quarta-feira, janeiro 16, 2008

O SUSPEITO (Rendition)



Tudo indica que o cinema político e engajado, fruto das inquietações dos americanos mais sensíveis e questionadores e herdeiro das produções da década de 70, mas com as preocupações dos Estados Unidos pós-11 de setembro, veio para ficar. O SUSPEITO (2007) é mais um título a engrossar as fileiras. No final do ano passado, tivemos LEÕES E CORDEIROS, O REINO, O PREÇO DA CORAGEM, NO VALE DAS SOMBRAS e CONDUTA DE RISCO. Um pouco atrás, tivemos obras como BABEL, CAMINHO PARA GUANTÁNAMO, VÔO UNITED 93, AS TORRES GÊMEAS, SYRIANA - A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, BOA NOITE E BOA SORTE e MUNIQUE. Se na época da Guerra Fria, Hollywood usava a situação política para produzir basicamente entretenimento, os filmes de hoje abordam com seriedade o conflito entre Estados Unidos e Oriente Médio.

O SUSPEITO, dirigido por Gavin Hood, do oscarizado INFÂNCIA ROUBADA (2005), discute o extremismo dos americanos com o povo islâmico diante das suspeitas de terrorismo. Embora o termo "tortura" seja evitado pelos responsáveis por tais atos e acobertado pela imprensa e pela opinião pública, o filme lembra que depois de 11 de setembro foi assinado pelo Governo americano um documento que permite tais medidas com o intuito de prevenir a morte de centenas ou milhares de pessoas por homens-bomba.

A trama principal gira em torno de um engenheiro químico egípicio (Omar Metwally) que, apesar de possuir Green Card e família americana, é preso e torturado quando de sua volta aos Estados Unidos, depois de uma visita à África do Sul. Sua esposa, grávida (Reese Whiterspoon), o espera no aeroporto e fica sem saber o que aconteceu com o marido. Desesperada, vai em busca de um amigo político que possa auxiliá-la. Jake Gyllenhaal é um agente da CIA que trabalha no Cairo e presencia a morte de seu superior imediato durante um atentado terrorista. Ele é convidado pela funcionária do alto escalão da agência de espionagem, interpretada por Meryl Streep - cada vez mais especializada em fazer personagens ácidas -, a substituir seu superior. Não acostumado a presenciar cenas de tortura, ele se esforça para aceitar o que fazem com o egípicio. Paralelamente, assistimos à relação existente entre uma garota egípicia e um jovem rapaz, membro de uma organização extremista responsável direta pelo atentado no Cairo.

Gavin Hood, se não consegue um resultado de impacto "fulminante", ao menos dirige o filme com sobriedade e com uma edição acertada, que não torna o filme cansativo em momento algum nas suas duas horas de duração, seguindo uma estrutura bem clássica, sem inovações na narrativa. Até porque utilizar uma estrutura mais moderna poderia atrapalhar um pouco a real intenção do filme, que acredito ser a de questionar com clareza os crimes praticados pelo próprio Governo americano. Todo mundo sabe que eles estão se lixando para a ONU e invadem qualquer país e praticam o que bem entendem, mas é sempre bom ver que dentro do próprio país existe uma resistência, mesmo que ela venha de diretores e roteiristas de Hollywood.

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