domingo, junho 06, 2010

HADEWIJCH



Este é o primeiro de uma série de posts que dedicarei aos filmes vistos no Festival Varilux de Cinema Francês, que está até com uma programação boa este ano, principalmente se compararmos com a do ano passado. O ponto positivo está no fato de o festival estar acontecendo simultaneamente em nove capitais. O negativo, no fato de a maior parte das cópias estarem naquele digital não muito atraente da Rain. A única exceção parece que é UM NOVO CAMINHO, que veio em película. Infelizmente não vai dar pra ver os dez filmes do festival, mas creio que apesar disso este ano eu vou bater o meu recorde em quantidade de vistos. A sala do Espaço Unibanco Dragão do Mar não é tão confortável quanto as do UCI do Iguatemi, mas pelo menos não temos que disputar com o público e as filas dos blockbusters. O povo que frequenta o festival é um povo que está mais disposto a ver algo um pouco mais diferente. Tem também a turma que estuda francês, já que a Aliança Francesa é uma das apoiadoras.

O primeiro filme que vi foi este HADEWIJCH (2009), de Bruno Dumont. Título bem complicado de decorar, hein. Tenho que ficar vendo letra por letra para ver como se escreve. Assim como o título, o filme de Dumont não é uma obra fácil. Mas é interessante, instigante. Mais uma vez eu fico incomodado com um personagem católico radical. O que não chega a ser um demérito para o filme, pois isso aconteceu comigo em obras de gênios como Alfred Hitchcock (A TORTURA DO SILÊNCIO), Eric Rohmer (MINHA NOITE COM ELA) e Robert Bresson (DIÁRIO DE UM PADRE). Assim como os personagens desses filmes, a jovem Julie Sokolowski, que interpreta Céline, extrapola a racionalidade e a lógica comum em prol de sua fé.

Depois de ser expulsa do convento onde estava por desobedecer às ordens das madres superiores – ela fazia questão de jejuar bastante e de não se aquecer do frio -, ela vai para a rua, ver como as pessoas comuns vivem. Apesar de se mostrar bastante amistosa a um grupo de mulçumanos que a convidam para se sentar à mesa, ela se recusa a ter qualquer relacionamento mais próximo com qualquer homem. Seu corpo é de Jesus, ela diz. O filme vai ficando mais interessante quando a proximidade dela com o grupo de mulçumanos faz com que ela simpatize com a causa deles, excluídos e humilhados pela sociedade. Além disso, eles são extremistas. Utilizam bombas em nome de Alá. Aliás, uma das cenas que mais ficará forte em minha memória é a dos mulçumanos rezando para Alá naquela posição típica, enquanto ela reza à sua maneira, todos juntos no mesmo quarto.

Como não estou familiarizado com a obra de Dumont – este foi o primeiro filme que vi dele –, fiquei na dúvida se o que ele queria era uma provocação ou se há de fato algo forte ligado à fé. Essa ambiguidade, que aparece ainda mais forte no final, não deixa de ser mais um aspecto positivo, principalmente quando dizem que ele é o principal herdeiro de Robert Bresson. Pode até ser, mas está longe de chegar aos pés do mestre. De todo modo, gostei da homenagem explícita que ele fez a MOUCHETTE, A VIRGEM POSSUÍDA. Talvez seja um filme que cresça numa revisão. Mas é preciso estar bem disposto.

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