quarta-feira, janeiro 09, 2008

A DAMA DAS CAMÉLIAS (Camille)



Estava dando uma lida no que Olivier-René Veillon, autor do livro "O Cinema Americano dos Anos Cinqüenta", escreveu sobre George Cukor para ter uma idéia melhor do que seria a essência do cinema do diretor. Ser conhecido como o diretor das grandes atrizes é um pouco redutor, como o próprio autor do livro também considera. Bom, o que eu achei interessante no final do texto sobre Cukor foi quando o autor comentou sobre a grande capacidade que a mulher tem de representar, preservando, assim, a sua definição, a sua essência. Por isso dizem que a mulher é um mistério. E por isso que a mulher acaba sendo sempre uma melhor intérprete do que o homem, que por mais brilhante que seja, no fundo está expondo um pouco de si mesmo naquela representação. É por isso que grandes atores como Jack Nicholson, Robert De Niro e Al Pacino, só pra citar três medalhões, acabaram se repetindo em suas carreiras. Mas dizer isso talvez seja politicamente incorreto, sexista. Quer dizer, ao mesmo tempo que estou elogiando as mulheres por serem tão boas atrizes, posso estar querendo dizer que elas são fingidoras por natureza, o que não seria lá um elogio.

Bom, o fato é que o ato de fingir tem tudo a ver com A DAMA DAS CAMÉLIAS (1936), o belo filme de Cukor interpretado pela maravilhosa e lendária Greta Garbo. A personagem de Garbo, Marguerite Gautier, precisa fingir para sobreviver. Ela, por ser bonita e charmosa, se aproveita disso para seduzir os nobres da sociedade parisiense do século XIX, na França pré-revolução. Num luxuoso teatro, lugar onde ela e suas amigas costumam freqüentar para conhecer barões e duques, ela conhece Armand Duval (Robert Taylor), um rapaz que já era apaixonado por ela e seguia os seus passos sem que ela soubesse. Nessa noite, ela o confunde com um nobre e ele fica um pouco decepcionado com isso, mas ele tenta aproveitar essa chance para manter contato com ela. Marguerite, apesar de ter uma vida social bastante agitada, sofre de tuberculose, o mal daquele século, e sabe que sua vida será breve. Sabendo disso, Armand a leva para o campo, para cuidar dela. Lá os dois vivem momentos de intenso prazer e amor. Mas como se trata de uma tragédia, logo algo ou alguém chegará para estragar a vida dos dois. As lágrimas no final são inevitáveis.

Greta Garbo está brilhante, conseguindo ser no mesmo filme terna e perversa, sedutora e vítima. E A DAMA DAS CAMÉLIAS é um dos filmes que melhor representam o que foi Garbo para o cinema, em toda a sua glória e esplendor. Uma pena que o filme praticamente não é citado na entrevista de Cukor a Peter Bogdanovich. A única coisa que se fala, muito superficialmente, é sobre uma cena de um beijo, que o diretor considerava sutilmente erótica.

O dvd de A DAMA DAS CAMÉLIAS ainda traz como extra uma versão muda, de 1921, dirigida por Ray C. Smallwood, e estrelada pelo grande galã do cinema mudo na época, Rudolph Valentino, ou Rodolfo Valentino, como era conhecido no Brasil. Ver essa versão depois de ter visto a versão do Cukor só aumenta a impressão de que se trata apenas de um rascunho. Vale ser visto mais por curiosidade e como documento histórico. Nessa adaptação, a estória de Alexandre Dumas (filho) é transposta para a Paris dos anos 1920. E como os anos 20 foram o auge do modernismo e outros "ismos", o cenário do filme é o que mais chama a atenção, como o formato circular das portas, por exemplo. A Marguerite desse filme (Alla Nazimova) é feia, parecendo mais a Noiva de Frankenstein, principalmente quando ela revira os olhos. Essa versão não chega a ser nem a sombra do que fariam George Cukor e a deusa Greta Garbo.

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