sexta-feira, junho 18, 2010
NA HORA DA ZONA MORTA (The Dead Zone)
Mais uma prova de que os filmes de David Cronenberg só melhoram com a revisão, NA HORA DA ZONA MORTA (1983) - que eu provavelmente não teria revisto se não me forçasse a ver e rever a sua obra desde os primeiros filmes - se mostra um dos melhores trabalhos desse cineasta que hoje pode ser considerado um mestre. NA HORA DA ZONA MORTA foi o primeiro trabalho de Cronenberg com um roteiro não escrito por ele. E é considerado por muitos a primeira grande adaptação para o cinema de um romance de Stephen King. Isso, levando em consideração que na época O ILUMINADO, de Stanley Kubrick, ainda não havia sido "canonizado" e que o melhor dos filmes baseados em King era CARRIE, A ESTRANHA, de Brian De Palma. O próprio Stephen King ficou bastante feliz com o resultado do filme, que captou o tom da obra literária, ainda que o cineasta tenha retirado elementos da narrativa, tornando-o essencialmente cronenberguiano.
Lendo o livro de entrevistas "Cronenberg on Cronenberg", fiquei sabendo de alguns detalhes interessantes dos bastidores. O que mais me chamou a atenção foi a realização do roteiro. Andrej Zulawski chegou a fazer um roteiro para o filme! Mas Cronenberg nem chegou a ler. Foi escrito em polonês, depois traduzido para inglês e italiano por Dino Di Laurentiis. Imagina só: o filme escrito pelo Zulawski! Vai ver eu ainda estou com a memória de A MULHER PÚBLICA em mente e fico imaginando um negócio bem doido. Enfim, quem acabou fazendo o roteiro foi um sujeito com pouca experiência chamado Jeffrey Boam.
O que mais destoa NA HORA DA ZONA MORTA dos filmes anteriores de Cronenberg é a falta de uma sexualidade forte. Ela aparece, mas bastante reprimida. Johnny Smith (Christopher Walken), o protagonista, prefere não dormir na casa da namorada. E, diferente do que ocorre em filmes de horror como SEXTA-FEIRA 13 e afins, não é quem faz sexo que se ferra. É justamente o contrário. Ao tentar voltar para casa, o carro de Smith é atropelado violentamente por um caminhão. Ele consegue sobreviver, mas fica vários anos em coma. Quando acorda, a mulher que ele ama (Brooke Adams) já está casada com outro, tendo, inclusive, até um filho. Para completar, ele tem que reaprender a andar e fica caminhando como o monstro de Frankenstein. Mas o mais perturbador de tudo é que ele passa a adquirir um dom (ou uma maldição): prever o futuro (ou o passado) das pessoas que estão próximas a ele.
Apesar de parecer mais convencional dentro da filmografia de Cronenberg, vários temas recorrentes se manifestam, tais como: a modificação físico-mental, a atração do diretor por acidentes automobilísticos - vide ENRAIVECIDA - NA FÚRIA DO SEXO (1977) e CRASH - ESTRANHOS PRAZERES (1996) -, a figura do médico ou cientista sempre interessado na metamorfose de um paciente. Mas vale destacar algo que o próprio Cronenberg falou na entrevista. Ele descreve Johnny Smith como um "marginal; ele se parece com um sujeito comum, mas sabe que não é". E isso me lembrou muito os filmes da fase mais recente do diretor, como MARCAS DA VIOLÊNCIA (2005) e SENHORES DO CRIME (2007).
Depois do sucesso de NA HORA DA ZONA MORTA, foi oferecido a Cronenberg A TESTEMUNHA. Ele não quis, por razões pessoais; ficou com Peter Weir. THE DEAD ZONE também se transformou numa série de tv de sucesso. Já está em sua sexta temporada.
Post dedicado a um dos maiores escritores de todos os tempos: José Saramago (1922-2010).
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