORA DAS GRADES, James Cagney é Matt Dowe, um homem errante, que, ao parar para se refrescar em um rio, conhece Davey Bishop, o jovem vivido por Derek. Como forma de se defender, ele logo lhe aponta uma arma, dizendo que não se deve se aproximar sem avisar pelas costas de um estranho. Depois de uma breve conversa e de os dois saberem que iriam para a mesma cidade, um desentendimento faz com que eles sejam confundidos com ladrões de trens.

Por causa disso, eles são emboscados por uma multidão vinda da cidade e Davey leva alguns tiros. Depois de resolvido o desentendimento, Matt procura se estabelecer na cidade, até por se interessar pela filha de um velho sueco que cuidou de Davey durante sua convalescença. Antes disso, quando Davey pensou em ficar com o dinheiro do trem e foi Matt quem quis devolvê-lo, já dava para perceber que havia ali uma diferença moral bem distante entre os dois.

Assim como o personagem de Bogart faz com o mesmo Derek em O CRIME NÃO COMPENSA, o arquetípico drama de consciência moral é duplicado em FORA DAS GRADES, só que de maneira muito mais vigorosa por parte de Ray. Sucessivas vezes Davey trai Matt e várias vezes Matt o perdoa e dá-lhe mais uma chance.

Muito interessante esse carinho que Nicholas Ray tem por esses jovens que traçam caminhos errados e que têm dificuldade para encontrar o caminho do bem. Ainda assim, em FORA DAS GRADES, a figura do jovem traidor é tão enfatizada que nem sempre é possível se sentir solidário com Davey, a não ser através da compaixão de Matt.

Nicholas Ray faz western, mas aborda questões tão interessantes que o amor pelo mais americano dos gêneros acaba ficando em segundo plano, embora os principais elementos estejam lá – os índios, o assalto ao trem, a tempestade no deserto, os tiroteios, a busca por um sistema de leis válido, a intolerância e violência dos homens da cidade, a figura do homem solitário etc.

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