terça-feira, janeiro 08, 2008

A DESCONHECIDA (La Sconosciuta / L'Inconnue)



Até imaginava que os filmes de Giuseppe Tornatore não estavam chegando por aqui por problemas de distribuição, mas a verdade é que o cineasta esteve mesmo afastado das telas desde MALENA (2000), um filme que não foi muito bem recebido pela crítica na época. A DESCONHECIDA (2006) é o retorno do diretor depois desse longo hiato, talvez proveniente do fato de que o cinema italiano não anda muito bem das pernas já faz alguns anos. Com esse novo trabalho, Tornatore teve mais sorte. Não é sempre que se vê o melodrama e o suspense unidos com tanta propriedade. E é no seu aspecto de thriller hitchcockiano que o filme se mostra mais vigoroso.

A DESCONHECIDA, depois de um prólogo misterioso, nos apresenta a Irena, uma mulher ucraniana (Kseniya Rappoport), em busca de um emprego numa cidade italiana. Ela tem uma estranha fixação em trabalhar em determinado edifício, chegando a se submeter à má fé do zelador do prédio, que ganha uma boa porcentagem de cada centavo que ela recebe. A intenção de Irena é trabalhar como empregada doméstica de uma família que já conta com uma empregada idosa há muitos anos e que jamais substituiria essa senhora por uma mulher estrangeira e de pouca confiança. O passado de Irena a persegue sempre, seja através de suas memórias, revividas em flashback e nos fornecendo pistas sobre suas origens e intenções, seja na figura de alguém que ela acreditava morto. A família na qual Irena se interessa é formada por um casal e uma filha de cinco anos, a pequena Tea, que rouba a cena sempre que aparece. A mãe da garota é interpretada pela bela Claudia Gerini, que fez a mulher de Pilatos em A PAIXÃO DE CRISTO, de Mel Gibson, e foi a esposa de Sergio Castellito no excepcional NÃO SE MOVA.

Com trilha original do incansável Ennio Morricone, A DESCONHECIDA esteve presente em várias listas de melhores filmes exibidos no Brasil em 2007. E não à toa. O modo como Tornatore nos faz cúmplices dessa mulher misteriosa e sofrida e que é capaz de atos extremos para atingir os seus objetivos é de tirar o chapéu. O que dizer da cena do roubo das chaves e da invasão ao domicílio? E daquela edição no final, com a revelação definitiva dos maus tratos que Irena sofria em sua terra natal? Pena que a fotografia do filme fica muito prejudicada em cópia digital, mas antes ver numa cópia digital do que não ver. Não sei dizer se existem cópias em película circulando pelo país.

P.S.: E o cancelamento do Globo de Ouro, hein? Vai ser uma pena não poder ver os astros do cinema e da televisão em suas mesas e esperando a entrega dos prêmios como acontece todos os anos. Mas, por outro lado, pode ser que essa greve dos roteiristas traga algo de positivo para o cinema mundial, que pode ganhar maior visibilidade caso os filmes americanos saiam prejudicados.

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