sexta-feira, julho 24, 2020

OS MORTOS NÃO MORREM (The Dead Don't Die)

Que Jim Jarmusch é um cineasta querido em Hollywood desde seu surgimento na década de 1980, disso não resta dúvida. E é interessante que, mesmo trabalhando com orçamentos modestos, ele consegue trazer um time de astros brilhante. No caso de OS MORTOS NÃO MORREM (2019), o cartaz do filme até destaca como chamariz principal essa riqueza no elenco, especialmente para um filme de zumbis. Além de Bill Murray, Adam Driver e Chloë Sevigny, que são os protagonistas, o novo longa ainda conta com Tilda Swinton, Steve Buscemi, Danny Glover, Rosie Perez, Iggy Pop, Sara Driver, RZA, Selena Gomez, Tom Waits, entre outros.

Depois de brincar com o gênero "filme de vampiros" no muito mais sério AMANTES ETERNOS (2013), eis que agora ele usa o registro da comédia para fazer o seu filme de zumbis. Trata-se de uma opção feliz, já que é um subgênero que está um tanto desgastado por ser tão utilizado no cinema, na televisão, na literatura, nos quadrinhos, nos games e em outras fontes. Ou seja, a opção por tratar a situação dos zumbis com ironia e usar até um divertido jogo metalinguístico (só o personagem de Adam Driver percebe que está dentro de um filme; ele sabe até a canção-tema) contribui para tornar OS MORTOS NÃO MORREM uma diversão também para quem percebe as referências.

A primeira metade é melhor resolvida do que a segunda, que é a que traz de maneira mais explícita a invasão dos zumbis. Na primeira parte, há um clima de estranheza que é encantador. Os personagens percebem que já são oito da noite e o sol ainda não se pôs; os noticiários falam de uma mudança no eixo da Terra. Até os animais desaparecem. E os mortos surgem, como zumbis. Mas até aparecerem, o filme brinca muito com a lentidão e a tranquilidade de seus personagens principais, típicos exemplares de caipiras americanos, cada um à sua maneira. Exceto a personagem de Tilda Swinton, que anda com uma espada samurai e é naturalmente muito mais estranha do que todos daquela cidade.

O modo como Jarmusch apresenta seus personagens é outro ponto muito positivo. Assim, vamos conhecendo o ermitão (Tom Waits), o racista (Steve Buscemi), o homem negro tranquilo (Danny Glover), a policial que vomita quando vê sangue (Chloë Sevigny), a turista bonita que chega com uma turma de amigos (Selena Gomez) etc. Então, com a apresentação desses tipos, o jogo está pronto para ser jogado com a invasão dos mortos-vivos, inicialmente de maneira muito discreta.

Uma pena que, uma vez que os zumbis surgem, o diretor não sabe muito bem o que fazer, e toda a linda estranheza poética da primeira parte acaba sendo prejudicada por um filme à deriva. Ainda assim, como se trata de uma comédia, não é preciso levar a sério os dramas dos personagens. Mas, por mais que Jarmusch seja um cineasta que goste de brincar com o humor em sua obra, alguns de seus trabalhos que lidaram com a poesia e com a melancolia, como FLORES PARTIDAS (2005) e PATERSON (2016), fora muito mais bem-sucedidos. Nesse sentido, é preferível, como comédia de zumbis, ZUMBILÂNDIA - ATIRE DUAS VEZES, de Ruben Fleischer, que também conta com Murray e é muito mais divertido. Mas, claro: são propostas distintas.

+ TRÊS FILMES

RELIC

Um estudo da decadência do corpo e da mente humanas, da solidão e dos laços familiares. Isso tudo em um registro de terror. A estreante em longas-metragens Natalie Erika James consegue fugir da vulgaridade dos clichês do gênero, na maior parte do tempo, embora não consiga se livrar totalmente das influências do horror recente. O resultado, se não é excelente, traz sensações estranhas bem-vindas, como o momento em que a personagem de Robyn Nevin se perde literalmente dentro da casa. E tem a casa antiga, como um elemento acumulado das mais diversas energias. Principalmente de natureza mais pesada. Questões como a da maternidade também vêm à tona fortemente e é bom ver esse tipo de filme, com um elenco principal todo composto por mulheres. Só senti falta de momentos realmente apavorantes. Quanto a isso, achei o filme um tanto frio. Direção: Natalie Erika James. Ano: 2020.

VIDA (Life)

Embora não seja ruim, este VIDA acaba não passando de uma versão frouxa e sem graça de ALIEN, O 8º PASSAGEIRO (1979). Nem há a intenção de esconder a inspiração, mas nem é esse o problema. Quando o bichinho começa a atacar, o filme cresce, mas o diretor parece que não consegue manter o interesse depois de um tempo. Ao menos é um filme que parece saber rir de si mesmo. Ou não. Direção: Daniel Espinosa. Ano: 2017.

SETE MINUTOS DEPOIS DA MEIA-NOITE (A Monster Calls)

Este me deu sono. Eu já sou chato com filmes de fantasia, então, o grau de melodrama que ele traz não foi o suficiente para me emocionar. Ao contrário, fiquei bastante incomodado. Sem falar que as lições de moral do monstro são muito mastigadas. O menino não aprende por si mesmo. Achei interessante a primeira história do monstro. Mas só como narrativa e como desconstrutor de modelos de contos de fadas. Depois o filme fica bem frágil. Direção: J.A. Bayona. Ano: 2016.

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