domingo, janeiro 20, 2008

O QUARTO HOMEM / O 4º HOMEM (De Vierde Man)



Enquanto A ESPIÃ (2006) não aporta em Fortaleza, resolvi ver um filme da fase holandesa de Paul Verhoeven para ir me preparando. Sou fã do diretor e gosto de todos os filmes que ele realizou em Hollywood, inclusive do mais fraco deles, O HOMEM SEM SOMBRA (2000), cujo fracasso comercial e crítico, junto com a intromissão dos executivos no corte final, fez com que ele se distanciasse da meca do cinema e voltasse para seu país natal. Dizem que A ESPIÃ é "filme-irmão" de SOLDADO DE LARANJA (1978) e que O QUARTO HOMEM (1983) seria o "filme-irmão" de INSTINTO SELVAGEM (1992). Quanto à primeira afirmativa, ainda não pude verificar, mas há muitas similaridades entre O QUARTO HOMEM e o filme que mostrou Sharon Stone em seu auge. Inclusive, uma das coisas que eu mais admiro em Verhoeven é sua capacidade de conseguir mostrar sexo e violência em Hollywood fazendo cinema classe A. Sua estréia nos Estados Unidos já foi bombástica, com o violento e sensual CONQUISTA SANGRENTA (1985), outra de suas obras-primas viscerais.

Quanto a O QUARTO HOMEM, a trama mostra um escritor depressivo, alcóolatra e psicótico que é convidado para ministrar uma palestra numa cidade costeira da Holanda. No meio do caminho, já notamos que ele sente atração por homens, já que ele fica bastante interessado num rapaz que vê na estação de trem. Durante a palestra, uma loira com cabelos bem típicos da década de 80 fica o tempo todo o filmando. Ela é a diretora do evento. Aparentemente ele se sente um pouco incomodado, mas depois da palestra ela lhe oferece sua casa para se hospedar. E não apenas sua casa. Quando a loira deixa cair seu roupão, o que mais faz com que ele sinta tesão por ela é o fato de ela ter um corpo esguio, segundo ele, parecido com o de um rapaz. É a bissexualidade no cinema de Verhoeven, que apareceria de maneira muito mais sofisticada em INSTINTO SELVAGEM, embora o filme holandês tenha mais liberdades, como a de mostrar sem o menor problema nudez frontal masculina - não que eu considere isso uma vantagem, mas não deixa de ser uma liberdade. A cena de sexo entre os dois é curta, mas é boa, mas o que vem a seguir é perturbador: no sonho do escritor, a loira está de posse de uma tesoura e, com um sorriso sádico nos lábios, ela corta fora o seu pênis. Ele acorda perturbado, obviamente. Além de sonhos, o protagonista também tem delírios. E alguns desses delírios estão entre os momentos mais interessantes do filme. A cena do delírio da pintura no vagão do trem é a mais bela. E nesse sentido, O QUARTO HOMEM é, com certeza, o trabalho mais onírico do cineasta.

E dizer mais seria estragar as surpresas, mas os créditos iniciais, mostrando uma aranha pegando uma mosca em sua teia, já dão uma idéia do que o filme deve tratar. No entanto, assim como em INSTINTO SELVAGEM, Verhoeven deixa o espectador na dúvida quanto à vilanesa da femme fatale. Seria ela uma perigosa assassina de homens ou tudo não passaria de delírios de uma mente perturbada? O aspecto católico - ou herético - do filme tem seu momento mais memorável na seqüência em que o protagonista entra numa igreja e vê uma figura de Jesus na cruz mas enxerga um rapaz seminu. E ele começa a lamber o corpo desse rapaz e a desnudá-lo. (E, se eu não me engano, isso foi antes daquela polêmica da Madonna com o clipe de "Like a Prayer".) E já que eu toquei no tema do catolicismo, posso adiantar que a figura da Virgem Maria também não é esquecida.

O filme chegou a ser lançado em dvd no Brasil pela Silver Screen Collection, mas os lançamentos dessa distribuidora, além de serem de procedência duvidosa, são um pouco difíceis de encontrar nas locadoras daqui. Felizmente, temos os meios alternativos para conseguir certos títulos. E enquanto assistia o filme, tratei logo de baixar também SOLDADO DE LARANJA (1978), que é considerado por muitos como o melhor da fase holandesa do "holandês maluco", que está voltando para os Estados Unidos, para uma continuação de THOMAS CROWN - A ARTE DO CRIME. Confesso que gostei da notícia da volta dele para Hollywood, só não gostei da escolha, já que não sou muito fã desses filmes de homens entediados que gostam de brincar de ladrões. Sem falar que não gostei do primeiro filme, do John McTiernan. Mas fico na torcida pelo sucesso de Verhoeven.

Nenhum comentário: