terça-feira, novembro 21, 2006

NÃO SE MOVA (Non Ti Muovere / Don't Move / No Te Muevas)



Deveria ter falado desse filme na semana passada, no calor da emoção, momentos depois de ter enxugado as lágrimas com o final. Agora, acho que vou soar um pouco mais racional do que o filme merece. O cinema italiano tem essa tradição passional, coisa que está muito presente na alma dos italianos. E Sergio Castellitto honra essa tradição com louvor nesse filme emocionante estrelado por ele, Penélope Cruz e Claudia Gerini.

Na trama de NÃO SE MOVA (2004), Castellitto é Timoteo, um médico cuja filha adolescente sofre um grave acidente e encontra-se em coma no hospital onde ele trabalha. A possibilidade da perda da filha faz com que ele lembre do passado, de quando ele conheceu uma mulher pobre e sem instrução chamada Italia (Penélope Cruz). Na época, ele já era um homem casado e bem sucedido. Tinha uma esposa bonita (Claudia Gerini, de A PAIXÃO DE CRISTO) e os dois pensavam em ter um filho. A paixão clandestina que Timoteo nutre por Italia pode pôr em risco o seu casamento, mas como se trata de paixão, o pensamento fica turvo.

Penélope Cruz aparece feia pra cacete nesse filme. Cabelo desgrenhado, dentes podres, roupa velha, aspecto excessivamente humilde, sem amor próprio ou vaidade. Uma das cenas mais tocantes do filme é quando ela diz para Timoteo algo como: "não me deixes nunca; venha uma vez por dia, uma vez por mês ou uma vez por ano, mas não me abandone." Como se ela não tivesse outra opção a não ser aceitar as condições de viver junto àquele homem casado, mesmo que tivesse que estar sempre em segundo plano. Ao mesmo tempo, fiquei bastante comovido com a compreensão da esposa de Timoteo, que sabia que o marido estava fazendo algo de errado por aí, mas que preferia não perguntar nada. Esse amor incondicional entre essas três pessoas é lindamente emoldurado por belíssimas canções, em especial "If it be your will", de Leonard Cohen, e "Scrivimi", canção mais conhecida dos brasileiros pela versão de Renato Russo para o álbum Equilibrio Distante.

No entanto, ainda que tenha toda essa carga emocional e passional, nem tudo é belo no filme. Aliás, é belo. É que o filme não se envergonha de mostrar o lado negro da sexualidade masculina e de como isso pode até atrair as mulheres. A primeira vez que Timoteo e Italia fazem sexo, aquilo ali é um estupro. E ambos sabem disso. E quando Timoteo se mostra mais agressivo no sexo com a esposa, ela acha aquilo o máximo, diferente do que haviam feito até então, pelo menos. Lembro que quando Carlão Reichenbach esteve aqui em Fortaleza, no ano passado, ele comentou sobre o aspecto machista do filme e isso me deixou curioso. Mas eu havia perdido o filme quando ele passou no cinema da cidade e o tempo foi passando e eu fui adiando, mas da última vez que fui à locadora, resolvi pegar. O DVD da Imagem Filmes não respeita a janela do filme e o traz em fullscreen, mas ainda assim não deixa de ser imperdível.

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