quinta-feira, novembro 30, 2006

A COMÉDIA DO PODER (L'Ivresse du Pouvoir)



Depois que assisti A DAMA DE HONRA (2004) no cinema no ano passado, eu prometi a mim mesmo que não perderia mais os filmes de Claude Chabrol que estreassem nas salas da cidade. Ver os filmes de Chabrol no cinema é outra coisa. Já conhecia, então, uns poucos filmes de sua filmografia, como CIÚME - O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO (1994) e MULHERES DIABÓLICAS (1995), mas ver os seus filmes na tela pequena diminui o impacto que eles exercem sobre nós. E pensar que eu fiz a besteira de perder A TEIA DE CHOCOLATE (2000) há poucos tempo. A boa notícia é que o DVD do filme, dizem, vem com extras preciosos - cenas comentadas pelo diretor e um documentário sobre os bastidores.

A COMÉDIA DO PODER (2006) é o novo filme desse cineasta incansável que aos 76 anos continuam fazendo grandes filmes com uma regularidade invejável. Ir ao cinema ver mais um belo trabalho de Chabrol não tem preço. A princípio, eu imaginei que iria gostar menos desse filme que dos demais por causa da temática mais política, mas felizmente não foi o caso. O gostoso andamento do filme e a presença magnética de Isabelle Huppert, uma das mais talentosas atrizes do mundo, são os principais trunfos desse filme, que ainda conta com colaboradores de peso do diretor, como seu filho Matthieu Chabrol, responsável pela trilha sonora, e o português Eduardo Serra, na direção de fotografia.

Na trama, Isabelle Huppert é a juíza Jeanne Charmant Killman - repare na ironia dos dois sobrenomes -, uma mulher que assume a missão de acabar com o crime do colarinho branco na França. Ela começa prendendo o presidente de uma grande empresa (François Berleand), cujos crimes não são muito bem esclarecidos - os interrogatórios são sempre vagos. O que ela não sabe é que por trás de tudo isso, há uma intrincada rede de corrupção que torna cada vez mais difícil o seu trabalho.

O grande barato de A COMÉDIA DO PODER é perceber as escolhas que Chabrol faz, que tornam esse filme único. O diretor evita os clichês de filmes políticos, evita o thriller, evita nos encher de informações detalhadas sobre os casos assumidos pela juíza, evita, enfim, oferecer um filme comum. O que mais vemos é a juíza trabalhando. Ela não faz outra coisa a não ser trabalhar. Tanto que seu marido deprimido está bastante incomodado com a intensa visibilidade na imprensa da esposa e da total falta de interesse que ela lhe reserva. Curioso o descaso que ela tem como marido. Ela pouco liga quando tem que sair de casa e se separar dele, nem chora quando fica sabendo de sua tentativa de suicídio. Chabrol mostra a juíza como uma mulher fria e impiedosa e que paga pra entrar numa briga. Quando ela é obrigada a trabalhar com uma juíza-assistente, notamos que há no filme uma tendência a mostrar as mulheres como inimigas dos homens, como se elas estivessem partindo para a desforra contra a "macharada". E com a vantagem de terem muito mais charme e exuberância. Huppert, já tendo passado de seus 50 anos, continua admirável. A COMÉDIA DO PODER é o sétimo filme que ela fez em parceria com Chabrol. Os outros filmes, pela ordem, são: VIOLETTE NOZIÈRE(1978), UM ASSUNTO DE MULHERES (1988), MADAME BOVARY (1991), MULHERES DIABÓLICAS, NEGÓCIOS À PARTE (1997) e A TEIA DE CHOCOLATE.

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