quinta-feira, janeiro 10, 2008

MINHA NOITE COM ELA (Ma Nuit Chez Maud)



Gostar de Eric Rohmer é, entre outras coisas, gostar de filmes com muita conversa. Excetuando O SIGNO DO LEÃO (1959), todos os filmes do diretor são dotados de uma verborragia que pode incomodar muita gente. Quem não tem paciência e se sente incomodado com essa característica da obra de Rohmer tem duas opções: tentar aprender a gostar dos filmes do diretor ou desistir de vez. MINHA NOITE COM ELA (1969) é dos mais verborrágicos de Rohmer. Ele se assemelha um pouco ao meu preferido do diretor, CONTO DE INVERNO (1992), no sentido de que há discussões filosóficas de natureza metafísica e por ter um protagonista que tem um ideal que foge dos racionalismos e é fiel a ele até o fim.

Jean-Louis (Jean-Louis Trintignant) é um católico fervoroso que, durante uma missa, apaixona-se por Françoise (Marie-Christine Barrault), uma bela loira. Ele bota na cabeça que ela seria o seu par ideal: loira, católica e bonita. Ao final da missa, ele tenta abordá-la, mas acaba a perdendo no trânsito. Passa-se um tempo e ele é convidado por Vidal, amigo de infância, a conhecer sua atual namorada, uma mulher atéia e atraente de nome Maud (Françoise Fabian). A relação de Vidal com Maud está fria e, segundo ele, prestes a acabar. Os dois estariam juntos apenas por falta de opção e ele não se incomodaria se o amigo passasse uma noite com ela, discutindo filosofia e religião e quem sabe ter contatos íntimos com ela . Mas Jean-Louis tem seus princípios e resiste à tentação de Maud. E olha que o sujeito tem que ser ou muito forte ou muito idiota para rejeitar sexo de uma mulher tão interessante e sensual quanto ela. Ainda mais naquelas circunstâncias: os dois dormindo debaixo do mesmo cobertor, sendo que ela dorme nua. Por esse e outros motivos, considero Jean-Louis um dos personagens mais irritantes da filmografia de Rohmer. Eu colocaria ele e a protagonista de UM CASAMENTO PERFEITO (1982) num mesmo avião para um lugar bem distante.

Ao lado de O JOELHO DE CLAIRE (1970) e PAULINE NA PRAIA (1983), MINHA NOITE COM ELA é um dos trabalhos mais sensuais de Rohmer, principalmente na famosa seqüência da noite de Jean-Louis com Maud. Tanto é que depois dessa seqüência, o reencontro do protagonista com Françoise, seu ideal de mulher perfeita, não tem o impacto que supostamente deveria ter. Apesar de bonita, Françoise não tem o mesmo sex appeal de Maud. Pelo contrário, ela parece um pouco pudica. Mas talvez seja isso o que há de mais interessante e ao mesmo tempo frustrante no filme: o personagem com quem eu torcia contra o filme inteiro acaba se dando bem. Assim como a jovem aparentemente ingênua que acredita em almas gêmeas de CONTO DE INVERNO, Jean-Louis leva ao extremo a sua moral e a sua fé a fim de conseguir a vida que almeja.

MINHA NOITE COM ELA é o terceiro da série "Seis Contos Morais", completada com os filmes A CARREIRA DE SUZANNE (1963), A PADEIRA DO BAIRRO (1963), A COLECIONADORA (1967), O JOELHO DE CLAIRE e AMOR À TARDE (1972). Todos eles, disponíveis em dvd pela Europa Filmes.

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