sábado, fevereiro 25, 2006

FLORES PARTIDAS (Broken Flowers)



"Carnaval, carnaval... Eu fico triste quando chega o carnaval." Que triste que nada. Não sou de ficar pulando carnaval, mas este não deixa de ser o melhor feriado do ano. Ao menos no que se refere à quantidade de dias de folga. Não viajei, mas não estou achando ruim ficar em casa, alugar uns vídeos, ir ao cinema, botar a leitura em dia (tantos livros, quadrinhos e revistas pra ler), ouvir música, conversar com minha família, contatar quem não foi atrás de folia nas praias.

Hoje fui conferir FLORES PARTIDAS (2005), de Jim Jarmusch, que demorou um pouco pra chegar aqui, mas que acabou chegando de maneira bastante discreta. O filme já começa muito bem ao som da belíssima canção "There is an end", do Greenhornes, enquanto os créditos nos prometem beldades de ontem e de hoje como Julie Delpy, Chloë Sevigny, Sharon Stone e Jessica Lange. Bill Murray, pra variar, aparece com aquela cara de tédio, de desânimo. Aliás, não sei se ele tem outra cara. De todo modo, ele ficou perfeito no papel de um "Don Juan" aposentado e decadente - no filme, seu nome é Don Johnston. O cara já namorou um monte de gatas no passado e hoje fica em casa vendo tv, com uma expressão apática no rosto. Sua atual namorada (Julie Delpy, linda) o está deixando. Pra completar, ele recebe uma carta de uma remetente misteriosa que diz ser uma de suas amantes do passado. A carta diz que ele tem um filho. Com a ajuda do vizinho (Jeffrey Wright), Don parte em busca da mãe de seu filho, numa lista de quatro prováveis mulheres.

A expressão anestesiada de Murray faz um contraponto bastante interessante ao gênero road movie, que geralmente é regido pela ansiedade, pela excitação diante do desconhecido. A maioria dos road movies têm pressa de chegar no destino, de conhecer o futuro. FLORES PARTIDAS, nem tanto. Tem uma ótima crítica sobre o filme, escrita por Fabiano de Souza, que saiu na revista Teorema nº 8, em que ele cita as seqüências em que Murray aparece dirigindo o carro; a câmera focaliza tanto a estrada, quanto o retrovisor. Essas cenas representariam o passado, o presente e o futuro, todos juntos num único plano. Achei bem interessante essa observação.

Voltando ao que eu dizia, FLORES PARTIDAS é um filme paradoxal. Enquanto apresenta uma trama no mínimo bastante curiosa - todo mundo quer saber quem é a mãe do filho de Don -, o personagem pouco encontra razão para celebrar a viagem, metáfora da vida. Seu olhar é de quase indiferença. Mas também pode ser de tristeza por já ter se transformado num coroa que não mais chama a atenção das meninas, como na cena do ônibus, quando as meninas falam de um rapaz bonito que está na parte de trás do ônibus. Don é completamente ignorado por elas. Se bem que pode ser de cansaço também. Ele pode ter se identificado um pouco com o rapaz do ônibus. Ele pode ter se lembrado de seu passado.

Das belas coadjuvantes que abrilhantam o filme, destaco Chloë Sevigny (sou doido por essa menina), que aparece toda insinuante, abusando do fetiche da secretária que usa mini-saia. Mas a Sharon Stone continua batendo um bolão, hein. Estou ansioso pra vê-la na seqüência de INSTINTO SELVAGEM, por mais picareta e apelativo que seja.

Na hora que FLORES PARTIDAS estava terminando, naquela cena do travelling circular em Murray, duas meninas estavam conversando um pouco alto e me incomodaram. Acabei virando o rosto justo no momento em que o filme terminou. Senti um pouco de raiva nessa hora. Quando saí do cinema, olhei pra trás e vi as duas saindo de mãos dadas, como duas namoradas. Nessa hora a raiva foi substituída por uma espécie de excitação. A figura de duas mulheres juntas é sempre provocante para os homens. Como não podia fazer nada, voltei pra casa meio anestesiado, como o Bill Murray no começo do filme.

P.S.: Já que citei a Teorema, aproveito pra dizer que também li a crítica de A MENINA SANTA, escrita por Eduardo Santos Mendes e Ivonette Pinto, recomendada pelo Milton. Excelente. Gostei da observação que eles fizeram sobre o filme acontecer "deitado".

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