sexta-feira, junho 11, 2010

O REFÚGIO (Le Refuge)



Encerrando hoje a série de posts sobre o Festival Varilux do Cinema Francês com uma obra de François Ozon. Nada mal. Como não pude ver O PROFETA por causa do horário de trabalho, O REFÚGIO (2009) era o mais aguardado por mim. Tanto que fiz minha programação praticamente em função dele. Atualmente, Ozon é o cineasta francês da geração surgida nos anos 1990 de quem eu mais vi filmes. O REFÚGIO é o nono trabalho dele que eu vejo. Falta eu ver ainda SITCOM - NOSSA LINDA FAMÍLIA (1998), LES AMANTS CRIMINELS (1999) e o ainda inédito no circuito comercial RICKY (2009). Só agora começo a me familiarizar com seus temas, com seu estilo, com seu andamento. Uma coisa que pude notar entre os trabalhos mais recentes de Ozon foi uma mudança de um cinema mais ligado ao humor e à sátira para o melodrama, que começou pra valer a partir de O AMOR EM 5 TEMPOS (2004), mas que já teve um bom ensaio com SOB A AREIA (2000). Tem-se notado uma tendência à melancolia. E ainda que o meu filme favorito de Ozon ainda seja uma comédia, tenho adorado seus últimos trabalhos.

Quanto à cópia exibida no festival, vai ser mais um lenga-lenga da minha parte. Mas o fato é que se a gente não reclamar, nada vai mudar. Aliás, pode até mudar pra pior. No caso de O REFÚGIO, pelo menos respeitaram a janela correta do filme, em scope, e o vimos em letterbox. De todo modo, a imagem pelo menos não estava tão escura e o filme tem um andamento tão agradável que logo isso deixa de ser um problema. Trata-se do drama de uma garota (Isabelle Carré) cujo namorado morre de overdose de heroína. Ela também havia se aplicado na noite anterior, mas o namorado tomou mais e veio a falecer. Ela está grávida e a família do rapaz prefere que ela tire a criança. (Interessante notar que, em países como Estados Unidos e França, o aborto, pelo que eu vejo nos filmes, é legalizado.) Acontece que ela prefere não tirar o filho. Em sua cabeça, ficar com a criança seria uma forma de perpetuar um pouco o homem que ela amava.

Quem vai visitá-la em seus momentos de barrigão é o irmão do falecido, um rapaz assumidamente gay, que, aliás, é um elemento bem comum na obra de Ozon, que em muitos momentos mostra personagens homo ou bissexuais. Inclusive, a cena do sexo entre dois homens e uma mulher em O TEMPO QUE RESTA (2005) é uma das coisas mais belas já filmadas pelo diretor. A liberdade sexual, tão presente em seus filmes, aparece no novo filme na figura de Paul (Louis-Ronan Choisy), que passa uns dias com ela na casa de praia e ainda arranja um namorado por lá. Optando desta vez por uma simplicidade temática, Ozon consegue um resultado muito mais belo e sensível. As cenas na praia são muito bonitas. E como praia lembra Rohmer, eu diria que a presença curta mas marcante de Marie Rivière soa como uma homenagem a esse que é um dos cineastas mais queridos entre os cinéfilos. E se antes Ozon me deixava um pouco com o pé atrás, agora posso dizer que sou seu fã.

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