
Em NEW YORK, NEW YORK (1977), de Martin Scorsese, tem uma cena em que Robert De Niro faz check in num hotel com o nome de Michael Powell. Essa não era a única homenagem que Scorsese fazia a um de seus diretores preferidos e um dos que mais lhe influenciaram. A própria história de NEW YORK, NEW YORK - pelo que eu li, já que nunca vi esse filme de Scorsese - é inspirada num dos mais famosos filmes de Michael Powell e Emmeric Pressburger: OS SAPATINHOS VERMELHOS (1948).
OS
SAPATINHOS VERMELHOS é um desses filmes obrigatórios para cinéfilos, desses que vez ou outra aparecem em listas de melhores de todos os tempos. Já tinha visto o DVD na locadora há algum tempo, mas não tinha tido coragem de ver porque 1) eu não gosto de filmes de balé e o título brasileiro é meio boiola; e 2) o DVD era da Continental e, com a fama que essa empresa tem, a cópia devia ser uma porcaria. Mas me surpreendi duplamente, já que 1) a cópia do DVD está ótima, copiada da edição especial da Criterion; e 2) o filme é bem mais que uma simples história de balé. Ajudou também o fato de o Renato ter me pedido pra gravar o filme pra ele numa fita. Aí, eu aproveitei pra finalmente conferí-lo.
A primeira coisa que impressiona no filme é a bela fotografia em technicolor. Há um clima de irrealidade bem interessante, pontuado pelos filtros de cores e movimentos de câmera ousados - em certo momento, a câmera rodopia, simulando os giros da bailarina, numa cena que é de deixar a gente tonto.
O filme tem semelhanças com os musicais americanos, mas seria melhor classificado - se assim fosse preciso - como um melodrama. A história principal gira em torno de um triângulo amoroso. Há a moça que quer ser uma grande bailarina e o rapaz que quer ser um grande compositor. Os dois são contratados por um importante e exigente empresário, que cuida de grandes espetáculos de balé. Com o tempo, os dois se tornam cada vez melhores e mais famosos nas suas profissões e se apaixonam um pelo outro, justamente na mesma época em que o empresário também fica apaixonado pela moça.
Esse foi apenas o segundo filme de Michael Powell que eu assisti. O primeiro e - por enquanto meu preferido - foi o thriller A TORTURA DO MEDO (1960). Powell dirigiu sozinho mais de trinta filmes, e em parceria com Pressburger mais de vinte. Ele é considerado um dos maiores cineastas da Inglaterra. No livro Hitchcock / Truffaut, o diretor francês chegou a dizer que acredita haver uma incompatibilidade entre os termos "cinema" e "Grã-Bretanha", dada a pouca expressividade da cinematografia britânica. Truffaut achava que Hithcock era uma exceção, que ele fazia filmes mais parecidos com os filmes americanos. Será que Truffaut não gostava de Michael Powell?