quinta-feira, agosto 14, 2014

AMANTES ETERNOS (Only Lovers Left Alive)



A situação não está nada fácil para os cineastas americanos que insistem em fazer cinema de autor, mesmo com orçamentos baixos. É o caso de Jim Jarmusch, cujo filme anterior havia sido OS LIMITES DO CONTROLE (2009), que passou em branco no circuito e que pouca gente conhece. Aliás, esta tem sido uma realidade dos trabalhos do cineasta, que na década de 1980 dirigiu um dos filmes mais louvados e representativos de seu tempo, ESTRANHOS NO PARAÍSO (1984). AMANTES ETERNOS (2013), seu mais recente trabalho, além de ter custado apenas 7 milhões de dólares, mesmo tendo um elenco de famosos, não recebeu ajuda americana. Trata-se de uma coprodução Reino Unido/Alemanha/Grécia.

O filme dá continuidade à saga de heróis solitários, com crises existenciais e depressivos, como é o caso de FLORES PARTIDAS (2005). Aqui, porém, ao invés de um homem comum que não encontra mais sentido para a vida até receber uma notícia que o fará sair da inércia, temos o caso de Adam, um vampiro cansado da vida de séculos e séculos de tédio, interpretado por Tom Hiddleston, mais conhecido pelo papel do vilão Loki nos dois filmes de Thor e no filme dos Vingadores.

Aos poucos ficamos sabendo que ele teve contato com o poeta romântico Lord Byron e que é um fã de guitarras de rock, tendo como principal hobby colecionar instrumentos e discos. Sendo o rock um estilo de música também romântico à sua maneira, aliado ao fato de Adam ser uma pessoa saudosista, vide os inúmeros quadros de pessoas célebres em seu apartamento, torna-o susceptível à melancolia. Tanto que chega a encomendar a um fornecedor uma bala de madeira para um revólver calibre 38.

Quem chega para ajudá-lo a levantar o astral é a antiga amiga e amante Eve, interpretada por Tilda Swinton, que incorpora muito bem a figura de uma vampira. Talvez por já ter sido alguém que viveu muitos séculos em ORLANDO – A MULHER IMORTAL. Seu aspecto pálido é mais mórbido do que Hiddleston, que ganha um ar de modernidade com um penteado parecido com o de Robert Smith.

Ao contrário de Adam, Eve aprecia a vida. O fato de poder viver durante muitos anos e poder ler muitos e muitos livros em diversas línguas não deixa de ser uma dádiva, por mais que haja também entre eles uma maldição, que é ter que depender de sangue humano, um material cada vez mais raro em um futuro em que a maioria das pessoas está contaminada. O filme não entra em detalhes sobre o assunto, mas isso pouco importa. O que mais conta é a atmosfera carregada de melancolia que envolve os dois amantes. Tal atmosfera só sofre uma alteração com a chegada da irmã mais nova de Eve, vivida por Mia Wasikowska, excelente atriz que acaba não sendo bem aproveitada no roteiro.

Embora não esteja entre os melhores trabalhos de Jarmusch, é muito bom ter a chance de ver um trabalho seu nos cinemas novamente. Além do mais, o filme guarda algumas surpresas e brincadeiras para quem é apreciador de literatura e conhece um pouco de boatos envolvendo William Shakespeare e Christopher Marlowe.

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